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Afinal, os produtos processados podem ser mais benéficos do que os naturais

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Normalmente, as pessoas tendem a acreditar que os alimentos “naturais” são mais benéficos para a saúde. Mas será que o natural é sempre melhor do que o processado?

Na verdade, o facto de um produto estar in natura não significa que seja mais saudável, refere Christina Sadler, diretora do European Food Information Council e investigadora da Universidade de Surrey, no Reino Unido.

Isto porque alguns alimentos naturais podem conter mais toxinas e um processamento mínimo pode torná-los mais seguros.

O feijão, por exemplo, contém lectinas, que podem causar vómitos e diarreia, mas estas são eliminadas quando os grãos são colocados de molho durante a noite e depois cozinhados na água a ferver.

Por outro lado, o processamento também torna seguro o consumo de leite de vaca.

As evidências crescentes que sugerem que alguns organismos no leite poderiam ser prejudiciais à saúde levaram ao desenvolvimento de dispositivos para aquecimento do mesmo e à invenção da pasteurização. “É uma das histórias de sucesso de saúde pública mais importantes do último século”, afirma John Lucey, professor de ciência alimentar da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos.

“Pouco antes da Segunda Guerra Mundial, cerca de um quarto de todas as doenças transmitidas por alimentos e pela água vinham do leite. Agora é menos de 1%”, realça.

O processamento também pode ajudar a reter os nutrientes dos alimentos que comemos.

Por exemplo, o congelamento, que é classificado como processamento mínimo, permite que frutas, legumes e verduras retenham nutrientes que se poderiam degradar enquanto estivessem no frigorífico.

“Existe a ideia equivocada de que produtos congelados não são tão bons quanto os frescos, mas isso é impreciso”, afirma Ronald Pegg, professor de ciência e tecnologia alimentar da Universidade da Geórgia, também nos Estados Unidos.

O processamento permite ainda que vitaminas e minerais, como vitamina D, cálcio e ácido fólico, sejam adicionados a certos alimentos processados, incluindo pães e cereais.

Esta iniciativa ajudou a reduzir várias deficiências de nutrientes entre a população em geral, mas isso não torna a comida necessariamente mais equilibrada.

O processamento também pode ajudar a preservar os alimentos e a torná-los mais acessíveis.

A fermentação, por exemplo, faz com que o queijo se mantenha estável por mais tempo e, em alguns casos, reduz a quantidade de lactose, tornando-o mais digerível para quem tem uma intolerância à presença deste tipo de açúcar.

Durante muito tempo, conservar os alimentos adicionando ingredientes como açúcar ou sal foi essencial para as pessoas sobreviverem ao inverno, diz Gunter Kuhnle, professor de ciência alimentar e nutricional da Universidade de Reading, no Reino Unido. “O processamento permitiu-nos estar onde estamos hoje, pois evitou que passássemos fome”, explica.

Kuhnle afirma que “muitos alimentos precisam de ser processados ​​para serem consumidos, como o pão. Não poderíamos sobreviver apenas com grãos”.

Adicionar calor, também considerado um processamento mínimo, torna muitos alimentos comestíveis, como batatas e cogumelos.

“Os tomates enlatados são um exemplo clássico de que os alimentos processados ​​podem ser melhores do que as suas versões frescas”, sublinha Kuhnle, acrescentando que assim “estes podem ser colhidos muito mais tarde, quando o produto está muito mais maduro, e podem ser processados ​​de maneira muito mais suave.”

Um outro exemplo é o bacon, que não melhora a saúde, mas oferece a mais pessoas acesso à carne, ao evitar que a comida estrague.

Apesar destas conclusões, os especialistas concordam que têm de haver mais pesquisas para se perceber quais são as verdadeiras consequências dos alimentos processados na nossa saúde.

Ainda não se sabe de que forma os flavonoides e polifenóis – micronutrientes encontrados em algumas plantas e que foram associados a muitos benefícios à saúde – nas frutas são afetados pelo processamento, diz Kuhnle.

Embora o processamento mínimo tenha muitos benefícios, não se pode dizer o mesmo sobre o que os sistemas de classificação de alimentos “ultra-processados”.

ZAP // BBC

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