Uma igreja espanhola com mais de 750 anos foi renovada por um “restaurador mascarado”, naquilo que muitas consideram ser um escândalo.
A igreja de Santa María del Castillo, em Castronuño, Espanha, foi construída por volta de 1250. Embora não estivesse nas melhores condições, para um edifício com mais de 750 anos, também não se pode dizer que estivesse assim tão mal.
Em novembro, o autarca local Enrique Seoane reparou em algo altamente perturbador. Alguém pôs cimento num dos arcos da igreja, num trabalho de restauração feito por um amador. Ao que tudo indica, o objetivo era evitar que o flanco leste da igreja caísse, escreve o The New York Times.
O caso rapidamente chegou à imprensa nacional, com Seoane a dizer que o trabalho de renovação tinha sido feito por um “restaurador mascarado”. Se o próprio deve ver-se como um super-herói, a maioria dos espanhóis olha para ele mais como um vilão.
Aliás, não é a primeira vez que vigilantes arregaçam as mangas e fazem restaurações de monumentos pelas suas próprias mãos.
Em 2018, uma escultura espanhola do século XVI que retrata São Jorge, na Igreja de San Miguel de Estella, em Navarra, viu-se envolvida em polémica depois do restauro amador feito por um artesão local. O trabalho levou à perda de quase toda a pigmentação original da escultura com 500 anos.
O episódio faz lembrar o que aconteceu em Espanha no verão de 2012, quando a voluntariosa Cecilia Giménez decidiu restaurar uma pintura Ecce Homo de Elías García Martínez sem avisar a paróquia, naquele que foi considerado o “pior restauro da História”.
Embora muitos conservadores de arte e arquitetura tentem travar estes “benfeitores”, nem sempre têm sido bem-sucedidos.
“A história do ‘Ecce Homo’ continua a repetir-se por todo o país”, disse Miguel Ángel García, porta-voz da Associação do Património da Província de Valladolid, um pequeno consórcio de moradores locais que tenta evitar esse tipo de restauros, em declarações ao jornal norte-americano.
Pelas palavras da escritora de livros infantis Mar Villarroel, se a bênção de Espanha era ter tanta história, então a sua maldição era que tanta coisa corria o risco de ser perdida por negligência.
“O cimento é um escândalo, é feio, sim”, disse Villarroel. “Mas você quer saber o verdadeiro escândalo? É que os responsáveis deixaram a igreja ficar assim”, disse ainda Villarroel.
Um morador local encontrou uma imagem que mostrava o mesmo remendo de cimento sobre a arcada pelo menos já em 1999. Isto significa que a reparação já terá sido feita há mais de 20 anos, tornando mais difícil encontrar o culpado.
Mas,…é importante encontrar o culpado?
Não será preferível efectuar os restauros adequados, fazer um levantamento de outros que possam ser prioritários, onde quer que estejam, e assim evitar que voluntários bem (ou mal) intencionados se sintam motivados a agir?!