Bloco de Esquerda e Chega: as diferenças entre as campanhas eleitorais

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José Sena Goulão / Lusa

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins

Da segurança privada ao cumprimento das medidas sanitárias, são várias as diferenças na primeira semana de campanha eleitoral dos dois partidos.

André Ventura chega à campanha num Mercedes preto de alta cilindrada, com dois seguranças musculados a cobrir as portas e a verificar rapidamente o local.

Segundo o Público, na Praça Martim Moniz, em Lisboa, Catarina Martins chega pelo próprio pé. Antes de começar a ação de campanha, aproveita para tomar um café e dialogar com as pessoas.

O Bloco de Esquerda e o Chega, são as duas forças que lutam pela terceira posição nestas eleições legislativas.

Da organização à estratégia comunicacional, notaram-se grandes diferenças entre os dois partidos, na primeira metade de campanha eleitoral.

A organização

Do lado dos bloquistas, a campanha eleitoral está organizada por temáticas. No dia em que se discutiu a importância dos serviços públicos, as principais figuras do BE visitaram uma escola e uma Unidade de Saúde Familiar, aproveitando para ouvir as queixas dos profissionais de ambos os locais.

Catarina Martins incorporou as interações nos discursos diários, fazendo pontes com as medidas defendidas pelo BE no plano eleitoral.

Do lado do Chega, a campanha desta semana seguiu sempre o mesmo registo. Ao início de tarde, o partido de André Ventura realizava uma arruada e, ao final do dia, os militantes juntavam-se em jantares comício.

Ao contrário do BE, ainda não se realizaram visitas a escolas, hospitais ou outros locais. André Ventura costuma percorrer as ruas dos centro das cidades que visita, falando apenas com pequenos comerciantes e apoiantes.

Os temas

Os discursos de André Ventura seguem sempre a mesma matriz: protestos contra o preço dos combustíveis, indignação contra a “subsidiodependência” – de que admitiu não possuir quaisquer dados –, a revolta contra a corrupção e a necessidade de reduzir o IVA no sector da restauração.

As intervenções são repetitivas e falam das principais “bandeiras” defendidas pelo partido populista.

Por sua vez, Catarina Martins altera a estrutura dos discursos diariamente. Embora mantendo algumas peças fundamentais, a narrativa da bloquista não se torna repetitiva.

Entre ataques à direita e incentivos à negociação com o PS, a bloquista consegue fugir à repetição nas intervenções.

A covid-19

O BE escolheu não realizar os tradicionais almoços e jantares que marcavam as campanhas antes da pandemia.

Essa não foi sequer uma hipótese pensada pelo partido, que, para preencher o período noturno, conta com comícios e discursos.

Ao contrário do que acontece com o Chega, o uso de máscara é rigoroso, bem como a política de contactos.

Catarina Martins usa sempre o cumprimento com o punho fechado, o mais seguro para evitar a propagação do vírus, para saudar os apoiantes.

Nas raras vezes em que está sem máscara durante as arruadas – sempre ao ar livre – tenta manter o distanciamento social.

Apesar dos recordes no número de infeções diárias por covid-19 em Portugal, o Chega manteve-se intransigível e realizou como planeado os jantares-comícios que reúnem, praticamente todos os dias, centenas de apoiantes.

O partido de André Ventura é o único com este tipo de eventos, mas, até agora, não foram comunicados casos ou surtos resultantes destas reuniões.

No primeiro dia oficial de campanha, o Público questionou André Ventura sobre a pertinência destes jantares durante uma nova vaga do vírus da variante Ómicron.

O candidato limitou-se a dizer que os eventos cumpriam as normas definidas pela Direção-Geral da Saúde.

Nos 14 dias da campanha, apenas em dois não foram realizados jantares com os militantes do partido.

Em alguns destes eventos, o uso da máscara é relaxado, com várias pessoas a circularem pelos espaços sem este equipamento de proteção individual.

Vários membros da direção adotam uma postura de total desrespeito por estas normas sanitárias. No mais recente jantar, realizado este sábado no Porto, centenas de apoiantes permaneceram sem máscara do início ao fim do jantar.

Nas arruadas, o uso de máscara é mais comum, mas nem todas as pessoas cumprem essa norma, bem como no que toca a contactos sociais.

É comum para André Ventura distribuir cumprimentos de mão e beijinhos pelos apoiantes que encontra pela rua. O candidato nunca usa máscara nestas iniciativas.

As sondagens

Este é outro dos pontos que separa a campanha do Chega e do BE. Para Catarina Martins, “há sondagens para todos os gostos“, com a bloquista a evitar falar destes indicadores e preferindo destacar “o número recorde de indecisos”.

Desde o início da campanha, os bloquistas têm “perdido gás”, ficando atrás do Chega nas previsões, com a terceira posição no Parlamento política em risco.

Com as sondagens a mostrarem o Chega numa trajetória ascendente nas últimas semanas, André Ventura usa estes indicadores junto dos apoiantes praticamente todas as noites.

Servindo como base para exigências a outros partidos de direita, com especial ênfase para o PSD, o líder do Chega reforça a ideia de que o partido criado em 2019 pode mesmo chegar a terceira força política.

A segurança

O aparato e espetáculo proporcionado pelo Chega nas iniciativas de rua são inigualáveis. Apesar de se queixar do preço dos combustíveis, André Ventura alugou um camião TIR para percorrer as estradas do país e, com fortes colunas sonoras, espalhar as ideias do Chega e os melhores momentos do candidato durante os debates com os restantes líderes.

A juntar a isto, André Ventura viaja com uma comitiva composta por três seguranças privados. Ninguém se aproxima do candidato sem autorização, com constantes monitorizações de segurança e todo o trajeto planeado.

No lado do BE, a campanha move-se de forma mais natural. Catarina Martins fala livremente com as pessoas, sem qualquer impedimento ou restrição no movimento.

Os bloquistas viajam com uma comitiva pequena, sem qualquer segurança pessoal e numa viatura descaracterizada.

ZAP //

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1 Comment

  1. Isto é um artigo de opinião? Claramente de quem é de extrema esquerda…
    Não sabia que o Chega mudou de nome para “partido populista”…
    Onde está a isenção jornalística?

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