O Ministério Público (MP) abriu um inquérito sobre a morte de um idoso, de 87 anos, na passada segunda-feira, no hospital de Portalegre, depois de estar quase três horas numa ambulância.
Questionada pela agência Lusa através de correio eletrónico, fonte da PGR confirmou “a instauração de inquérito” sobre o caso, o qual se encontra em investigação no Ministério Público de Portalegre. Também o hospital de Portalegre já anunciou a abertura de um inquérito interno para apurar as circunstâncias da morte do homem, utente de um lar em Cabeço de Vide, no concelho de Fronteira, naquele distrito.
A abertura de inquérito na unidade foi anunciada à Lusa, na madrugada de terça-feira, pelo presidente do conselho de administração e pelo enfermeiro-diretor da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA), Joaquim Araújo e Jorge Marques, respetivamente.
Os responsáveis indicaram, então, que o idoso foi triado dentro da ambulância que o transportou até ao hospital, na qual esteve, pelo menos, duas horas e 44 minutos, devido à zona dedicada à covid-19 no Serviço de Urgência estar lotada.
Segundo as mesmas fontes, o idoso foi inscrito no hospital às 16:29 e triado por um enfermeiro, dentro da ambulância, seis minutos depois, às 16:35. “O doente é totalmente dependente, é trazido [ao hospital] por dispneia [falta de ar] de um lar de Cabeço de Vide, onde há um surto de covid-19, razão pela qual entra no circuito ‘covid’”, explicaram.
No entanto, de acordo as fontes da ULSNA, o doente não estaria infetado pelo vírus que causa a covid-19, informação que apenas terá sido obtida pela unidade hospitalar após ter sido declarado o óbito. Na sequência da triagem, foi possível apurar que o doente não estava “dispneico pela saturação baixa [de oxigénio]” e foi-lhe atribuída a pulseira amarela.
“Na altura em que é triado, o enfermeiro fala com a médica que passa pela ambulância” para “ver o doente, pois, a área dedicada a doentes respiratórios estava lotada, tendo a médica confirmado que o doente estava estabilizado”, disse Jorge Marques.
Às 19:13, uma enfermeira em funções de chefe de equipa foi abordada por um bombeiro, que a informou que o octogenário “estava pior”, tendo o idoso sido assistido, de imediato, na ambulância. Dali, ainda de acordo com as mesmas fontes, foi levado para a sala de reanimação da área dedicada a doentes respiratórios, onde o óbito acabou por ser declarado 17 minutos mais tarde, às 19:30.
Inquérito do MP a morte de doente é “natural”
Entretanto, a administração do hospital de Portalegre considerou “natural” a abertura de um inquérito pelo Ministério Público à morte do idoso de 87 anos.
Contactado pela Lusa, Joaquim Araújo, considerou “natural” a decisão do MP.
O mesmo responsável revelou ainda já ter recebido um ofício da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) a questionar sobre os factos: “Recebi um ofício da ERS para remeter informação relativamente às circunstâncias” em que ocorreram os factos.
Quanto ao inquérito interno que a ULSNA mandou instaurar, anunciado na madrugada de terça-feira, está a decorrer, devendo ficar concluído, “mais ou menos” no espaço de uma semana, estimou Joaquim Araújo.
ZAP // Lusa