Apostado na saída de Costa para Bruxelas, Nuno Melo diz que CDS está pronto para regressar à Assembleia da República

José Coelho / Lusa

O novo presidente do CDS-PP, Nuno Melo, durante o 29.º Congresso do partido

Líder centrista prometeu uma oposição capaz e “forte” ao Governo de António Costa.

Nuno Melo acredita que o CDS está preparado para regressar à Assembleia da República e que esse regresso pode acontecer antes do previsto, caso se confirmem os rumores de que António Costa pretende exercer um cargo europeu. No entendimento do novo líder centrista, o primeiro-ministro “tem os olhos no Terreiro do Paço mas está com o coração em Bruxelas“.

O eurodeputado sustentou as suas palavras no discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, que na tomada de posse do novo Governo alertou o Executivo para a importância de cumprir o mandato na totalidade. “A acreditar no Presidente da República, que é alguém com boas fontes, teremos eleições antecipadas. As pessoas votaram PS para lá ter António Costa como primeiro-ministro e isto não é tão fácil como passar a presidência da Câmara de Lisboa de António Costa para Fernando Medina“.

O aviso foi feito na presença de Ana Catarina Mendes, nova ministra ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, que marcou presença no encerramento do congresso em representação do Governo. Governo esse que Nuno Melo criticou por ter “muito partido e pouca dimensão de Estado“, destacando a conjuntura de guerra que se vive na Europa. De seguida, criticou a transferência da pasta das Pescas para a tutela da Agricultura e a gestão dos “milhões do Plano de Recuperação e Resiliência”.

Dando início ao que prometeu ser um CDS capaz de fazer oposição “forte”, Nuno Melo deixou ainda palavras duras para a atuação dos últimos Governos socialistas por promoverem ataques ao “sistema privado de educação” e não apostar na “complementaridade” da oferta social ao Serviço Nacional de Saúde.

Sobre o atual momento, o novo líder do CDS destacou a urgência de o Governo agir sobre a inflação e o preço dos combustíveis. No que respeita à subida galopante dos preços, Melo anunciou que irá convocar a realização de uma conferência de um dos seus grupos programáticos para debater o assunto e, posteriormente, apresentar propostas ao Governo.

Já sobre os combustíveis, o eurodeputado defende a diminuição do ISP sobre os combustíveis na medida proporcional ao IVA, de forma a que, mais tarde, pudesse ser compensada quando Bruxelas aceitasse baixar a taxa do IVA. Quanto ao Autovoucher, a medida criada pelo Governo para fazer face ao aumento dos combustíveis, Nuno Melo classificou-a como “uma anedota“.

Na sua intervenção, o novo líder fez ainda questão de clarificar o posicionamento político do CDS para justificar a importância do regresso do partido ao Parlamento. “Quando a IL se quer sentar à esquerda do PSD”, o PSD está “ao centro” e “basicamente o Chega se quer sentar à direta do regime”, existe “todo um espaço deste humanismo personalista entre o PSD e o Chega que faz nisso um buraco doutrinário que não está na Assembleia da República”.

“Somos nós e queremos lá voltar“, sublinhou, dizendo sentir “angústia” pela perda de representação parlamentar porque “não é justo”, e que o CDS não se pode conformar “com o facto de a “parcela da sociedade” que representa “não tenha hoje uma voz” no parlamento. Salientou ainda que é necessário “reagir” e “construir” ao invés de “deprimir”, pedindo aos militantes que acreditem.

Nuno Melo dedicou ainda algumas palavras ao “povo extraordinário da Ucrânia” que “todos os dias dá exemplos impressionantes na luta pela democracia e pela liberdade”. No recinto do Multiusos de Guimarães esteve a embaixadora do país, aplaudida pelos congressistas. Este foi o mote para o eurodeputado defender a necessidade do reforço da defesa europeia e do “vínculo defensivo” com os EUA.