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Do confinamento ao relaxamento. O que disseram os partidos após a reunião do Infarmed

António Pedro Santos / Lusa

De acusações de um confinamento “frouxo” a pedidos de relaxamento, eis o que os partidos com assento parlamentar disseram após a reunião no Infarmed.

O Presidente da República, primeiro-ministro, presidente do parlamento e partidos reuniram-se hoje com epidemiologistas, mas desta vez por videoconferência, num momento em que o país se encontra em confinamento geral por causa da covid-19.

Durante a tarde iniciam-se, também por videoconferência, as audiências do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aos partidos com assento parlamentar, um passo que tem antecedido a renovação do estado de emergência. Hoje foram ouvidos os representantes da Iniciativa Liberal, do Chega, do PEV, do PAN e do CDS-PP.

PS

O PS considerou hoje que há resultados na redução do índice de transmissibilidade do novo coronavírus em consequência do confinamento geral, mas defendeu que as medidas devem manter-se face à ainda delicada situação do sistema hospitalar.

Pedro Cegonho defendeu que foi possível registar “resultados produzidos pelo confinamento e pelas medidas adotadas pelo Governo” na contenção da covid-19.

“A redução que se está a verificar significa que o confinamento tem produzido os resultados que se esperavam. Mas, obviamente, face à delicada e exigente situação que a frente hospitalar ainda atravessa, quer ao nível do número de internamentos, quer no que respeita a doentes em cuidados intensivos, é necessário manter a resiliência das medidas”, salientou o dirigente e deputado do PS.

Pedro Cegonho congratulou-se depois com “a forma como o confinamento está a ser interiorizado e bem compreendido pelos portugueses”.

“Nessa medida, importa continuar com o nível de medidas que temos vindo a adotar. O PS reconhece o esforço dos portugueses e a forma como compreenderam a gravidade da situação”, declarou.

PSD

O PSD considerou que o atual confinamento terá de ser prolongado até “meados, fim de março” por o Governo “ter sido frouxo” e “não ter agido a tempo” no combate à Covid-19.

Em declarações aos jornalistas no Parlamento, depois da reunião por videoconferência com epidemiologistas que decorreu esta terça-feira de manhã, o deputado e dirigente do PSD Maló de Abreu considerou, ainda assim, que do encontro saiu “um sinal de esperança” com a diminuição da curva de contágios por Covid-19 e reiterou a necessidade de “testar mais e isolar mais”.

“Como se viu, por não se ter agido a tempo, ou se ter sido frouxo como foi este Governo, possivelmente este confinamento, dito pelo próprio primeiro-ministro, vai prolongar-se até ao fim de março, o que tem efeitos graves na economia portuguesa”, criticou.

“Se nos falam em meados, fim de março – e como os prazos que o Governo apresenta para tudo nunca são cumpridos – nada de bom nos espera destes prazos”, acrescentou.

 

PCP

O dirigente comunista Jorge Pires classificou hoje como “inaceitável” que se mantenha o atual confinamento geral para combater a epidemia de covid-19 até ao final do mês de março, tal como “anunciado pelo primeiro-ministro”.

“Apesar da descida sustentada do número de incidências e a perspetiva da sua continuação no futuro imediato, o Presidente e o Governo preparam-se, tal como foi anunciado no final da reunião pelo primeiro-ministro, para manter o atual confinamento até final do mês de março, o que consideramos inaceitável porque despreza todas as consequências no plano económico, social e também de saúde, em geral, dos portugueses”, lê-se em declaração escrita.

“Ficou claro nesta reunião que uma das formas mais eficazes de combate à epidemia é avançar o mais rápido possível com o processo de vacinação, envolvendo todos os portugueses e que o grande obstáculo ao seu avanço está na falta de vacinas devido à falha de compromisso das farmacêuticas relativamente às entregas que se tinham comprometido contratualmente”, declarou o membro da comissão política do Comité Central do PCP.

Segundo Jorge Pires, “o que o país precisa é de reforçar a proteção individual, fazer a pedagogia da proteção, reforçar o Serviço Nacional de Saúde, concretizando todas as medidas aprovadas no Orçamento do Estado”.

“Dinamizar a atividade económica, garantidas todas as condições de segurança dos trabalhadores, a atividade cultural e a atividade desportiva, e, simultaneamente, garantir a proteção social a todos aqueles que perderam as suas renumerações, em parte ou no todo, e garantir o salário a 100% aos pais das crianças até aos 16 anos que têm de ficar confinadas em casa devido ao encerramento das escolas”, são outras pretensões do PCP.

BE

O BE desafiou o Governo a deixar os anúncios e “passar à prática” nas medidas de apoio devido à pandemia, sobretudo tendo em conta o prolongamento anunciado do confinamento, defendendo uma mudança “muito clara” na estratégia de testagem.

O deputado do BE Moisés Ferreira falou aos jornalistas no Parlamento, em Lisboa, considerando que o confinamento que vai continuar “é um dos caminhos que é necessário manter durante algum tempo” para baixar a pressão sobre o SNS e quebrar cadeias de transmissão.

