Investigadores ligados à Universidade do Algarve consideram que o Governo devia encetar uma discussão sobre o aumento dos preços dos bilhetes de bens patrimoniais, acompanhado de um incremento na oferta de conteúdos daqueles espaços.
Os três investigadores responsáveis pelo relatório “Património e território”, no âmbito do programa Cultura 2020, João Pedro Bernardes, Luís Filipe Oliveira e Ricardo Moreira, concluem, no documento, que os bens patrimoniais ligados à administração central podem garantir um impacto económico entre os 20 milhões e os 100 milhões de euros por ano.
No entanto, numa conversa com os três, Ricardo Moreira afirmou ser importante compreender que “a maior parte do valor gerado pelo património não é pelo património, ou seja, não é o bilhete que se compra”, sendo este “razoavelmente baixo e tendencialmente mais baixo em Portugal do que em qualquer país europeu”, mais ainda no público do que no privado.
O investigador, economista de formação, declara não compreender “que uma Fortaleza de Sagres tenha um preço que andará à volta dos três euros de entrada, e o museu do FC Porto tenha o preço de 12 euros“.
João Pedro Bernardes realça, por seu lado, que é preciso ter atenção e complementar o aumento do valor com a oferta de algo diferente, em termos de conteúdos.
“Entra-se num círculo que pode ser ou positivo ou negativo, não se oferece nada e, portanto, não cobramos bilhete e, portanto, não temos dinheiro para oferecer nada”, afirmou Ricardo Moreira, que alertou ser necessário manter o acesso privilegiado a determinadas faixas da população, como consagrado em lei.
No relatório final, pode ler-se que “pese embora a imprevisibilidade dos efeitos do património ao longo do tempo (…) é seguro afirmar que todos os investimentos em património têm proveitos sociais e económicos“.
O documento recomenda que se privilegie “o investimento em conteúdos, alterando as percentagens de alocação entre o investimento em obra e na produção de conteúdos, com o intuito de aumentar os índices da fruição, e como tal de públicos, o que no futuro possibilitará, tendencialmente, novos investimentos em obra/manutenção”.
Os autores do relatório recomendam ainda que se aposte “na reabilitação e qualificação de edifícios com potencial elevado de atração de públicos, criando dessa forma receitas futuras disponíveis para o investimento em outros imóveis”, enquanto “numa perspetiva de longo prazo [se recomenda] apostar em bens patrimoniais capazes de dinamizar regiões/locais economicamente deprimidas, como forma de política regional. As duas perspetivas deverão ser implementadas de forma simultânea e complementar”.
Onze museus, palácios e monumentos do país, dos 24 sob tutela da Direção Geral do Património Cultural (DGPC), aumentaram o preço dos bilhetes entre 50 cêntimos e três euros, desde o passado dia 1 de junho, para preços de entrada que variam entre os 2,5 euros, no Museu de Arte Popular, em Lisboa, e os dez euros, no Mosteiro dos Jerónimos.
Desde essa data, as entradas gratuitas aos domingos também passaram a verificar-se apenas no primeiro de cada mês, durante todo o dia, em vez de todas as manhãs de domingo.
/Lusa