Eritreia é o único país africano que não vacina contra a covid-19 . Mas há outros em que a vacinação ainda nem atingiu 1%

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Jacopo / Wikimedia

Uma rua em Asmara, Eritreia.

Uma rua em Asmara, Eritreia

Na maior parte dos casos, o problema do atraso na vacinação é a falta de doses e meios para imunizar a população africana.

De acordo com o Público, o único país africano que ainda não iniciou a campanha de vacinação contra a covid-19 é a Eritreia.

É um Estado repressivo “que sujeita a sua população a trabalhos forçados e recrutamento militar generalizado, impondo restrições à liberdade de expressão, opinião e religiosa”, na descrição da organização humanitária Human Rights Watch.

Mas há vários outros países do continente em que vacinação não chega sequer a 1% da população, ou vai pouco além disso.

“A Eritreia é o único país que não se juntou à família de 55 Estados-membros da União Africana [UA] que estão a avançar com a vacinação. Mas não desistimos”, afirmou John Nkengasong, diretor do Centro de Controlo e Prevenção das Doenças – África, numa conferência de imprensa em dezembro.

O país não aderiu à iniciativa COVAX, da qual são parceiros a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Aliança Global para as Vacinas (GAVI na sigla em inglês) e a Coligação para a Prontidão Pandémica (CEPI), que têm como objetivo fazer chegar vacinas contra a covid-19 às nações mais pobres.

Muitos países se vêm dependentes de doações diretas de vacinas para lançar as suas campanhas de vacinação contra a covid-19, mas não têm sido canalizadas doações para a Eritreia.

Todo o programa de imunização das Seychelles, o mais pequeno país de África, se baseia em doações diretas de outros países, e isso permitiu-lhe ter 79,58% da sua população vacinada, segundo números da OMS.

Em março de 2021, a União Europeia impôs sanções ao regime do Presidente Isaias Afewerki devido a violações dos direitos humanos, e ao Serviço Nacional de Segurança, que tem funções de recolha de informação, prisões e interrogações.

As Nações Unidas referiram que tropas que atuavam na Eritreia eram suspeitas de cometer atrocidades na região de Tigré, no Norte da Etiópia, palco de um conflito com o Governo central etíope, liderado pelo Nobel da Paz Abiy Ahmed Ali, desde novembro de 2020.

Segundo números do CDC África, apenas 9,11% da população africana está vacinada, o que impede o objetivo mínimo defendido pela OMS, de conseguir vacinar 40% da população mundial contra a covid-19.

O continente é vítima da desigualdade na distribuição das vacinas, que têm sido canalizadas na sua maior parte para os países ricos, e mesmo as que vão chegando têm problemas associados, como estarem no fim da data de validade.

O Ministério da Saúde da Nigéria, que tem apenas 2,17 % da população vacinada com duas doses, teve de destruir mais de um milhão de vacinas doadas por nações de altos rendimentos que chegaram com apenas um mês de prazo de validade.

Estas doações no limite da validade tornam-se problemas em vez de ajudas, porque estes curtos prazos são insuficientes para conseguir planear a distribuição das vacinas e efetivamente fazê-las chegar aos braços das pessoas, em países com uma estrutura médica e logística frágil.

Na maior parte das vezes, as vacinas chegam sem as seringas necessárias para as administrar, uma dificuldade acrescida.

“A maioria das doações tem sido ad-hoc, com pouca antecipação e curto prazo de validade. Isto tem tornado extremamente difícil para os países planear campanhas de vacinação e aumentar a sua capacidade de absorver as vacinas”, lê-se num comunicado do Fundo Africano para a Aquisição de Vacinas e do CDC África.

Pode não parecer grande coisa para quem vive num país em que os serviços de saúde e os congeladores e frigoríficos são um dado adquirido.

Mas, por exemplo no Chade, uma das nações menos desenvolvidas do mundo, em que cerca de um terço do país é deserto do Sara, não é assim. Só 0,6% da população está vacinada, o que não cobre sequer os profissionais de saúde.

No final do ano, começaram a chegar finalmente vacinas da COVAX ao continente africano que faltaram durante a primeira parte do ano, mas os países que as recebem enfrentam fortes constrangimentos para as distribuir.

Vacinas da AstraZeneca com pouco prazo tiveram a validade expirada em 23 países de baixos rendimentos, antes de estes as conseguirem administrar, sublinhou um porta-voz da COVAX ao Wall Street Journal.

Mas, para além da Eritreia, há ainda outros países que mal começaram a campanha de vacinação, devido aos seus líderes.

O Burundi, por exemplo, a segunda nação menos vacinada, recebeu as primeiras 500 mil vacinas doadas pela China em outubro.

O anterior Presidente, Pierre Nkurunziza, que morreu subitamente em junho de 2020, especula-se que de covid-19, desvalorizou a gravidade da pandemia. Dizia que Deus tinha poupado o Burundi.

Na Tanzânia, foi também após a morte do Presidente John Magufuli, em março de 2021, a meio de uma vaga de covid-19, que o país se rendeu à vacinação contra o vírus SARS-CoV-2.

Magufuli dizia que o país tinha vencido a pandemia rezando, e proibiu a testagem e o diagnóstico da covid-19.

Mas a sua sucessora, Samia Suluhu Hassan, aceitou entregas de vacinas da COVAX e fez encomendas da vacina da Janssen sob as condições especiais de pagamento conseguidas pela União Africana.

Abriu também vários centros de testagem e usa máscara quando aparece em público. O país tem agora 2,27% da sua população vacinada.

A República Democrática do Congo é outro exemplo do que pode acontecer quando as dificuldades de fazer chegar vacinas a África se juntam à hesitação dos governantes face à inoculação.

Além de a covid-19 ter sido descrita nos media como “uma doença de brancos” levada para o país por viajantes, segundo o site Africanews, o próprio Presidente, Felix Tshisekedi, expressou dúvidas em relação às vacinas da AstraZeneca que o país recebeu em meados de abril.

“Achei melhor não me vacinar… tenho as minhas dúvidas”, realçou, acrescentando que preferia esperar por outras vacinas.

O país acabou por administrar menos de 260 mil vacinas, com 0,1% da população  imunizada, e tem mais de três milhões de doses de diferentes vacinas com a validade a caducar agora em janeiro, de acordo com o Wall Street Journal.

A atitude do Presidente, que acabou por ser vacinado em setembro, refletiu-se nos seus compatriotas. “Dizem que as vacinas na Europa não são iguais às que há cá”, afirmou Emmanuel, um polícia de 62 anos, citado pelo Africanews.

ZAP //

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