O início do campeonato foi prometedor. Mas uma visita ao Bessa começou a mudar o percurso de uma equipa que, após algumas jornadas, passou de primeiro para quarto classificado. Várias questões se levantam.
Muitas mudanças, quer no plantel, quer na equipa técnica. Muitos milhões de euros gastos no mercado. Uma figura do clube de volta ao banco para comandar a equipa. Muita expectativa, antes do início da temporada.
A ida à Grécia terminou mal. A derrota por 2-1 contra o PAOK – na altura liderado por Abel Ferreira – ditou um afastamento precoce e inesperado do Benfica da Liga dos Campeões. E logo no primeiro jogo após o regresso de Jorge Jesus. A época ficou condicionada e o mercado também.
Mas o campeonato começou e as coisas foram diferentes.
Logo na primeira jornada, deslocação perigosa a Famalicão, mas vitória esclarecedora por 5-1. Nos quatro jogos seguintes na Liga, quatro triunfos; e só um deles é que foi apertado, diante do Farense (3-2). Este arranque no campeonato pode ter deixado a ideia de que haveria um “passeio interno” do Benfica.
No entanto, chegou novembro com a derrota surpreendente no Bessa por 3-0 (o Boavista ainda não tinha vencido). Seis dias depois, derrota em casa contra o Sporting de Braga por 2-3 (esteve a perder por 0-3). O panorama tremeu.
Entre a oitava e a décima primeira jornada, o Benfica ganhou sempre. Quatro vitórias consecutivas e a motivação voltou. Mas nova mudança de mês ditou maus resultados: em janeiro o Benfica jogou quatro vezes no campeonato e só ganhou uma vez, empatando nos outros três duelos sempre a uma bola. Logo no primeiro dia de fevereiro, perdeu contra o Sporting por 1-0.
Ou seja, nas últimas cinco jornadas só ganhou uma. E nas últimas 11 rondas, venceu cinco.
O que falha?
Vamos por sectores. Na baliza está um bom guarda-redes, não haverá muitas dúvidas. Mas quando Vlachodimos se afasta da baliza, a confiança não parece ser a ideal. O caso mais evidente surgiu no terceiro golo sofrido contra o Sporting de Braga e voltou a ser evidente já nesta segunda-feira, no golo tardio e decisivo do Sporting.
Na defesa, Gilberto não convence (mas continua a ser titular). A dupla experiente, composta pelos reforços Otamendi e Vertonghen, já foi alvo de várias críticas e apontada como principal responsável dos golos sofridos em alguns jogos (mas continuam a ser titulares). Rúben Dias, pouco depois da saída da Liga dos Campeões, foi para Manchester. Grimaldo não compromete mas também não brilha.
O “miolo” do meio-campo já foi considerado fraco, por Carlos Manuel. E não há consistência. Joga lá Taarabt, joga lá Gabriel (longe do que já mostrou na Luz), joga lá Weigl, joga lá Pizzi (o mais utilizado entre os quatro, mas afastado dos números da época passada). E já jogou Samaris, também.
O início do campeonato demonstrou uma dupla que, supostamente, chegara para ficar: Darwin e Waldschmidt. No entanto, o uruguaio tem andado desaparecido – Rafa passou a ser o centro das operações no ataque – e o alemão quase nem joga, agora.
Everton demora a justificar os 20 milhões de euros gastos; quando está no relvado, parece que nem está, na maioria das vezes. E, no meio de vários reforços, o melhor goleador da equipa é Seferović (e é o menos utilizado entre estes cinco nomes).
E, logo no início da época, saiu Vinícius… o melhor goleador do campeonato anterior.
Ausência e balneário
E há um nome que não pode ser esquecido: André. André Almeida nunca foi a “estrela” do Benfica ao longo destes 10 anos mas, desde que passou a ser titular absoluto, foi dando estabilidade a defender e, com o passar do tempo, foi aparecendo cada vez mais – e melhor – no ataque. Lesionou-se com gravidade e nota-se a sua ausência.
Além disto, algo está mal “na cabine”, como disse Gaspar Ramos, antigo chefe do departamento de futebol do Benfica, em declarações à Antena 1. Haverá um fator psicológico nesta quebra. Fica a sensação de que, mentalmente, os jogadores não estão bem.
