Vão passar mais de três meses entre o chumbo do Orçamento e as eleições antecipadas, que Marcelo Rebelo de Sousa anunciou ontem que serão a 30 de Janeiro.
Com a marcação das eleições antecipadas para 30 de Janeiro, o Presidente da República tornou este o maior impasse político deste século, escreve hoje o Público. Vão passar mais de três meses, 95 dias certos, entre o chumbo do Orçamento de Estado para 2022 que desencadeou a crise e a ida às urnas. Antes da crise actual, a mais longa do século XXI foi em 2001, com a demissão de António Guterres, que deixou o país 91 dias no limbo.
Esta é a quarta vez que Portugal vai a eleições antecipadas nos últimos vinte anos. A 16 de Dezembro de 2001 deu-se a primeira, quando Guterres anunciou que ia deixar o cargo de primeiro-ministro. A 17 de Março de 2002 houve eleições marcadas pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, depois de ter dissolvido o parlamento a 28 de Dezembro.
Já em 2004, a saída de Durão Barroso do governo para se tornar Presidente da Comissão Europeia não levou directamente a eleições antecipadas, mas estas acabaram por acontecer alguns meses depois, quando Jorge Sampaio usou a chamada “opção nuclear” e dissolveu a Assembleia depois de Santana Lopes substituir Barroso como primeiro-ministro. O anúncio de Sampaio foi a 30 de Novembro de 2004, mas a decisão só foi formalizada a 22 de Dezembro. 82 dias depois, a 20 de Fevereiro de 2005, o PS ganhou as eleições.
A terceira crise, anterior a esta, foi em 2011, causada pela demissão de José Sócrates depois do chumbo do PEC IV, a 23 de Março. Este foi o impasse mais curto, tendo passado apenas 74 dias entre a dissolução, que aconteceu a 31 de Março, e as eleições de 5 de Junho, que o PSD venceu, tendo Pedro Passos Coelho na altura formado um governo maioritário com o apoio do CDS.
Apesar de não ter levado a novas eleições, houve também um compasso de espera grande em 2015. Na altura, a coligação do PSD e CDS liderada por Passos Coelho foi à procura de um segundo mandato e conseguiu vencer as eleições, mas sem maioria parlamentar. Cavaco Silva ainda deu posse ao líder do PSD, mas a falta de apoio ao seu programa na Assembleia da República fez-se sentir.
Numa manobra inédita, Cavaco Silva teve depois de chamar António Costa para ser primeiro-ministro, tendo empossado dois líderes de governos diferentes em menos de dois meses. Depois de muitas reuniões e negociações, o PS, que ficou em segundo nas eleições, conseguiu formar governo devido ao apoio parlamentar do Bloco de Esquerda, PCP e Verdes. Em 54 dias, nasceu a famosa “geringonça”, que a crise actual matou.
Em média, as crises duraram 82 dias, segundo a Agência Lusa. Apesar das sondagens actuais apontarem que o PS vai ser novamente o vencedor das eleições de 30 de Janeiro, todos os sufrágios precipitados por crises políticas neste século resultaram numa derrota para o partido que estava no poder.