Os panfletos sobre a pobreza na era da Reforma foram considerados os primeiros esboços de direitos humanos da Europa, com milhões impressos no início do século XVI.
Segundo o InsideHook, a Reforma Protestante foi um período de revolta religiosa e política gerado pela corrupção na igreja católica romana.
Com a dissolução do feudalismo medieval no início do século XVI, os novos trabalhadores e camponeses do proletariado sofriam de grandes desigualdades.
Nas regiões de língua alemã da Europa Central, antigos servos afluíram às cidades em expansão, enquanto os agricultores pobres enfrentavam a tributação e a criminalização para aumentar as receitas das classes dirigentes.
À medida que o Papa Leão X e a aristocracia apertaram o seu controlo financeiro sobre as classes mais baixas da Alemanha, uma revolta revolucionária dos camponeses deu um golpe significativo, alimentada pelos primeiros meios de comunicação social da era moderna.
Há cerca de 600 anos, a Guerra dos Camponeses alemães atravessou o que é hoje a Alemanha Oriental e a Áustria.
Embora a Guerra dos Camponeses não tenha sido bem sucedida, é considerada a maior revolta deste género, antes da Revolução Francesa. E, aparentemente, um precursor dos atuais meios de comunicação esteve na origem do conflito.
Um artigo de Billy Anania, publicado em dezembro na Hyperallergic, explica de que forma a guerra foi encorajada por aquilo a que Anania chama “os primeiros meios de comunicação da era moderna”.
Enquanto que os tumultos mais pequenos ocorreram em décadas anteriores, um movimento organizado em torno dos panfletos de propaganda seculares surgiu na década de 1520.
Rebeldes armados com ferramentas agrícolas invadiram castelos e queimaram igrejas, ameaçando não só o clero, mas também príncipes e proprietários de terras.
Em resposta, os aristocratas responderam também com violência, executando milhares de desordeiros em plena luz do dia.
A invenção dos panfletos impressos quebrou o monopólio da igreja sobre educação e a cultura, permitindo aos artesãos imprimir panfletos baratos e broadsheets, que combinavam imagem e texto.
As leituras públicas destas obras e os debates que daí resultavam entre cristãos e protestantes substituíram as declamações da Escritura.
As broadsheets, precursoras dos jornais, foram impressas verticalmente e utilizadas para divulgação e para decoração.
Como o autor Keith Moxey relata na sua obra “Camponeses, Guerreiros e Esposas”, de 2004, a sua utilidade “dependia da fragilidade do papel, do efeito da luz solar na tinta, e da rapidez com que o seu significado principal perdia o interesse”.
O padre Martin Luther, reconhecido com o uma figura importante na Reforma Protestante, usou os panfletos para proveito próprio, nomeadamente com as suas 95 teses, que se opunham às indulgências.
Luther defendeu a reforma secular, apelando às classes oprimidas. Em obras de arte, os primeiros luteranos como Hans Holbein e Lucas Cranach nomearam-no salvador dos abusos de poder da igreja.
As primeiras publicações também retratavam o padre a fazer frente aos cristãos, como no “Dispute Between Luther and a Theologian”, de Hans Sebald Beham.
O surgimento de panfletos e das broadsheets permitiu à população criticar a corrupção e as indulgências, tanto da alta sociedade como da Igreja.
Em conjunto com os textos do pregador Thomas Müntzer, isto acabou por conduzir ao conflito entre o povo trabalhador e a nobreza.
Segundo Lyndal Roper, professor em Oxford, “apesar do seu significado, ficaria surpreendido se alguma vez tivesse ouvido falar deste conflito”.
Mas não é difícil ver as semelhanças entre a Guerra dos Camponeses e os dias de hoje, nem é difícil imaginar que isto se torne em material de investigação histórica nos próximos anos.