Não tem hora para acabar e a margem para compromisso é muito curta. Esta terça-feira, Joe Biden e Vladimir Putin discutem por videoconferência, numa cibercimeira que será o reflexo de um primeiro passo para o entendimento ou de um regresso à Guerra Fria.
Uma porta-voz do Conselho Nacional de Segurança adiantou ao semanário Expresso que a cibercimeira desta terça-feira, entre o Presidente dos Estados Unidos e o seu homólogo russo, será “uma conversa sem hora para acabar”.
Joe Biden e Vladimir Putin reúnem-se virtualmente naquela que será a segunda reunião entre estes dois líderes, após o encontro presencial realizado em junho, em Genebra.
Desta vez, a conversa acontece num momento de agravamento de tensões bilaterais devido à concentração de tropas russas junto à fronteira com a Ucrânia – o tema que promete marcar a cimeira virtual.
A reunião entre os líderes das duas grandes potências mundiais ocorre numa altura de forte tensão nas relações russo-ucranianas, com Kiev a acusar a Rússia de concentrar mais de 90.000 soldados na fronteira com o objetivo de atacar o seu território durante o inverno.
Em paralelo, Moscovo acusa Kiev de ter concentrado 125.000 efetivos na região do Donbass (leste da Ucrânia), em plena linha da frente do conflito que envolve há vários anos forças ucranianas e separatistas pró-russos, o que significaria metade dos efetivos das Forças Armadas ucranianas.
De acordo com o The Washington Post, os serviços de informações dos Estados Unidos admitem que a Rússia poderia aumentar a sua presença militar na fronteira com o país vizinho até aos 175.000 efetivos.
David Gibbs, professor na Universidade do Arizona e autor do best seller “First Do No Harm: Humanitarian Intervention and the Destruction of Former Yugoslavia”, disse ao Expresso que “as recentes tensões entre ambos os países devido à Ucrânia abrem as portas para o regresso de um cenário de Guerra Fria“.
“Tudo isto começou na década de 90, quando os Estados Unidos prometeram que a expansão da NATO jamais chegaria ao território da ex-União Soviética. ‘Nem uma polegada em direção a leste’, disse o antigo secretário de Estado James Baker. Quem não se lembra? Aconteceu o contrário e chegamos a este ponto”, acrescentou.
Na passada sexta-feira, Biden admitiu estar a preparar um “pacote de iniciativas” para proteger a Ucrânia de um eventual ataque russo.
Já na véspera do encontro de hoje, as agências internacionais avançaram que Biden ia, ainda na segunda-feira, consultar por telefone os seus aliados europeus sobre a concentração de tropas russas na Ucrânia, bem como tinha previsto um contacto com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, nos dias seguintes à conversa com Putin.
A cimeira virtual ocorre após Putin ter proposto à NATO a assinatura de um pacto de segurança para evitar o ingresso na Aliança Atlântica da Ucrânia e da Geórgia.
As relações entre Moscovo e Kiev estão tensas desde 2014, após a anexação da península da Crimeia pela Rússia e as denúncias ocidentais do apoio russo aos separatistas no leste da Ucrânia.
“A Rússia não deixará a Ucrânia ir sem luta”
Michael Kimmage, do German Marshall Fund (ex-membro do Departamento de Estado) e Michael Kofman, diretor do Programa de Estudos Russos no Centro de Análises Naval, escreveram um artigo na Foreign Affairs no qual explicam que Moscovo percebeu que pode “escapar-se com uma das maiores apropriações de território na Europa desde a II Guerra Mundial” em troca de “sanções ocidentais” que “não causaram danos particularmente duros”.
No texto, os autores notam que a Rússia não tem parado de perder influência na Ucrânia. Além disso, destacam que, ao mesmo tempo que cresce a confiança política e económica, está também cada vez mais longe das prioridades dos Estados Unidso (China).
Kimmage e Kofman não acreditam que a decisão de invadir já tenha sido tomada ou que esteja iminente, mas admitem que “o cenário de uma guerra ampla é inteiramente plausível”.
“Do ponto de vista do Kremlin, se o território ucraniano se vai tornar um instrumento contra a Rússia ao serviço dos EUA, e as forças russas mantém a capacidade de fazer algo em relação a isso, então o uso da força é uma opção mais do que viável”, lê-se no artigo.
As linhas vermelhas de Putin serão traçadas esta terça-feira: além de impedir que a Ucrânia adira à Aliança Atlântica, para o Presidente russo é premente garantir que a NATO não dá mais nenhum passo em direção à Ucrânia.
Putin sublinhou há dias que “se aparecerem novos complexos de mísseis em território ucraniano, o seu tempo de voo a Moscovo será de sete a dez minutos, e no caso de armas hipersónicas, de cinco”.
Biden já respondeu: “Não aceito as ‘linhas vermelhas’ de ninguém”, respondeu o Presidente norte-americano, que deverá avisar o seu homólogo de que uma invasão da Ucrânia terá “graves consequências económicas” e que estas estão a ser preparadas entre Washington e os parceiros europeus.
Tendo em conta este clima, não se espera mais do que um acordo sobre a necessidade de abrandar a tensão.
ZAP // Lusa
Se este bandalho ditador do Putin fosse um democrata e a Rússia uma democracia, não teria qualquer receio da NATO, até se lhe associava, mas como ele instituiu no país uma democracia de fachada pois continua a ser uma ditadura, tornou totalmente inútil todo o trabalho heróico de Gorbatchov numa transição de paz para a democracia. Felizmente os restantes países do ex-Pacto de Varsóvia saíram da ditadura e foi o fim da União Soviética.