“Jorge Moreira da Silva é quem tem o pensamento político mais consolidado”, diz Capucho

PSD / Flickr

O social-democrata considera que Jorge Moreira da Silva é da ala esquerda do PSD, que é a sua, mas admite que Luís Montenegro tenha mais apoio nas bases.

A chave estará nos “passistas”. Para Capucho, “não é mentira nenhuma” que Montenegro tenha dado a vitória a Rui Rio nas recentes diretas.

António Capucho acha que a “linha vermelha” de Rui Rio em relação ao Chega “não funcionou de forma muito visível” nas legislativas, nem ficou clara para o eleitorado.

O histórico do PSD olha para o que se está a passar hoje “com alguma preocupação, mas com a esperança de que as coisas se resolvam com a eleição de uma nova liderança e a aprovação de uma nova estratégia antes do verão“.

Em entrevista ao Público, António Capucho explicou que acredita que o partido pode iniciar “uma nova caminhada refrescado, depois do dr. Rui Rio ter apresentado a sua vontade de se afastar”.

Há menos de um ano, aconselhava o PSD “a fazer uma oposição mais acutilante”.  Quando questionado se foi a falta disso que ditou a derrota, Capucho considera que “é um fator, mas muito secundário”.

“Foi essa a perceção da opinião pública. Mas não foi isso que conduziu ao resultado eleitoral. Foi uma coisa completamente diferente. Houve as sondagens a indiciar um empate técnico entre os dois grandes partidos“, acrescenta.

Segundo o social-democrata, “à esquerda penalizou-se o PCP e o BE por terem deitado abaixo o Governo e o eleitorado de esquerda assustou-se com a possibilidade do dr. Rui Rio sair vitorioso e haver uma maioria de direita no Parlamento”.

Os portugueses não perceberam que Rui Rio nunca faria uma aliança parlamentar com o Chega “por duas razões: porque essa linha vermelha não funcionou de uma forma muito visível. Pelo contrário, não funcionou nos Açores”.

“E o dr. Rui Rio, que teve participações nos debates eleitorais muito positivas, nomeadamente contra o dr. António Costa, neste aspeto do Chega não foi suficientemente claro para o eleitorado. E a prova disso é que o eleitorado de esquerda teve medo que houvesse não apenas um entendimento com o Chega mas que houvesse uma maioria de direita. E pôs-se todo nos braços do Partido Socialista”, explica Capucho.

O social-democrata “tem pena” que o próximo líder do PSD “não possa ser um deputado. A oposição ao Governo socialista vai ter como palco principal a Assembleia da República e seria muito desejável que fosse um deputado. E há lá deputados muito bem preparados para isso como o André Coelho Lima e outros”.

André Coelho Lima estava próximo de Rui Rio e isso não lhe é favorável. Agora, que ele tem mérito absoluto para ser líder, não tenho a mínima dúvida”, sublinha. “Está preparadíssimo. Mas tenho a informação de que não há nenhum deputado disponível para se candidatar. Fora daí, sou manifestamente contra a candidatura de autarcas”.

Relativamente a Ribau Esteves, que já anunciou a pré-candidatura, “o presidente da Câmara de Lisboa tem mérito para exercer a liderança – e provavelmente vai ter a oportunidade de a disputar mais tarde – agora deve completar o mandato”.

“Repare que o presidente da Câmara de Cascais, dr. Carlos Carreiras, que está de braço dado com Miguel Pinto Luz, avançou com a hipótese surrealista do dr. Marques Mendes, que já o mandou passear, como é óbvio”, realça Capucho.

Jorge Moreira da Silva “é o que tem o pensamento político, que eu conheça, mais consolidado e com o qual eu mais me identifico. Está na ala mais à esquerda dentro do partido, é um social-democrata de raiz, já pôs uma linha vermelha, claríssima, radical, em relação a qualquer contacto com o Chega”, conta.

“Não faço a mínima ideia se está para aí virado. Já esteve. E há o dr. Montenegro que já disputou a liderança, tem uma experiência política bastante alargada, nomeadamente como líder parlamentar onde teve uma prestação bastante positiva ao lado do dr. Pedro Passos Coelho. Diz-se que quer avançar e tem toda a legitimidade para avançar”, acrescenta ainda.

Capucho revela que conhece “bem o pensamento político de Jorge Moreira da Silva”, mas depois verá “o que o dr. Montenegro apresentará como estratégia”.

“O dr. Montenegro tem uma vantagem que é estar muito próximo das bases do partido. Está cá, enquanto o outro está em Paris”.

Vamos ver como é o comportamento dos ‘passistas’, se apresentam um candidato ou não. Se o dr. Miguel Pinto Luz não avança. Eles não estavam muito felizes com o dr. Montenegro, tendo insinuado inclusive que ele tinha contribuído para a vitória do dr. Rui Rio. O que não é completamente mentira, mas enfim. Vários apoiantes do dr. Montenegro foram eleitos deputados”, conclui António Capucho.

ZAP //

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