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Política do “logo se vê” deixa Lisboa noturna ao deus-dará

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Os moradores do Bairro Alto mostram-se descontentes com o estado atual da vida noturna na capital portuguesa, onde consideram haver um desgoverno.

A vida noturna regressou quase totalmente no início deste mês, com os bares a voltarem aos antigos horários e as discotecas a reabrirem. No entanto, este regresso à normalidade veio acompanhado por um lado negro. Têm-se multiplicados os episódios de violência nas noites de Porto e Lisboa, com a polícia a manifestar-se preocupada.

Teresa Ferreira de Almeida vive no Bairro Alto e diz-se “chocada” com as semelhanças a Albufeira. Centenas de pessoas juntam-se à porta dos bares, junto a sua casa, neste período “pós-pandémico”.

“O Bairro Alto não tem estrutura. Não tem casas de banho, não tem sítios para pôr o lixo, simplesmente não tem estrutura para aguentar milhares de pessoas”, disse a residente lisboeta em declarações ao jornal Público.

Há moradores que até já escreveram à junta e à câmara para tentar dissuadir esta situação. “Eu não quero acabar com a noite, mas acho que há direitos que deviam estar antes dos outros: o direito ao descanso e à salubridade”, revela José Pedro Baptista, um dos signatários da carta.

“Chegámos a um ponto de loucura. São seis noites por semana de barulho até altas horas. Saímos de manhã e é só vidro partido. Parece que estamos num bairro medieval, está tudo tão sujo. Viver ali é impraticável neste momento”, acrescentou.

Os graffiti multiplicam-se, sente-se o cheiro a urina por todos os cantos e é quase impossível andar de carro durante esta altura.

No passado mês de setembro, moradores e comerciantes do Bairro Alto manifestaram-se preocupados com a criminalidade associada a ajuntamentos na via pública durante a noite, inclusive o aumento de “gangues”, defendendo o reforço do policiamento de proximidade.

Jordi Nofre, investigador principal do projeto LxNights, da Universidade Nova de Lisboa, diz que “eram expectáveis os problemas”, mas realça que “não houve uma planificação” por parte das autoridades locais.

“Não houve nada, foi abrir as portas e as pessoas que se desenrasquem”, atira.

“A cidade noturna nunca foi pensada. Tudo o que existe de políticas urbanas foi pensado para a cidade de dia. A questão é que estamos a avançar para ter uma cidade de 24 horas”, acrescenta o investigador. “Mas temos sempre o clássico ‘logo se vê'”, lamenta Jordi Nofre.

O investigador da Universidade Nova de Lisboa defende que tem de haver diálogo, procurando soluções semelhantes às de, por exemplo, Berlim — em que os espaços de diversão noturna abrem mais cedo para receber espetáculos, exposições e até reuniões comunitárias.

Daniel Costa, ZAP //

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7 Comments

  1. Passou-se o mesmo lá por Coimbra. Um familiar meu disse que muita gente estava sem máscara… porreiro!!
    É lá, é cá em Lisboa, e sabe-se lá mais onde… anda tudo louco e demasiado despreocupado.

  2. Pais anda sem rei nem roque, é o salve-se quem poder. Pessoas não tem RESPEITO nenhum. Estão a pedir medidas implacáveis, depois não se queixem. Não estamos numa ANARQUIA…

    • A pandemia está ligeiramente controlada, mas pode, de um dia para o outro, piorar. E penso que, dados os testemunhos de alguns seres humanos, muita gente tem dispensado os cuidados básicos contra o vírus.

  3. Alterem a expressão “neste período “pós-pandémico””, por outra mais legível. Parece que estão a brincar.
    A pandemia ainda não terminou!

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