O primeiro-ministro afirmou esta quarta-feira que todos os estados membros da União Europeia devem respeitar as decisões da Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês), relativamente à vacina da AstraZeneca, e evitar tomar decisões unilaterais.
“Eu bem sei que as pessoas acham que os primeiros ministros têm que saber tudo e decidir sobre tudo. Eu infelizmente não sou especialista em vacinas e não tomo decisões que cabem aos técnicos tomar”, afirmou António Costa, que falava após a inauguração da escola secundária de São Pedro, em Vila Real.
A EMA concluiu esta quarta-feira que existe uma “possível relação” entre a vacina da contra a covid-19 da farmacêutica AstraZeneca e a formação de “casos muito raros” de coágulos sanguíneos, mas insistiu nos benefícios do fármaco.
“Sempre disse e é o apelo que temos feito que as autoridades nacionais, todos os estados membros da União Europeia devem respeitar as decisões da EMA e evitar tomar decisões unilaterais”, frisou o primeiro-ministro português.
António Costa lembrou a reunião de ministros da Saúde da União Europeia, convocada para as 17h de hoje por Marta Temido, no exercício da presidência portuguesa, para uma tomada de “posição coordenada relativamente às decisões que possam ter que ser tomadas em função das conclusões da EMA”.
O primeiro-ministro disse ser “fundamental que ao nível da União Europeia, ao menos, haja uma atuação coordenada” porque já se ouviram “as mais diferentes sugestões de recomendações”.
“A EMA, onde participam todos os estados membros procedeu a uma revisão, mais um vez da vacina, tomou as conclusões que já são públicas, há agora uma reunião dos ministros da Saúde de forma a que tenhamos uma posição coordenada ao nível de todos os estados membros e não haja uma indefinição e cada um a decidir por si, porque isso é um fator, naturalmente, de desconfiança e de insegurança, para todos nós”, salientou.
Quando às conclusões da EMA, reforçou que “se os técnicos entendem que assim é”, da sua parte só tem a dizer “muito bem” e aguarda que os técnicos tenham uma “posição clara, compreensível e que dê tranquilidade”.
O primeiro-ministro referiu também que espera que decisão da Agência Europeia do Medicamento sobre a AstraZeneca não perturbe vacinação de professores e que “no próximo fim de semana nada seja perturbado” para que o processo possa prosseguir, relembrando que “hoje o vírus é diferente do que era há um ano, tem uma nova variante que é mais fácil de transmitir e aumenta os contágios”.
A AstraZeneca tem estado envolta em polémica devido ao surgimento de coágulos sanguíneos em vacinados com a sua vacina contra a covid-19, entretanto denominada Vaxzevria, situação que levou alguns países europeus a suspender o seu uso e que só foi ultrapassada depois de a EMA ter garantido, em meados de março, que este era um fármaco seguro e eficaz.
O regulador europeu tem desde então vindo a investigar a relação entre a vacina e os episódios de aparecimento de coágulos sanguíneos e da morte de pessoas inoculadas com a vacina Vaxzevria.
Segundo a EMA, foram registados 62 casos de trombose do seio venoso cerebral e 24 casos de trombose venosa esplâncnica até 22 de março, bem como 18 mortes, num universo de cerca de 25 milhões de vacinados na UE, Espaço Económico Europeu e Reino Unido.
Programa de “recuperação de aprendizagens”
Sobre a educação e suspensão do ensino, António Costa afirmou que espera que “a lição tenha ficado bem presente no espírito de todos” e apelou para que “assumamos que o último sacrifício que se pode fazer é o do investimento na educação”.
“É por isso que este ano foi muito importante o esforço que foi feito para prosseguir o processo educativo”, e recordou que lhe “custou horrores” quando, em março do ano passado, teve de anunciar o encerramento das escolas, escreve o SAPO24.
Além disso, Costa destacou a forma como em poucos dias os professores e a comunidade educativa tiveram a capacidade de se reinventar através do online, mas salientou a necessidade de “recuperação de aprendizagem, pois nada substitui o ensino presencial” e anunciou um programa de recuperação.
“Estamos a trabalhar para apresentar em maio um programa de recuperação de aprendizagens para que tudo o que não se pôde aprender devido à pandemia não fique perdido e para que esta geração não tenha, no futuro, de viver com uma menor qualidade da sua aprendizagem devido à pandemia. É uma cicatriz que não podemos deixar e temos de investir seriamente no processo de reaprendizagem”, anunciou o primeiro-ministro.
Além disso, Costa deixou o apelo: “Tudo temos de fazer para manter a pandemia controlada e para que as portas possam abrir também aos alunos do ensino secundário”.
Países europeus ponderam misturar vacinas
De acordo com o Expresso, são vários os países europeus que estão a considerar misturar vacinas contra a covid-19 para imunizar as pessoas que receberam a primeira dose da AstraZeneca e que, agora, não podem receber a segunda devido às restrições aplicadas por alguns governos.
Vários países decidiram parar de administrar esta vacina devido à possível formação de coágulos sanguíneos raros, agora confirmada pela Agência Europeia do Medicamento.
Embora o regulador europeu tenha defendido que os benefícios da administração da vacina superam os riscos, alguns países impuseram restrições de idade.
A Alemanha foi o primeiro país da Europa a recomendar, na última quinta-feira, que as pessoas com menos de 60 anos que tomaram a primeira dose da AstraZeneca recebessem um imunizante diferente para a segunda dose, relata a Reuters.
Já a Noruega vai decidir até 15 de abril se retoma o uso da vacina, ou se aposta na combinação de doses das vacinas da Pfizer/BioNTech e da AstraZeneca/Oxford.
Ainda segundo o semanário, aGrã-Bretanha também tinha anunciado, no final de 2020, que ia permitir que as pessoas recebessem doses de diferentes vacinas em raras ocasiões.
A Finlândia, por seu lado, voltou a utilizar a vacina da AstraZeneca desde o final de março, mas apenas a pessoas com 65 ou mais anos
Em Portugal, a task force responsável pelo plano de vacinação contra a covid-19 adiantou, na terça-feira, que o país mantém o uso da vacina até surgir uma posição oficial da Agência Europeia de Medicamentos (entretanto conhecida), da Direção-Geral da Saúde e do Infarmed.
ZAP // Lusa