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Algas poderão ser cultivadas em Marte (e sustentar a vida humana)

Investigadores da Universidade de Bremen, na Alemanha, conseguiram cultivar algas em condições semelhantes às de Marte, abrindo caminho para um potencial sistema de suporte de vida no Planeta Vermelho.

Empresas como a NASA e a SpaceX já anunciaram os seus planos para enviar pessoas a Marte num futuro próximo. No entanto, existem desafios logísticos relativamente ao suporte de vida, visto que transportar oxigénio e comida entre a Terra e Marte seria impraticável. É, por isso, necessário arranjar forma de os produzir in loco.

De acordo com o IFL Science, a solução pode passar pelas cianobactérias, uma classe de microorganismos que gera oxigénio através de fotossíntese e, ao mesmo tempo, transforma gases como o nitrogénio e o dióxido de carbono em nutrientes que podem sustentar a vida das plantas.

Como a atmosfera de Marte contém estes dois gases, os cientistas acreditam que as cianobactérias podem ser usadas para sustentar ecossistemas vivos na sua superfície.

No entanto, existe um problema: a pressão atmosférica em Marte é apenas uma fração da da Terra, o que significa que a água líquida não pode existir e, sem ela, as cianobactérias não conseguem crescer.

A construção de biorreatores que imitam as condições atmosféricas da Terra poderia resolver este problema, mas dependeria de gases transportados do nosso planeta.

Assim, a equipa de cientistas do Center of Applied Space Technology and Microgravity (ZARM), da Universidade de Bremen, na Alemanha, investigou se as cianobactérias poderiam ser cultivadas, usando apenas recursos disponíveis em Marte para evitar o transporte de materiais entre a Terra e Marte.

O artigo, publicado no dia 16 de fevereiro na revista Frontiers in Microbiology, descreve o cultivo de uma alga chamada Anabaena cyanobacteria num biorreator especialmente projetado, o Atmos.

Este aparelho, com nove câmaras de pressão controlada, permitiu que os investigadores cultivassem as cianobactérias em condições semelhantes às de Marte – 96% de nitrogénio e 4% de dióxido de carbono, a uma pressão de 100 hPae, cerca de um décimo da pressão atmosférica da Terra – e a espécie cresceu “vigorosamente”.

Verseux et al. / University of Bremen

Esquema do Biorreator Atmos na imagem C, criada por Joris Wegner

O autor do estudo, Cyprien Verseux, explicou em comunicado que “as cianobactérias podem usar os gases da atmosfera marciana, a uma baixa pressão total, como a sua fonte de carbono e de nitrogénio”, acrescentando que “isso poderia ajudar a tornar ​​as missões de longo prazo a Marte sustentáveis”.

De seguida, a equipa de cientistas recriou o regolito marciano – que é uma camada de poeira encontrada na superfície do planeta – e usou-o como substrato para o cultivo de cianobactérias.

Uma vez mais, as algas cresceram, apesar de o seu crescimento não ter sido tão bem-sucedido como nos meios de cultivo mais convencionais. Após 28 dias, as amostras cultivadas numa atmosfera semelhante à de Marte e com regolito produziram cerca de metade da clorofila daquelas cultivadas nas mesmas condições, mas em solos regulares.

Por fim, a alga Anabaena cyanobacteria foi usada como substrato para o cultivo de bactérias E. coli, que podem ser facilmente usadas ​​para criar alimentos e medicamentos, mas não são capazes de crescer em Marte.

Os resultados indicaram que a E. coli pode ser cultivada em cianobactérias secas, produzidas em condições marcianas, o que significa que a espécie poderia ser usada para apoiar o crescimento de outras culturas em Marte.

Embora as descobertas sejam empolgantes, Verseux insiste que o “biorreator, Atmos, não é o sistema de cultivo que usaríamos em Marte: destina-se a testar, na Terra, as condições que teríamos lá.”

“Mas os nossos resultados irão ajudar a orientar o projeto de um sistema de cultivo marciano”, concluiu.

Sofia Teixeira Santos, ZAP //

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