Há professores do Ensino Superior que estão a recusar dar aulas presenciais enquanto não forem vacinados contra a covid-19, tal como está a acontecer com os docentes e não docentes de outros níveis de ensino.
O Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) considera uma “inexplicável discriminação” a ausência dos funcionários do Ensino Superior dos grupos prioritários da vacinação contra a covid-19 e pede que a situação seja corrigida.
Em comunicado, o CRUP informa continuar “a mobilizar esforços para sensibilizar os responsáveis técnicos e políticos da campanha nacional de vacinação para a necessidade de corrigir esta inexplicável discriminação dos docentes e não docentes do Ensino Superior em relação aos restantes profissionais de ensino do país”.
Na mesma nota, o organismo de coordenação do ensino universitário em Portugal salientou não existir motivo científico para a decisão, argumentou que o risco de contágio pelo novo coronavírus é semelhante em qualquer sala de aula e referiu ter sido no Ensino Superior que foram identificados os primeiros casos em Portugal em unidades de ensino.
“Não há razão científica que justifique a opção de priorizar a vacinação de profissionais de apenas alguns níveis de ensino. O risco de transmissão do SARS-CoV-2 é semelhante em qualquer sala de aula ou qualquer estabelecimento de ensino, sabendo que foi precisamente ao nível do Ensino Superior que se detetaram, em Portugal, os primeiros casos de covid-19 em contexto escolar”, é enfatizado no documento.
O CRUP afirmou estar há várias semanas a realizar “esforços no sentido de compreender”, junto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e da task force para a vacinação, “as razões da exclusão dos profissionais do Ensino Superior”, tendo em conta a prioridade dada aos restantes níveis de ensino.
A entidade aludiu, no mesmo documento hoje divulgado, à norma da Direção-Geral de Saúde sobre o processo de vacinação onde são mencionados os “profissionais de estabelecimento de educação e ensino e respostas sociais de apoio à infância” como um dos grupos prioritários.
“Por definição, deverão estar incluídos neste grupo os docentes e não docentes do Ensino Superior que, além de serem parte integrante do sistema de ensino nacional, estão envolvidos no esforço de resiliência do Estado na mesma medida que os profissionais do ensino básico e do ensino secundário”, alegou o CRUP.
Em declarações ao jornal Público, o presidente do CRUP, António Sousa Pereira, revelou mesmo que há docentes que estão a “recusar dar aulas presencialmente enquanto não forem vacinados”.
A 23 de março, o ministro da tutela, Manuel Heitor, disse não conseguir “apoiar qualquer iniciativa de âmbito corporativo nessa área”.
“O Ensino Superior é particularmente específico, o número de horas de contacto é particularmente reduzido e há muitas outras profissões que são tão aptas a ser vacinadas como o Ensino Superior. Devemos seguir o plano como está, com firmeza e segurança e garantir que atingimos rapidamente a imunidade de toda a população, e apelo aos docentes do ensino superior que sejam solidários com toda a população”, frisou.
Um dia depois, a presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (Snesup), Mariana Gaio Alves, criticou esta exclusão, lembrando que os docentes são um grupo profissional um pouco envelhecido e os seus alunos pertencem ao grupo etário com maior incidência de casos.
Para Mariana Gaio Alves, a exclusão do Ensino Superior “é incompreensível”, assim como as declarações do ministro, defendendo “a importância de valorizar o ensino presencial” e lembrando que no Ensino Superior há aulas práticas, há turmas de grandes dimensões e há manipulação de instrumentos nas aulas de laboratório.
Em declarações ao mesmo diário, a presidente do Snesup também confirma a recusa de alguns professores em dar aulas presenciais, revelando que há um clima de “grande revolta” e que muitos se sentem “abandonados e injustiçados”.
“Se seguirmos o plano de vacinação à risca teremos imunidade de grupo no final de junho”
A declaração é do bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, esta sexta-feira, ao Diário de Notícias, que disse estar satisfeito com a mudança de critérios nesta segunda fase do plano de vacinação (que assentam agora na idade por ordem decrescente).
“Sinto-me satisfeito. Se cumprirmos o plano à risca e se não houver falhas nas vacinas, acredito que no final de junho atingiremos a imunidade de grupo. O que será um sucesso”, afirmou.
A única crítica do bastonário é o facto de haver pessoas que já estiveram infetadas e que já recuperaram da doença, mas que ainda não vão ser vacinadas já.
“O momento certo é agora, porque temos idosos e profissionais de saúde que já tiveram a doença há seis meses e há um ano que precisam de ser protegidos o mais depressa possível”, explicou.
Questionada sobre esta situação, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, já reforçou que estas pessoas “nunca estiveram esquecidas”, explicando que, numa primeira fase, a medida se tratou de uma opção perante escassez da vacinas.
Recorde-se que, a partir desta sexta-feira, as pessoas com mais de 65 anos já podem escolher a data e o local para serem vacinadas através do Portal do Auto-agendamento para Vacinação contra a covid-19.
Segundo o relatório semanal da vacinação, divulgado pela DGS esta terça-feira, 2.015.225 pessoas já tomaram a primeira dose, enquanto 689.329, que representam 7% da população portuguesa, já têm a vacinação completa contra o coronavírus SARS-CoV-2.
ZAP // Lusa