O plano interno da empresa para responder publicamente a polémicas já prevê questões sobre as intenções da mudança para Meta e sobre o futuro de Zuckerberg.
Segundo um guião interno a que o Observador teve acesso, ignorar as perguntas é uma das principais estratégias do Facebook, que agora se chama Meta, quando é questionado sobre as diversas polémicas em que a rede social está envolvida.
No documento de 20 páginas e com respostas ensaiadas para 73 questões, abordam-se assuntos mais simples, como quando é que o Meta vai estar pronto ou outros mais complicados sobre aquisição e plágio de ideias de outras empresas.
O objectivo final é convencer o público de que a Meta, que vai continuar a ser liderada por Mark Zuckerberg, não tem nada a ver com as polémicas do Facebook, polémicas essas que o documento também especifica — a falta de monitorização ao discurso de ódio, as verificações de idade e as preocupações com a recolha de dados dos utilizadores e a privacidade.
O guião também refere outros documentos internos anteriores também dedicados à resposta a crises na imagem da empresa. “Para pontos de discussão executivos sobre os documentos que foram alvo de fuga de informação, por favor, veja aqui”, lê-se no início do documento.
Já na secção “tópicos quentes”, a empresa detalha o que quem for confrontado com assuntos sensíveis deve dizer. Sobre a compra da Within, uma startup de desporto em realidade virtual, que suscitou críticas por o Facebook querer dominar o metaverso, a resposta recomendada diz que a “a Meta e a Within acreditam profundamente na capacidade da realidade virtual para ajudar a promover a conexão social e comunidades colaborativas”.
Relativamente a um suposto roubo da inovação de outras empresas, o Facebook defende que “o sector de tecnologia é um dos mais dinâmicos e disruptivos da economia americana” e que há alternativas com “milhões de utilizadores” aos serviços da Meta.
A fechar os “tópicos quentes” há um resposta bem mais vaga à preocupação com outras empresas existentes que já têm o nome Meta registado. “Nenhum comentário on the record [que possa ser citado], ou ignore”, recomenda a empresa.
“Esta é a mesma mudança que a Google fez com a Alphabet?”, é outra das questões previstas, referindo a resstruturação do Google em 2015 que deu origem à empresa-mãe Alphabet. A resposta sugerida é que tal como o Google, o Facebook tinha o mesmo nome de um dos seus produtos mais populares e que a “mudança para a Alphabet mudou isso e criou uma marca distinta para a empresa”, algo que o Facebook quer replicar.
O guião reforça que “SE HOUVER INSISTÊNCIA” dos jornalistas, os representantes podem acrescentar: “A Meta não está a ser criada com a mesma estrutura legal ou financeira da Alphabet”.
Sobre as comparações com a marca Philip Morris, que em 2003 mudou o seu nome para Altria para que as suas outras marcas como a Kraft Foods ou a Miller Brewing não fossem vistas negativamente por serem detidas por uma empresa-mãe associada à produção de tabaco, o Facebook responde que a sua mudança para Meta é mais semelhante com a situação da Alphabet.
Já sobre uma possível mudança no cargo de Mark Zuckerberg, a resposta é curta e grossa: “Não”. Sobre a mudança de nome ter surgido para proteger a empresa de leis anti-trust, que regulam os abusos das corporações que dominam o mercado, a resposta também é negativa e de que a “estrutura organizacional” não vai mudar.
As preocupações com a privacidade também são uma das maiores polémicas que envolvem o Facebook. “O metaverso não é apenas a última maneira de a Meta adquirir dados [pessoais]?”, prevê o documento. Na resposta, a Meta refere que quer ser “transparente relativamente a dados” e dá o exemplo dos óculos com câmara integrada que lançou em parceria com a Ray-Ban, referindo que os utilizadores sabem quando há uma gravação a decorrer.
No entanto, já vários órgãos de comunicação testaram os óculos e comprovaram que não é claro para toda a gente que veja alguém a usar estes óculos que estão a ser gravados.
O documento mostra também que a Meta quer que a informação dada à imprensa seja “on background“, o que impede que os jornalistas atribuam as respostas a alguém específico e pode suscitar dúvidas nos leitores sobre a credibilidade do conteúdo. “Compartilhe as respostas com a imprensa sem ser citado e indique materiais públicos sempre que possível”, lê-se no guião.