Coronavírus: especialistas portugueses ameaçados (mas seria pior nos EUA)

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Filipe Froes / Facebook

Filipe Froes

O pneumologista Filipe Froes.

Médicos e investigadores já receberam ameaças, incluindo avisos às respectivas famílias, após falarem publicamente sobre a COVID-19.

Falar publicamente sobre as origens do coronavírus, das medidas a tomar contra a COVID-19 e das possíveis consequências da pandemia pode trazer problemas às pessoas que falam sobre o assunto. Alguns médicos e investigadores admitiram à CNN Portugal que têm sido ameaçados; e algumas ameaças são sérias.

Filipe Froes, pneumologista, revelou que já foi alvo de ameaças de morte. “Mereces levar uma telega (tareia) à antiga“, ou “Se um dia estiveres por perto vais receber o tratamento que mereces”, ou ainda “Sabes o teu destino, não sabes?” são palavras enviadas ao consultor da Direcção-Geral da Saúde (DGS), sobretudo através das redes sociais – e as ameaças multiplicaram-se quando Froes começou a falar publicamente sobre a vacinação.

O investigador Tiago Correia contou que recebeu avisos, que envolveram também a sua família: “Ameaçaram-me fisicamente, diziam-me que sabiam onde moro e que, como tenho filhos, devia passar a ter cuidado com aquilo que digo“. O investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova já leu outro tipo de mensagens: “Tanto diziam que eu era do Governo, como diziam que era contra o Governo. Ou diziam que eu era da Maçonaria ou da Opus Dei”.

Carmo Gomes, epidemiologista e membro da Comissão Técnica de Vacinação da DGS, também foi um alvo, quando passou a ser um dos peritos a aconselhar o Governo sobre medidas a tomar durante a pandemia: “Recebi muitos emails com ameaças, algumas delas de pessoas que me queriam processar“.

O imunologista Luís Graça, depois de ter falado na televisão sobre a vacinação das crianças dos 5 aos 11 anos, recebeu ameaças e insultos, algumas por mensagens privadas nas redes sociais. Luís Graça também é membro da Comissão Técnica de Vacinação da DGS.

O médico Gustavo Carona é ameaçado e insultado praticamente todos os dias: “Recentemente, só por ter dito que os não-vacinados transmitem mais, adoecem mais e morrem mais, fui comparado aos nazis. E dizem que vou ser julgado, tal como o julgamento de Nuremberga”. A situação mudou realmente para Carona: “Passei de ser médico para ser um personagem publicamente achincalhada”.

E há outro tipo de avisos: queixas apresentadas na Ordem dos Médicos. Foram apresentadas queixas contra o já citado Filipe Froes e contra o médico João Júlio Cerqueira, aparentemente por parte de negacionistas. João Júlio Cerqueira, quando assegurou que o chá quente não mata o vírus: “Desmenti aquilo e o autor da publicação começou a mandar-me mensagens, a perguntar se tinha sapatilhas, dando indicação que eu tinha de correr a fugir dele”.

Desistir?

Filipe Froes não vai deixar de falar sobre o vírus: “Nunca deixei que a ignorância e a ameaça me intimidassem e condicionassem o meu comportamento. No dia em que nos deixarmos intimidar por meia dúzia de indivíduos que se escondem no anonimato das redes sociais, as consequências serão muito piores”.

Tiago Correia também nunca deixou de falar por causa das ameaças mas admitiu que pensa melhor antes de falar publicamente. E nunca opina sem fundamento científico. Mas não vai parar: “Tenho a consciência muito clara de que me estou a expor, mas não abdico do papel que me pedem para assumir”.

Luís Graça sente “desconforto” e “preocupação” sempre que é ameaçado. E os avisos mais sérios até o obrigaram a mudar de rotinas, sobretudo porque os seus familiares também apareceram nas mensagens.

Gustavo Carona já pensou em desistir de aparecer na comunicação social para falar sobre a COVID-19 mas continua a falar porque sente que o deve fazer, por lidar de perto com a situação. E acrescenta que já tomou “precauções” para se sentir mais seguro – no entanto, se vivesse nos Estados Unidos da América, o perigo seria maior: “Provavelmente teria de arranjar segurança privada”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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2 Comments

  1. Temos verdadeira liberdade de expressão em Portugal?

    Porque é que as pessoas que ameaçaram não foram investigadas e a ser confirmado instaurado um processo?

    Também temos um sistema judicial fraco como nos EUA?

    Vergonhoso a não responsabilização do assédio e outros crimes!

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