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“A Leiteira”. Filme censurado na Nigéria é possível candidato aos Óscares

(cv)

“A Leiteira” é um potencial candidato aos Óscares. Na Nigéria, o filme foi parcialmente censurado, com o Governo a cortar algumas das cenas mais poderosas.

“A Leiteira” é um filme nigeriano, escrito e realizado por Desmond Ovbiagele, que é potencial candidato à próxima cerimónia dos Óscares. O filme conta a história de Zainab, uma leiteira de uma minoria étnica africana que enfrenta extremistas religiosas na procura pela sua irmã desaparecida.

A crítica cinematográfica argumenta que é o melhor filme nigeriano dos últimos anos. No entanto, o Conselho Nacional de Censores de Cinema e Vídeo da Nigéria não é particularmente fã.

O Governo nigeriano não ficou satisfeito com a versão final do filme e censurou diversas cenas, com medo que pudesse ofender os muçulmanos. Foram removidos cerca de 24 minutos do filme original, salienta o portal OZY.

Desta forma, a longa-metragem ficou desprovida de alguma das cenas mais impactantes e poderosas. Outras cenas retiradas soam banais ao cidadão ocidental moderno. Por exemplo, uma delas envolve uma personagem feminina a manifestar desejo sexual.

“Qualquer coisa que possa causar um alvoroço não deve ser incluída porque sabemos onde estamos como sociedade”, avisou Alonge Oyadiran, diretor do Conselho de Censura. O realizador, Desmond Ovbiagele, discorda.

“Algumas coisas não faziam sentido. Tivemos que cortar tudo – guarda-roupa, linguagem, diálogo que era uma representação autêntica de uma religião em particular, embora não haja nada no filme que afirme que a religião foi diretamente responsável pela violência”, argumenta o artista.

A versão original do filme foi enviada para os Óscares, mas apenas a versão censurada pode ser exibida na Nigéria.

O filme retrata a guerra contra o Boko Haram, a organização jihadista islâmica sunita responsável pela morte de mais de 37 mil pessoas na Nigéria. Para perceber melhor a realidade deste conflito, Ovbiagele leu milhares de páginas de notícias e relatórios, e falou com vítimas reais que escaparam à violência deste grupo terrorista.

“Os sobreviventes narravam as mais terríveis experiências de uma maneira muito desapaixonada. Eles conseguiam revelar quase casualmente como entes queridos foram massacrados à frente deles“, conta Ovbiagele.

O realizador pretende negociar com uma plataforma de streaming para que “A Leiteira” possa ser exibido sem qualquer tipo de censura.

Daniel Costa, ZAP //

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