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Tenda, projetor, ação! Os cinemas itinerantes da Índia podem ter os dias contados

dineshobareja / Flickr

Cinemas de tendas da Índia

Os cinemas de tendas, outrora uma parte importante da vida rural indiana, já enfrentavam dificuldades antes da pandemia de covid-19. Agora, podem ter os dias contados.

À medida que a revolução digital se infiltrou no meio rural indiano, o negócio de levar filmes para as estradas tornou-se gradualmente insustentável.

Segundo o Atlas Obscura, o estado indiano de Maharashtra, onde esta tradição estava concentrada, tinha mais de 1.000 “cinemas viajantes”. Hoje, já só restam 50.

A pandemia de covid-19 foi o mais recente golpe para esta indústria. Os proprietários que ainda não fecharam totalmente as portas estão bloqueados entre um profundo sentimento de nostalgia, a falta de oportunidades de mudar para outros negócios e a esperança incansável de um renascimento.

A longa e colorida tradição dos “cinemas viajantes” na Índia remonta aos anos 1950, altura em que começaram a circular no âmbito do festival anual de carnavais, conhecido como jatra (que significa “jornada”).

Durante os oito meses de jatra, dezenas de cinemas em turné viajaram de aldeia em aldeia, com camiões carregados de equipamentos, como barracas e telas para exibir filmes em hindi e marati, o idioma local.

Cada tenda demorava dois a três dias para ser montada, por uma equipa de 10 a 20 homens. Depois de algumas semanas num determinado local, rumavam para a aldeia seguinte, pelo menos até que as monções encerrassem a temporada de festivais e os mandassem para casa.

Esta tradição levou a arte cinematográfica a regiões sem cinemas permanentes e fez parte do mapa cultural das pequenas cidades da Índia.

Segundo o portal, os cinemas itinerantes foram originalmente concebidos por indivíduos que deixaram as suas aldeias e foram para as cidades. Quando regressaram às suas humildes casas, a magia do cinema que encontraram nas metrópoles deixou saudades.

“Eles trouxeram projetores antigos para as feiras religiosas anuais” e “começaram a inserir esta tradição religiosa”, contou Shirley Abraham, codiretora do The Cinema Travellers. Com o tempo, os cinemas itinerantes tornaram-se o centro das atenções das feiras.

Atualmente, os responsáveis por este tipo de negócios recebem licenças para operar em comunidades com menos de 100 mil habitantes. Segundo o Diretor de Assuntos Culturais, Ravi Bibhishan Chavare, há abertura para repensar esta política de modo a expandir o seu alcance a locais com públicos maiores.

“Embora a audiência tenha diminuído, eles ainda servem um propósito, já que muitas regiões não têm cinemas permanentes”, justificou.

Enquanto esperam por dias melhores, começam a planear a próxima temporada de jatra.

Liliana Malainho, ZAP //

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