A tensão entre o líder do PSD e o eurodeputado é evidente, mas a direção de Rio está atenta às movimentações de Rangel. O referendo à eutanásia, as eleições presidenciais, e agora as autárquicas, são apenas alguns dos pontos que expõe as fraturas.
No núcleo duro de Rui Rio, poucos ignoram que Paulo Rangel se prepara para lutar pela liderança do PSD depois das próximas autárquicas.
Alguns dos comentários protagonizados pelo eurodeputado vão-se acumulando e entre os dirigentes mais próximos de Rio, há quem vá sinalizando o desagrado. “Se quer ir a votos, é melhor esperar sentado”, relembra o Expresso.
O último desses sinais surgiu esta semana, depois do chumbo da lei da eutanásia. Paulo Rangel, que já no último congresso do PSD tinha conseguido levantar os militantes sociais-democratas com a defesa do referendo à morte assistida, fez um apelo à bancada parlamentar do partido para relançar o debate. Contudo, esse debate já tinha sido várias vezes fechado por Rui Rio.
Supostamente, a questão estava encerrada, mas Rangel reacendeu-a num artigo de opinião publicado no jornal Público.
Depois dos comentários, o líder do PSD foi desafiado a responder as palavras de Paulo Rangel. “Não mudo as minhas convicções. Não tenho nenhum comentário especial a fazer sobre isso. Em questão de convicção não mudo. Posso ficar sozinho, mas não mudo”, disse.
Rangel não ficou satisfeito com a resposta e voltou a insistir no tema, desta vez na “Rádio Renascença”. Esta foi mais uma farpa.
No entanto, não é a primeira vez que Rangel causa ruído no partido.
Em janeiro, depois das eleições presidenciais, e após Rui Rio ter celebrado a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa como a vitória do centro moderado, Paulo Rangel veio a público apontar exatamente no sentido contrário: o bom resultado obtido por André Ventura deveria obrigar o centro-direita a “pensar e a agir” rapidamente.
E não ficou por aqui. Um dia depois, Rangel foi mais longe e sugeriu que “só uma oposição sistemática, forte, presente e dotada permanentemente de uma agenda alternativa pode evitar o enraizamento de uma direita radical, de sinal populista”.
Futuro do PSD
Para já, Paulo Rangel não tem dedicado tempo a alimentar expectativas sobre a sua candidatura ou não à liderança do PSD.
Contudo, pelos estatutos do partido, Rui Rio terá necessariamente de ir a votos depois das autárquicas e só aí se vai perceber o futuro dos vários protagonistas.
A esta distância há muitas condicionantes que podem alterar por completo o rumo da história do PSD. Entre elas, e a mais importante, o resultado das autárquicas.
Rui Rio tem sido comedido nas metas que definiu, mas já é evidente que as duas grandes apostas do partido são recuperar as autarquias de Lisboa e Coimbra.
Se o conseguir fazer, os potenciais adversários do líder social-democrata (onde se poderia incluir Rangel) teriam dificuldades em encontrar uma narrativa suficientemente sólida para derrubar Rui Rio. Se o partido falhar nessas duas eleições, o cenário tornar-se-á muito mais difuso.
Segundo o Observador, ainda assim, nas quatro estruturas onde verdadeiramente se decidem as eleições do PSD, Rangel teria conforto em pelo menos duas. Mesmo se do outro lado estiver Rui Rio. Tudo dependerá da vontade do eurodeputado. No entanto, não é a primeira vez que o nome de Rangel é atirado para a corrida à liderança do PSD
Se o confronto entre Rui Rio e Paulo Rangel se vier a colocar, a narrativa anti-Rangel é relativamente fácil de construir, de pois de Paulo Rangel optar por não ir a votos contra Rui Moreira e afastar candidatura à autarquia portuense. Aos olhos de alguns dos mais próximos apoiantes de Rui Rio, essa será sempre uma mancha no currículo de Rangel.
Apesar de ter sido sempre a sua aposta principal, Rui Rio compreendeu as razões de Paulo Rangel e não ficou chateado com o eurodeputado. Em fevereiro, em entrevista ao Observador, o presidente do PSD assumiu que o convite tinha sido feito mas desvalorizou a nega.
Contudo, no núcleo duro de Rio, há quem não abra espaço para Rangel. Se o eurodeputado está a ganhar balanço para ir à luta, é bom que esteja preparado para o choque.