Jorge Jesus continua a não ver em campo o estilo de jogo que pretende e, ainda mais surpreendentemente, não tem sido o treinador que era até 2018, quando deixou o Sporting: está mais “suave”, menos aguerrido, possivelmente menos motivado. Até o rival, mas amigo, Sérgio Conceição já disse a Jesus que quer vê-lo mais “vivo”.
Sendo ou não sendo estes motivos a origem deste percurso, a classificação coloca o Benfica a nove pontos do líder Sporting e no quarto lugar, embora empatado com o Sporting de Braga; com o Paços de Ferreira a somente dois pontos de distância.
“Sendo ou não sendo estes motivos a origem deste percurso”. É assim que olho para o jornalismo futebolístico. Pode ser qualquer coisa, de preferência aquilo que “eu” acho que é mas… pode ser outra coisa qualquer. Na televisão são horas de programas com esta malta a discutir não sei bem o quê. Nem eles devem saber.
Caro leitor,
Permita-nos um reparo. O seu comentário, sem prejuízo do mérito que possa ter na generalidade do tema que aborda, é despropositado neste artigo, e despropositadíssimo no parágrafo particular que invoca.
O texto cita afirmações de ex-jogadores e ex responsáveis do Benfica, como Carlos Manuel e Gaspar Ramos (não são uns quaisquer comentaristas, são quem são), e fecha a peça concluindo que, quer se concorde com os motivos apontados por estes, quer não… facto, facto, facto, facto.
Já pensaram em mandar o Jesus outra vez para o brasil, estou farto dele.
JJ deve estar a fazer para o mandarem embora e, assim, meter uns milhões ao bolso. A direção o que é que anda a fazer? Não sabe reunir toda a malta e dar uns murros na mesa? Um clube tão grande e com estes canalhas tão pequenos. É hora do mundo benfiquista começar a exigir determinação e garra a esta garotada vigarista.
Zé Torres, parabéns!
Excelente síntese do futebol e seu jornalismo!
Mas há gostos para tudo…
Gostos ? Gostos são as saudades que tenho dos jogos em canal aberto ao domingo. Dos narradores que relatavam os jogos em vez de falar da cor das cuecas da mulher do jogador x ou y, levou na festa abc e que… bla bla bla. Saudades do jogo, de o apreciar em vez do que anda à volta dele. O que aconteceu é que tornaram o que era acessório, no importante. E isso, é que eu não gosto.
Os problemas do Benfica são transversais à sociedade portuguesa:
1 – Novo riquismo. Viram-se com dinheiro de uma venda extraordinária e de vários anos de excedentes e, ao invés de continuarem no mesmo caminho, foram gastar milhões em jogadores que tardam em afirmar-se, se é que alguma vez o farão… Lembro-me que em 2000, também o Estado, quando beneficiou do jackpot dos juros baixos, ao invés de reduzir a dívida, foi criar o Rendimento Mínimo… Hoje, é o que é!
2 – Eternização. Vieira, e quem o rodeia, tem o mérito de ter resgatado o Benfica do estado comatoso em que estava. No entanto, a sua missão está cumprida. Ficam as infra-estruturas, fica uma estrutura organizada. Fica um clube com receitas, com prestígio, etc. No entanto, nos últimos anos, o compadrio e a corrupção estragaram tudo. Um pouco como Soares e Cavaco, cujas histórias com diamantes, terrenos, acções e casas são conhecidas.
3 – Arrogância. Vamos Arrasar!… Como a segunda fase da pandemia tem mostrado, o Portugal da primeira vaga é bem diferente. Também estamos a arrasar.
4 – Sebastianismo Messânico. JJ voltou. Voltou o rolo compressor. Veja-se: Marcelo à primeira volta, como se fosse capaz, e tivesse competências, para salvar o país!
5 – Negação. O Benfica tem hoje um vasto património. Mas uma dívida colossal. Portugal está preparado para os desafios. No entanto a dívida que todos temos às costas são, segundo noticiou já esta semana o Jornal de Negócios (https://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/divida-publica-dispara-para-maximos-de-quatro-anos-nos-1337-do-pib), 270,4 mil milhões de euros, ie, 27 mil euros por cabeça… E quanto custam os juros desta dívida?
Bem preparado este comentário!
Será que a moleta das amizades e compadrios comece a falhar? Poderá haver algum receio mesmo que a justiça pareça estar em hibernação.