A Comissão Organizadora da Marcha do Orgulho do Porto (COMOP) lançou esta quarta-feira um abaixo-assinado, onde propõe à Comissão de Toponímia que uma das ruas tenha o nome de Gisberta, considerando ser este “um passo gigante para representatividade, bem como motivo de orgulho para a cidade do Porto”.
Em fevereiro de 2006, Gisberta Salce Júnior, uma transexual brasileira de 45 anos, prostituta e seropositiva, foi agredida e violada por 14 adolescentes durante vários dias, tendo sido encontrada morta num poço de 15 metros.
O episódio chocou a cidade do Porto e fez com que o país debatesse a intolerância, o ódio contra os homossexuais, a transfobia e a igualdade de género.
Agora, quinze anos depois, a Comissão Organizadora da Marcha do Orgulho do Porto (COMOP), fundada para combater as opressões às pessoas LGBTI+, considera, segundo o jornal digital Observador, que “está na hora de reconhecer e homenagear a vida de Gisberta Salce Júnior”.
A organização lançou um abaixo-assinado, criado juntamente com a atriz e ativista Sara Barros Leitão, onde propõe à Comissão de Toponímia que uma das ruas da cidade tenha o nome de Gisberta.
“A iniciativa tem como objetivo promover uma reflexão sobre como poderemos tornar o Porto uma cidade mais inclusiva e como poderemos combater a opressão a que as pessoas LGBT+ estão sujeitas”, lê-se em comunicado citado pelo mesmo jornal.
Acreditando que a violência de que a Gisberta foi alvo “continua presente nas ruas do Porto e um pouco por todo o país”, a COMOP considera que a comunidade trans continua “largamente exposta à mesma marginalização, preconceito e violência”.
A Marcha do Orgulho LGBT propõe ainda a criação de sessões de discussão de questões como a exclusão social, a gentrificação, a cidadania participativa ou solidariedade”, numa iniciativa intitulada “Se esta rua fosse minha”.
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A COMOP apelou ainda à criação de um plano municipal LGBTI+ no Porto para 2022, “que contemple medidas prioritárias para combater a desigualdade e a exclusão social, e impeça a violência que existe sob várias formas que a população LGBTI+ sofre ainda na cidade”.
Em declarações ao semanário Expresso, Verónica Lopes, representante do coletivo A TRAÇA — Trans Resistência: Ativismo Comunidade e Arte, disse que “o nosso pedido é simbólico, mas tem também um cunho político”. “O objetivo é, em primeiro lugar e acima de tudo, fazer uma homenagem à vida da Gisberta, daquilo que foi, do que poderia ter sido, se infelizmente não tivesse sido interrompida de forma muito violenta”.
Este crime “acabou por suscitar toda uma luta da comunidade LGBTI+ no Porto e a marcha surgiu em 2016, precisamente motivada pela revolta por aquilo que tinha acontecido”. Para Verónica Lopes, o abaixo-assinado “é uma nova tentativa para obter a resposta que nunca chegou”. “Isso seria muito importante e pode simbolizar um compromisso da cidade para tratar melhor e fazer mais por esta comunidade“, concluiu.
Esta não é a primeira vez que se pede uma rua com o nome de Gisberta. Em 2010, um projeto desenvolvido numa parceria do NEC – Núcleo de Experimentação Coreográfica, inserido no FITEI – Festival Internacional de Teatro e Expressão Ibérica, foi sugerido este nome para uma rua da cidade, mas a Comissão de Toponímia rejeitou esta proposta.
Em 2019, Sara Barros Leitão entregou um abaixo-assinado com 120 assinaturas, criado no âmbito do espetáculo “Todos Os Dias Me Sujo De Coisas Eternas”, com o mesmo objetivo. O pedido foi entregue em março de 2020, mas não obteve “qualquer resposta”.
O período de recolha de assinaturas desta terceira tentativa encerra no mês de julho e a subscrição está aberta a pessoas individuais e a coletivos.
Parabéns, ZAP. 🙂
Com tantas vítimas de violência doméstica, mulheres, mães, cidadãs lutadoras e trabalhadoras, vem logo a minoria dos LGBT’s a exigir que uma rua da cidade invicta tenha o nome de um transsexual, ilegal e tóxico-dependente!
Tenham juízo!!! Tenham vergonha!!!