Rússia num ponto de não retorno? Exército estará a cremar soldados para esconder mortes na Ucrânia

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Há famílias russas em choque por descobrirem, através de vídeos publicados pelas autoridades ucranianas, que soldados seus familiares estão a lutar na Ucrânia. Com a economia russa a soçobrar, um político opositor de Putin anuncia que o exército russo tem “crematórios móveis” para esconder a morte de soldados.

A guerra na Ucrânia também é uma guerra de contra-informação e de propaganda. A Rússia tem-se empenhado em esconder o máximo de informação possível dos seus cidadãos.

Alguns soldados não saberiam, inclusive, que iam combater na Ucrânia. Além disso, as suas famílias também não terão conhecimento de que os seus entes queridos estão nos combates no país vizinho.

Este dado é confirmado ao jornal britânico The Guardian por familiares de soldados russos que reconheceram os seus entes queridos em vídeos e fotos divulgados pela Ucrânia, com os homens que terão sido capturados no âmbito da invasão do país.

O ministro do Interior da Ucrânia criou o site 200rf.com para ajudar as famílias russas a encontrarem os seus familiares feridos ou mortos nos combates.

Além disso, lançou também uma linha telefónica de emergência e um canal no Telegram denominado “Find Your Own” [algo como “Encontre os seus”].

No site e no canal da app de mensagens, a Ucrânia tem partilhado imagens de soldados russos, dos seus documentos e dos cadáveres dos que terão morrido nos confrontos, bem como vídeos onde se dirigem aos seus familiares.

O nome do site reporta para o termo “Cargo-200” que foi usado pelos militares soviéticos para recuperar os cadáveres dos que morreram na guerra no Afeganistão, na década de 1980, e que foi particularmente trágica para a então União Soviética.

Os soviéticos lutaram durante 10 anos no Afeganistão, saindo derrotados pelos mujahidin que tinham o apoio dos EUA.

É, portanto, uma provocação aos russos e também faz parte de uma estratégia que passa por lançar mais pressão sobre a Rússia. A mensagem para as famílias russas é que podem “procurar os seus entes queridos que Putin mandou lutar” no país vizinho, conforme palavras do ministro do Interior ucraniano.

Assim, é também uma forma de atiçar os russos contra Putin que é apontado como o único e grande culpado por esta guerra pela Ucrânia e por boa parte da comunidade internacional.

Jovens soldados “como carne para canhão”

Nestes vídeos divulgados pelos ucranianos, algumas famílias russas têm sido surpreendidas com a descoberta familiares.

“Fiquei completamente chocada. Não sabia que ele estava a combater lá“, conta ao The Guardian Yelena Polivtseva, irmã de um soldado russo que terá sido capturado pelos ucranianos.

“Sabia que o Leonid estava no exército, mas não tinha ideia de que tinha sido enviado para a Ucrânia. Não penso que ele estivesse ciente disso também“, aponta ainda Yelena.

Esta russa recusa-se a criticar a invasão em si, mas está certa de que “ninguém precisa disto, nem a Ucrânia, nem a Rússia”, e apela a que se chegue a “um acordo por meios pacíficos para que os nossos filhos, irmãos e maridos não morram”.

Mas, sob a capa do anonimato, recusando dar a sua identidade, há quem lamente que “os jovens estão a ser lançados como carne para canhão”, sem entender as justificações para esta guerra, mas insinuando que serve para pagar os “palácios” de Putin.

“Não há guerra. Não há mortes. Não há túmulos”

A Rússia tem em marcha uma campanha de propaganda para controlar o que é noticiado sobre a guerra – os media, por exemplo, estão proibidos de usar o termo “invasão”.

Oficialmente, o Governo de Putin fala de “uma operação especial” para manter “a paz” e a segurança das regiões ucranianas separatistas e pró-russas.

O Kremlin também tem omitido dados sobre as suas baixas na Ucrânia e sobre eventuais soldados capturados.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou que terão morrido, em seis dias de guerra, cerca de 6000 soldados russos. Mas esse dado não está confirmado.

O político russo Lev Shlosberg, elemento do partido Yabloko da oposição a Putin, já denunciou que o exército russo usa “crematórios móveis” para destruir quaisquer evidências de mortos russos na Ucrânia

Não há guerra. Não há mortes. Não há túmulos. As pessoas, simplesmente, não vão ser mais. Para sempre”, escreveu no seu blogue, como cita o The Moscow Times, meio de informação independente.

“Mesmo que a paz seja alcançada, o dano está feito”

No meio disto tudo, os efeitos das sanções económicas já se começam a sentir na Rússia e as pessoas estão a ficar desesperadas com a desvalorização do rublo. Nos últimos dias, tem havido uma corrida aos multibancos para tentar levantar dinheiro enquanto não desvaloriza ainda mais.

É “uma crise que nunca experimentamos antes”, confessa ao The Guardian o executivo de uma empresa de publicidade que vai deixar a Rússia, para se instalar na Arménia, deixando 100 trabalhadores no desemprego.

“É como voar num avião sem motores ou com os motores a arder”, lamenta.

Esta empresa tinha contratos com multinacionais como a Pepsi e a Volkswagen e tinha atingido, em Janeiro deste ano, um recorde de lucros, mas sofreu uma queda abrupta com a retirada das marcas do mercado russo, aponta o jornal britânico.

E, nesta altura, acumulam-se os receios e as dúvidas sobre o que virá a seguir.

Não temos a mínima ideia do que [Putin] vai fazer a seguir. Ninguém na comunidade empresarial tem a menor ideia. Toda a gente está tão deprimida”, lamenta ao The Guardian outro empresário da área alimentar.

