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Otoniel, o camponês paramilitar (e criminoso mais procurado da Colômbia) foi capturado

(h) Exército da Colômbia

‘Otoniel’ foi detido no meio da floresta e levado de helicóptero para Bogotá.

O governo da Colômbia anunciou este sábado a captura do narcotraficante mais procurado do país, Dairo Antonio Úsuga (com a alcunha de ‘Otoniel’), por quem os Estados Unidos ofereciam uma recompensa de cinco milhões de dólares.

Dairo Antonio Úsuga, ou ‘Otoniel’, o camponês que passou de guerrilheiro de esquerda a paramilitar de extrema direita antes de se consolidar como o chefe do narcotráfico mais procurado na Colômbia, foi este sábado capturado pelo Exército do país.

O presidente Iván Duque comparou a detenção à queda de Pablo Escobar, o grande barão da cocaína, morto pela polícia colombiana em 1993. “É o golpe mais duro desferido contra o narcotráfico este século no nosso país”, disse Duque, numa declaração pública.

Imagens divulgadas pelo governo mostraram ‘Otoniel’, de 50 anos, algemado e cercado por militares com fortemente armados. “Estávamos atrás dele há sete anos“, detalhou o general Fernando Navarro, comandante das Forças Militares colombianas.

‘Otoniel’, líder do Clã do Golfo, a principal quadrilha criminosa da Colômbia, não era procurado apenas pelas autoridades locais. Os Estados Unidos ofereciam 5 milhões de dólares por informações sobre o seu paradeiro ou que permitissem a sua captura.

Úsuga nasceu a 15 de setembro de 1971, em Necoclí, uma região estratégica no noroeste da Colômbia, muito próxima da fronteira com o Panamá, mas também do Pacífico e das Caraíbas. Passou a liderar o Clã do Golfo após a morte do seu irmão, Juan de Dios, “Giovanni”, em confronto com a polícia em 2012.

Da extrema esquerda à extrema direita

O criminoso é o sétimo dos nove filhos de Ana Celsa David e Juan de Dios Úsuga, casal que diz ganhar a vida com a venda de porcos, galinhas e gado na região de Antioquia, no noroeste do país.

Aos 18 anos, juntou-se ao Exército de Libertação Popular (EPL), organização de guerrilha marxista desmobilizada em 1991. “Não era um revolucionário, era o que tinha e um dia partiu com eles”, contou a mãe, em 2015, ao jornal colombiano El Tiempo.

Úsuga não participou no processo de paz que pôs fim a 26 anos de luta armada deste grupo rebelde com as forças governamentais colombianas.

Entre 1993 e 1994, juntou-se às Autodefesas Camponesas de Córdoba e Urabá (ACCU), uma organização paramilitar de extrema direita, criada para combater as guerrilhas e com ligações com o narcotráfico.  “Era um camponês não muito ideologizado“, explicou à AFP o especialista em segurança Ariel Ávila.

A ACCU fez parte das Autodefesas Unidas da Colômbia, que se desmobilizaram em 2006 por iniciativa do governo de Álvaro Uribe (2002-2010). Mas, segundo o analista, “Otoniel” sentiu-se “desiludido” com o processo de submissão à justiça e decidiu manter-se na clandestinidade.

Rede espalhada pelo país

Úsuga montou uma rede criminosa com presença em quase 300 dos 1102 municípios do país, principalmente no Pacífico, local estratégico para o envio de cargas de drogas, segundo o centro de estudos independente Indepaz.

“Dario Úsuga é dono de um amplo portfólio de atividades criminosas, que incluem mineração ilegal e tráfico de imigrantes para o Panamá”, explicou Ávila.

Segundo o centro de investigação do crime organizado InSight Crime, o Clã do Golfo  atua na também contratação de gangs de rua locais, que executam em seu nome atividades de microtráfico, extorsão e assassínio a soldo.

O narcotraficante viajava sempre sozinho, a pé ou em mula, e nunca dormia duas noites seguidas no mesmo lugar, relataram as autoridades colombianas. Nos últimos dias da perseguição, refugiou-se no interior da floresta virgem da região de Urabá, de onde é originário, e desfez-se dos seus telefones, substituindo-os por correios humanos.

A justiça norte-americana acusa Dairo Antonio Úsuga de liderar uma organização “fortemente armada, extremamente violenta”, que “usa a violência e a intimidação” para controlar as rotas do tráfico de drogas e laboratórios de processamento de cocaína.

Megaoperação de perseguição e captura

Para capturar ‘Otoniel’, a polícia colombiana recorreu a “vigilância por satélite coordenada com agências dos Estados Unidos e do Reino Unido”, explicou o diretor da instituição, general Jorge Vargas. Cerca de 500 militares, apoiados por 22 helicópteros, participaram na operação, que provocou a morte a um agente da polícia colombiana.

Uma transmissão ao vivo da polícia nas redes sociais mostrou o momento do desembarque do narcotraficante em Bogotá, algemado e cercado por vários agentes. ‘Otoniel’ foi levado para um edifício da instituição, rodeado de aparatosas medidas de segurança.

Nas últimas semanas, Úsuga “não chegava a permanecer em qualquer casa, dormindo sem condições, à chuva, sem se aproximar de zonas residênciais”, detalhou o diretor da polícia colombiana.

A queda do líder da maior quadrilha de traficantes da Colômbia é o principal sucesso do governo do presidente colombiano no combate ao narcotráfico e crime organizado no país que mais exporta cocaína no mundo.

“Sobre este delinquente há ordens de extradição pendentes, e trabalharemos com as autoridades para cumprir também esta missão”, adiantou Iván Duque.

‘Otoniel’ é procurado pela justiça norte-americana desde 2009, depois de ter sido indiciado por tráfico de drogas pelo Tribunal do Distrito Sul de Nova York.

Já o governo colombiano aponta a sua rede criminosa como uma dos responsáveis pela onda de violência que assola o país, a pior desde a assinatura do acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), em 2016.

ZAP // RFI

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