“O Governo tem de perceber, de uma vez por todas, que se não quer ser responsável pelo agravamento das desigualdades, da pobreza, do desemprego, tem de se deixar de anúncios [de medidas de apoio] e tem de passar à prática. Já vamos com quase um ano de pandemia e há medidas que nunca saíram do papel”, desafiou.

O repto para que as medidas de apoio cheguem finalmente à vida das pessoas foi uma das principais ideias transmitidas por Moisés Ferreira, “sabendo que durante mais algumas semanas o país terá de continuar a enfrentar este confinamento”.

CDS

O CDS-PP defendeu esta terça-feira o envolvimento de militares num “robusto plano de testagem rápida” que permita a identificação das cadeias de contágio da Covid-19 e responsabilizou o Governo pelo “descontrolo da pandemia”.

Num comunicado enviado à Lusa no final da reunião com especialistas por videoconferência, na qual foi analisada a situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal, os centristas propõem que as Forças Armadas “sejam também associadas à execução de um robusto plano de testagem rápida para rastreio das cadeias de contágio, que os técnicos hoje defenderam nesta reunião como condição de um desconfinamento em segurança”.

A porta-voz do CDS-PP, Cecília Anacoreta Correia, que assina a nota, refere que “os dados hoje apresentados revelam que o confinamento decretado em finais de janeiro se deveu a uma reação tardia e laxista por parte do Governo”.

“O Governo tinha a responsabilidade de aplicar uma política de precaução e de antevisão de cenários, coisa que irresponsavelmente não fez”, critica a dirigente centrista, argumentado que o executivo “optou pelo caminho mais fácil de ir respondendo gradualmente ao evoluir da situação, sempre atrás do prejuízo”.

A centrista salienta igualmente que o Serviço Nacional de Saúde “não merecia ter sido deixado à mercê do improviso”.

PEV

O Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) defendeu que o Governo deveria negociar vacinas com “outros fornecedores”, estranhando que o executivo “esteja preso” ao compromisso nesta área com a União Europeia.

“Ouvimos por parte dos técnicos que vamos atingir os objetivos do plano de vacinação se as vacinas chegarem atempadamente, mas para isso é preciso ter vacinas. Preocupa-nos este atraso e, da parte dos Verdes, não percebemos porque é que o Governo português deixa de estar preso a este compromisso com a União Europeia e avança para outros fornecedores”, defendeu a deputada Mariana Silva, sem especificar a quais se referia em concreto.

Questionada se o partido irá manter o voto contra a provável renovação do estado de emergência, a deputada do PEV respondeu afirmativamente.

“Sim, vamos manter até com outra preocupação, o desconfinamento que, depois de tantas declarações de estado de emergência, pode ser entendido como um momento de relaxamento e voltarmos a subir os números”, afirmou.

IL

O deputado e presidente da Iniciativa Liberal defendeu que, no final de fevereiro, “há condições” para ponderar o relaxamento de “algumas medidas” que considera mais danosas para a “desigualdade na educação e saúde mental”.

Questionado sobre a possibilidade de Portugal manter o atual confinamento até final de março, admitida publicamente pela ministra da Saúde, o deputado e dirigente da IL disse ter “ficado surpreendido por o primeiro-ministro ter dado isso como adquirido”, referindo-se à parte fechada da reunião do Infarmed.

“Penso que haverá, a partir de final de fevereiro, condições para reponderar, com muita prudência, com muito rigor, relaxamentos de algumas das medidas. Eu começaria pelas mais danosas, quer para a desigualdade da edução quer para a saúde mental”, afirmou, considerando que mais seis semanas de confinamento geral podem tornar este problema “irreversível” em parte da população.

Cotrim Figueiredo disse ter sentido na reunião com Marcelo Rebelo de Sousa “grande recetividade” para os alertas da Iniciativa Liberal, nomeadamente de que é preciso “uma estratégia alternativa” de combate à pandemia.

Chega

O presidente do Chega acusou o Governo de andar “a correr atrás do prejuízo, sempre um passo atrás” no combate à epidemia de Covid-19, e pediu “sinais” de reabertura de escolas e pequeno comércio, designadamente restaurantes.

André Ventura admitiu mesmo “rever o sentido de voto” sobre o próximo decreto presidencial de estado de emergência se o documento acautelar o desconfinamento progressivo e cuidadoso dos setores do ensino e do comércio de rua e hotelaria, em declarações aos jornalistas nos Passos Perdidos do Parlamento.

O deputado único do partido da extrema-direita parlamentar votou a favor da imposição inicial do estado de emergência, absteve-se depois num segundo, terceiro e quarto momentos e votou contra nas seguintes seis ocasiões.

“Ficou claro que o Governo anda a correr atrás do prejuízo e a lutar contra esta pandemia sempre um passo atrás“, resumiu, referindo-se à 15.ª reunião do Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde) sobre a evolução da situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal, que voltou a juntar peritos, titulares de órgãos de soberania, forças políticas e parceiros sociais.

ZAP // Lusa

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