Já não vejo luz ao fundo do túnel. Mesmo que a paz seja alcançada, o dano está feito. Como reverter isto?”, questiona ainda este empresário.

“Já não somos membros da comunidade internacional”

Também os oligarcas russos, alguns bem próximos de Putin, começam a dar sinais de desconforto, nomeadamente com medidas internas como o aumento das taxas de juros, a venda obrigatória de moeda estrangeira e a proibição de transferência de dinheiro para o estrangeiro.

Roman Abramovich, o milionário russo dono do Chelsea que é muito próximo de Putin, já está directamente envolvido nas negociações de paz.

Um porta-voza de Abramovich confirmou que o magnata “foi contactado pelo lado ucraniano para apoiar uma possível resolução pacífica, e que tem tentado ajudar desde então”.

Contudo, o que parece evidente a muitos homens de negócio russos é que se chegou a um ponto de não retorno.

“Deixamos o comunismo há 30 anos, acostumamo-nos a ter muitos confortos que também se veem no Ocidente. Todo esse progresso pode desaparecer. Já não somos membros da comunidade internacional”, queixa-se, também em declarações ao The Guardian, um empresário que detém restaurantes e empresas de turismo.

Susana Valente, ZAP //

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6 Comments

  1. Não são membros da comunidade internacional nem nunca mais deverão ser pelo menos enquanto putin estiver no poder!
    Agora virem-se contra o putin!!!

  2. A campanha de mentiras nunca para. Na Ucrânia só há soldados russos profissionais e as perdas russas são – segundo agora divulgado – de 498 mortos. A ideia de cremar os corpos para esconder as baixas, só pode vir de um cretino. Bem sei que se não pode controlar tudo, mas há coisas que não deveriam ser publicadas sem um mínimo de controlo.

    • E o Senhor acredita nessas fontes, certo? As mesmas que ainda não há duas semanas garantiam que a concentração de tropas não tinha por objectivo invadir a Ucrânia e que até anunciaram uma retirada… As mesmas fontes credíveis que garantem que áreas residenciais não estão a ser atingidas! As mesmas fontes que juram não haver guerra, mas apenas uma operação muito limitada. As mesmas fontes, finalmente, que prendem crianças e respectivos pais! Não sei como o Senhor não tem assento no Parlamento Europeu, em representação dos comunistas portugueses…
      Mas se o ocidente é tão mau, porque não emigra para a Rússia de Putin?

    • Sem dúvida que pensar que a cremação tem um efeito amnésico nos familiares e amigos dos soldados mortos é estupidez. Tal como acreditar nos 5000 russos mortos. Acreditar nos dados divulgados pelos russos é pior. Não só é o mesmo grau de “inteligência” (na guerra todos mentem) como é acreditar no lado que é o agressor, que não é uma democracia, que ameaça com uso de armas nucleares e que está a matar civis.
      Depois, mesmo que sejam 498 mortos tal significa que, em 6 dias, a Rússia perdeu mais soldados do que nos primeiros 6 meses no Afeganistão.
      A verdade andará algures no meio.
      “Na Ucrânia só há soldados russos profissionais” é outro disparate. Facilmente comprovado, embora a maioria das tropas terrestres sejam (desde 2014) compostas por “contratados” mais de 30% ainda são “recrutados”. Do enorme “mix” de tropas usadas (que temos conhecimento) há de tudo; tropas “profissionais” e bem treinadas (como as unidades de “guarda”, como a 76.ª Divisão de Guarda Aerotransportada), “profissionais” com treino de “policiamento” (unidades da Guarda Nacional), contratados acabados de sair do “treino básico”, milícias (quer locais, quer techechens). Basta ver fotos e vídeos dos “profissinais” russos para perceber que muito são miúdos assustados.
      Os Russos, pelo disposto, achariam que, em muito locais, iriam ser recebidos com flores. Por exemplo, só ontem é que recorreram a unidades de elite em Karkhiv (que é uma cidade russófona, pertinho da fronteira, e que ainda resiste). Em termos de forças blindadas ainda não vi um T90M (ou MS), devem estar a poupar para os vender à Índia. Vi um par de T90A (a arder) e, na maioria, blindados do século passado (T72 e T80).
      Onde estão os regimentos blindados mais poderosos?! Provavelmente…estariam a ser armados com T14 Armatas (nem um será usado, há poucos e são preciosos nas feiras internacionais). E os SU-57 da Aviação? Zero!
      Estamos a ver o real poder do exército russo, a fugir de confronto directo, preferindo massacrar civis com foguetes e misseis à distância. Demorando 4 dias para avançar 15 km (no famoso comboio de 65 km de comprimento). “Profissional” é uma palavra polissémica, mas os russos tem demonstrado serem bem amadores. Com a vantagem teórica que tem, porventura atingirão os seus objectivos estratégicos, mas ficarão com saudades de Grozny!

      • Já pensou que a nata do poderio militar russo pode estar de reserva para atacar a Europa aquando do momento certo. Tenho notado uma timidez demasiado grande no ataque à Ucrânia e uma tentativa quase constante de provocação e ameaça para com os países da NATO e CE em geral. Ele apenas pretende que lhe forneçam um motivo para declarar guerra ao ocidente(É a minha sincera opinião, mas espero de todo o coração estar errado). Putin parece estar demasiado seguro da posição que ocupa e infelizmente é demasiado fechado a demonstrar as cartas que detêm e a estratégia que pretende seguir. Apenas um golpe de traição no seu circulo de colaboradores o pode travar, ou quem sabe uma partida da idade que o desprezível já tem, seria um ataque de coração abençoado.

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