Um jornalista teve acesso ao chat privado de Telegram onde membros da extrema-direita norte-americana planeiam os seus próximos passos após o ataque ao Capitólio.
O ProPublica conseguiu acesso ao chat privado de Telegram composto por membros de extrema-direita dos Estados Unidos, alguns dos quais ligados à invasão ao Capitólio, no dia 6 de janeiro. Entre as mensagens trocadas são revelados alguns dos seus planos.
Edward “Jake” Lang recrutou membros para uma milícia com o objetivo de contestar a nova administração Biden através deste grupo apenas para convidados.
“Todos precisam de adicionar 5 patriotas neste grupo esta noite, esse é o objetivo 🙌🏻🇺🇸🗽”, escreveu Lang no chat da aplicação de mensagens, apenas três dias após o ataque e uma semana antes de ser detido por agentes do FBI. “Precisamos que cada pessoa saia e lute por novos membros desta Milícia como se as nossas vidas dependessem disso”.
O ProPublica teve acesso às conversas após Lang ter enviado um convite para um dos seus jornalistas. Não se sabe se Lang sabia que estava a convidar um membro da comunicação social. O chat foi criado dois dias depois da invasão ao Capitólio e, em apenas uma semana, chegou quase aos 200 membros.
Quando novos membros se juntavam ao grupo, Lang recomendava que permanecessem anónimos, escondendo o número de telemóvel e alterando o nome. Além disso, apelou aos membros que evitassem conversa fiada e quaisquer detalhes sobre ações futuras.
O Telegram, ao contrário de outras redes sociais, permite aos seus utilizadores manter o anonimato e trocarem mensagens encriptadas uns com os outros.
Os participantes foram informados que seriam examinados “para ter certeza de que são quem dizem ser”, antes de serem adicionados aos chats do seu grupo local por líderes regionais.
As mensagens trocadas neste grupo mostram ainda que alguns dos envolvidos na invasão ao Capitólio pareciam empenhados em planear e participar em novos atos de violência. Estes apoiantes de Donald Trump continuam convencidos de que as eleições norte-americanas foram fraudulentas e que Joe Biden não devia ter sido declarado Presidente.
“Esta tem sido uma das minhas preocupações a curto prazo: que as pessoas mais fervorosas estejam a procurar-se de uma forma que pode levar a alguns surtos de violência a curto prazo”, disse Amy Cooter, professora de Sociologia da Universidade Vanderbilt, em Nashville, Tennessee, nos Estados Unidos.
Lang usou repetidamente fotografias e vídeos dele durante o ataque ao Capitólio para enfatizar a importância da organização de estilo militar em ataques futuros.
Embora a ideia fosse organizar uma estratégia coerente antes de 20 de janeiro, quando Joe Biden tomasse posse, o grupo não chegou a consenso, já que nada indica que tenham agido. Cooter explica que isto se pode dever ao facto de os novos membros do grupo serem “guerreiros de teclado”, os chamados ‘treinadores de bancada’.
“Não sabemos com certeza e não acho que podemos ser complacentes com um risco real, mesmo de uma pequena minoria de tais grupos”, realçou a especialista.
Josh Pasek, professor de ciência política e comunicação e media da Universidade de Michigan diz que “o motim do Capitólio não é o fim de muita coisa” e que “o que acontece online pode mover-se offline”, razão pela qual não se pode ignorar grupos como estes.