Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto desvendaram um método que, ao travar a comunicação entre células estaminais cancerígenas e outras células do tumor, impede a progressão do cancro do pâncreas.
Em comunicado, o instituto da Universidade do Porto revela hoje que o estudo, publicado na revista Gut, desvenda novas possibilidades terapêuticas para o tratamento do cancro do pâncreas.
A equipa de investigadores, liderada por Sónia Melo, descobriu que em tumores pancreáticos as células estaminais cancerígenas comunicam com as outras células do tumor, “dando-lhes ordens para que o tumor cresça e resista à quimioterapia”.
“Apesar de serem em muito menos número, são as células estaminais as que mais comunicam com as outras células. São elas, aliás, que comandam e transmitem as diretrizes para o tumor poder sobreviver”, esclarecem os investigadores.
Em Portugal, surgem anualmente cerca de 1.800 casos de cancro do pâncreas e as estimativas apontam para que este tipo de cancro, silencioso e geralmente detetado em estadios avançados, seja a segunda causa de morte por cancro.
Os tumores pancreáticos são compostos por diferentes populações de células que comunicam entre si através da secreção de vesículas extracelulares.
Os investigadores debruçaram-se sobre essa comunicação e verificaram que no interior das vesículas extracelulares existe uma proteína, designada ‘Agrin’, que, “quando enviada às outras células, impulsiona o tumor a crescer e a vencer as adversidades, nomeadamente, a quimioterapia”.
O estudo demonstra por isso que, impedindo esta comunicação entre células, “o tumor não cresce”.
“Percebemos que quando cortamos essa comunicação entre as células estaminais cancerígenas e as outras células cancerígenas impedimos o crescimento do tumor”, afirma, citada no comunicado, a investigadora Sónia Melo.
Os investigadores chegaram a esta conclusão recorrendo a amostras de tumores pancreáticos de doentes do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, que posteriormente, foram introduzidas em ratinhos. Com recurso a moléculas que inibem a comunicação entre células conseguiram “travar a progressão do tumor”.
“Utilizamos anticorpos para bloquear a proteína Agrin e verificamos igualmente uma desaceleração no crescimento do tumor”, acrescenta a investigadora.
Os resultados do estudo indicam dois caminhos na investigação: a “utilização de drogas para impedir a comunicação entre células cancerígenas” e “anticorpos para bloquear a proteína Agrin”.
Os dois métodos “apresentam potencial como soluções terapêuticas a aplicar pelos clínicos aos doentes com cancro do pâncreas com o objetivo de travar a progressão do tumor e minimizar a resistência terapêutica”, afirma Sónia Melo.
Em colaboração com os hospitais da Luz e Beatriz Ângelo, os investigadores analisaram o sangue de doentes com cancro pancreático, tendo verificado que os que apresentam maior número de vesículas extracelulares positivas para a proteína Agrin em circulação no sangue “têm um risco três vezes maior de progressão da doença”, podendo representar “potenciais biomarcadores” para determinar a resposta à terapia e o risco de progressão do tumor.
O trabalho decorreu em parte no âmbito do Porto Comprehensive Cancer Center.
Em 2016, a investigadora viu-se envolvida numa polémica, tendo estado sob suspeita de ter manipulado imagens num artigo científico publicado em 2009 na revista científica Nature Genetics.
Não só Sónia Melo teve de retirar de publicação um artigo científico, como lhe foi retirada uma bolsa de 50 mil euros e foi obrigada a suspender as suas funções no I3S.
Entretanto, a comissão externa independente que analisou o caso ilibou a investigadora de fraude, embora “os erros identificados colidem com a necessidade de rigor científico e revelam negligência”.
ZAP // Lusa