Só cerca de 15% dos dos mais de 3600 casos de reações adversas reportados em Portugal estão relacionados com a vacina da AstraZeneca. Esta segunda-feira, a Comissão Técnica da Direção-Geral da Saúde admitiu que a segunda dose poderá ser substituída por uma de qualquer outra vacina.
A vacina da AstraZeneca tem estado no centro da polémica, sobretudo depois do parecer da Agência Europeia do Medicamento (EMA), que concluiu existir uma “possível relação” entre a administração do fármaco e a formação de “casos muito raros” de coágulos sanguíneos. Em Portugal, decidiu-se restringir a toma da vacina em pessoas com menos de 60 anos, visto ser abaixo desta faixa que se registou a maior parte dos casos.
Segundo o jornal online ECO, até ao último sábado tinham sido reportados mais de 3600 casos de reações adversas associados às três vacinas que estão a ser administradas no país – Pfizer, Moderna e AstraZeneca.
Contudo, apenas cerca de 15% estão relacionados com a vacina do laboratório anglo-sueco, tendo sido reportados 535 casos. A maioria diz respeito à vacina da Pfizer, 2941 (81,1%), enquanto com a vacina da Moderna foram registadas 149 reações adversas (4%).
De acordo com o mesmo jornal digital, se olharmos para a realidade europeia, Portugal é o sexto país com o maior número de casos de reações adversas relativamente à vacina da Pfizer, importando sublinhar que, até à data analisada, já tinham sido administradas em território português 1,4 milhões de doses desta vacina (o que significa que a a percentagem de reações adversas é de apenas 0,21%).
Relativamente à AstraZeneca, Portugal está em 11.º lugar a nível europeu. Até à data analisada, tinham sido administradas no nosso país 388 mil vacinas da agora chamada Vaxzevria, o que representa uma taxa de de apenas 0,14%.
No caso da Moderna, vacina da qual há menos doses disponíveis no momento, Portugal está em oitavo lugar. Foram administradas 128 mil doses a nível nacional, o que significa que a percentagem de reações adversas é de apenas 0,12%.
DGS admite que qualquer vacina pode substituir segunda dose da AstraZeneca
A Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 da Direção-Geral da Saúde (DGS) admitiu que quem recebeu a primeira dose da vacina da AstraZeneca, estando abaixo dos 60 anos, poderá receber uma segunda dose de qualquer outra vacina.
Em declarações à rádio TSF, Luís Graça, um dos membros desta comissão técnica, explicou que o país está numa situação em que pode esperar para ver o que se passa noutros países e estudos que estão a ser feitos.
O investigador destacou mesmo um trabalho que está a ser “promovido pela Universidade de Oxford para estudar a eficácia e a segurança de fazer uma troca de vacinas – uma segunda dose diferente da primeira”.
Com esta situação, Luís Graça explica que, em maio (a segunda dose da vacina da AstraZeneca deve ser dada 12 semanas depois da primeira), quando chegar a altura de se começar a dar a segunda dose, “estaremos muito mais seguros da estratégia mais segura e eficaz”.
“(…) Todas as vacinas usam a mesma proteína, pelo que do ponto de vista da imunologia, à partida, será equivalente a resposta imunitária induzida com uma vacina de uma marca diferente”, explicou à rádio o especialista do Instituto de Medicina Molecular (IMM).
O responsável aproveitou para reforçar que esta decisão de aguardar por resultados “é uma mensagem de segurança também para estas pessoas de que não se está a tomar uma medida precipitada com base em dados incompletos, esperando algum tempo por dados mais robustos”.
Portugueses não mostram desconfiança
Apesar das polémicas em torno da vacina da AstraZeneca, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, coordenador da task force responsável pelo plano de vacinação contra a covid-19, garantiu que, para já, os portugueses não estão a mostrar desconfiança.
“Não estamos a fazer o registo sistemático de pessoas que se tenham negado [a receber uma determinada vacina] porque há cerca de oito milhões de portugueses que querem receber a vacina”, afirmou à RTP3, citado pelo jornal Público.
“Não temos sentido muito isso, mas claro que todas as dúvidas e todo o ruído à volta desta vacina podem ter um efeito negativo”, admitiu o responsável, acrescentando que é preciso “muito cuidado” para “não entrar numa curva de histeria que vai prejudicar não só o processo de vacinação, mas essencialmente a proteção das pessoas”.
“A coisa mais perigosa é não estar vacinado”, afirmou o vice-almirante, reforçando: “Nesta última semana, já morreram de covid-19 em Portugal mais pessoas do que todas as pessoas que morreram de eventos tromboembólicos da vacina da AstraZeneca, tendo esta sido administrada a 30 milhões de pessoas [em todo o mundo]”.
Favorecimentos, excesso de positivismo e encobrimentos ilegais tornam Portugal um país de tolos.