Um barril de novas mutações. Falta de vacinas em África ameaça o mundo

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O mundo está em alerta com a deteção da nova variante Ómicron. Só três em cada 100 pessoas foram totalmente vacinadas contra a covid-19 nos países mais pobres do mundo.

Os dados são da Universidade de Oxford que detalha que, em África, o número de vacinados é de 7%, embora existam países onde praticamente ninguém foi inoculado. É o caso do Burundi (0,0025%), da República Democrática do Congo (0,06%) e do Chade (0,42%).

A situação atual no continente africano é um verdadeiro barril de pólvora para novas mutações. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a população africana é muito jovem, frequentemente assintomática e há no continente uma fraca rastreabilidade, o que faz com que apenas um em cada sete casos seja detetado.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, tem vindo a denunciar os casos de desigualdade na vacinação, assim como os seus potenciais perigos. “São administradas seis vezes mais doses de reforço todos os dias do que as primeiras doses” nos países mais pobres. “Isto é um escândalo que tem de acabar agora.”

Citado pelo El País, o virologista Nicksy Gumede-Moeletsi considera que a propagação descontrolada do vírus é o terreno perfeito para o surgimento de novas variantes “muito preocupantes”, como a Ómicron.

“Enquanto continuarmos a ter uma baixa cobertura vacinal, especialmente em África, proporcionamos uma oportunidade para a propagação de variantes. A África precisa de vacinas“, sublinhou.

Para além do fraco sistema de saúde, grande parte do problema reside no açambarcamento de doses pelos países desenvolvidos.

As grandes potências económicas comprometeram-se a doar cerca de 2 mil milhões de doses através da iniciativa COVAX, mas a realidade não é tão feliz: só uma em cada cinco doses prometidas foi entregue, de acordo com os últimos dados do think tank Council on Foreign Relations.

Perante a ameaça da Ómicron, que apresenta mais de 30 mutações na proteína spike, a virologista Isabel Sola lembra que devem ser tomadas as medidas que já conhecemos para limitar a transmissão do vírus: “máscaras, ventilação, contacto limitado, distanciamento social e vacinação”.

“Para impedir o aparecimento de novas variantes, é essencial limitar as infeções para que o vírus não tenha a oportunidade de se multiplicar e mudar”, explicou a co-diretora de uma vacina experimental contra a covid-19 no Centro Nacional de Biotecnologia, em Madrid.

Tulio de Oliveira, diretor do centro de resposta à epidemia da África do Sul, apelou aos países mais ricos para que não punissem a região sul-africana fechando as fronteiras.

Segundo o especialista, os países que identificam as novas variantes são os que mais investiram em laboratórios, não necessariamente os locais onde as mutações emergem.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já admitiu estar preocupada com esta variante, a quinta a merecer uma designação distintiva (Ómicron).

A B.1.1.529 terá mais de 30 mutações na proteína “spike”, a “chave” que permite ao vírus entrar nas células humanas. No entanto, ainda não se sabe se estas alterações genéticas tornam a variante mais transmissível ou perigosa, a ponto de escapar à proteção conferida pelas vacinas.

À Lusa, o microbiologista João Paulo Gomes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), pede alguma precaução. “Temos de dar tempo ao tempo. É um motivo de preocupação naturalmente, mas não é motivo de alarme total.”

O especialista acrescentou que a nova linhagem está em estudo e salvaguardou que não é por ter a presença simultânea das respetivas mutações relevantes que faz com que seja “mais transmissível ou com associação a falhas vacinais”.

Até agora, não foi identificado nenhum caso em Portugal.

ZAP //

2 Comments

  1. Os donos daquilo tudo (presidentes, filhos, netos, periquitos, cão gato) fogem e roubam à descarada, depois apelam à consciência dos países desenvolvidos…
    Haja paciência

  2. Olá, a reportagem poderia acrescentar a taxa de mortes/100.000 de cada país? Assim poderíamos ter uma comparação mais assertiva entre países vacinados e esses apontados na reportagem.

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