O que era apenas um vestido do século XIX e uma caixa de fotografias retiradas de um sótão de Guildford, no Reino Unido, resultou na revelação da verdadeira e comovente história de Ranavalona III, a última rainha de Madagáscar.
A notável vida de Ranavalona é revelada graças ao leilão de objetos pessoais descobertos por um descendente de Clara Herbert, que trabalhou para a família real de Madagáscar entre 1890 e 1920, de acordo com o jornal britânico The Guardian.
Herbert era a companheira de uma rainha cujas aventuras eram matéria de ficção. Viúva aos 22 anos, foi obrigada a casar-se com um primeiro-ministro idoso, destronada após uma invasão francesa e exilada em Argel, na Argélia, até ao fim da sua vida.
O leiloeiro Kerry Taylor descobriu a história de Ranavalona a partir da caixa de fotografias, postais, lembranças, recibos e diários. “Foi o trabalho de detetive mais fascinante”, disse Taylor. “Acho que a rainha era uma mulher muito corajosa. Era muito forte na adversidade… tinha de fazer o melhor com o que a vida lhe dava”.
O marido de Ranavalona foi envenenado quando estava prestes a subir ao trono. O dedo foi apontado ao primeiro-ministro, um homem muito mais velho que tinha sido casado com duas rainhas anteriores e queria Ranavalona como a sua noiva. “Essa pobre jovem teve de casar-se com um velho horrível”, disse Taylor. “Disseram que só precisava de costurar e estar bonita.”
Durante o seu reinado, em 1895, França invadiu e anexou a ilha. Ranavalona foi inicialmente autorizada a ficar, mas as autoridades francesas acusaram a sua influente tia Ramisindrazana de incitar rebeldes malgaxes.
Ranavalona, a sua tia e outros membros da família real foram despachados para a ilha de Reunião, onde as fotografias no arquivo mostram como estavam infelizes. “Todos parecem tão chateados, magros e abatidos”, disse Taylor.
O elenco de personagens nas fotografias inclui a princesa Razafinandriamanitra, de 14 anos, grávida do filho de um soldado francês.
A família real foi colocada a bordo de um barco para França. Sonharam com Paris, mas quando atracaram em Marselha, perceberam que esse não era o plano. Ao saber que iam para Argel, Ranavalona desatou a chorar e declarou: “Quem está certo do amanhã? Ainda ontem era uma rainha. Hoje sou simplesmente uma mulher infeliz e de coração partido”.
Argel acabou por não ser assim tão mau como a família real pensava. A rainha tornou-se uma espécie de celebridade local. O arquivo inclui programas musicais dedicados a Ranavalona e uma embalagem de biscoitos com o seu retrato. “Parece uma pessoa diferente. Engordou, parece saudável e bonita… A sério, parece uma mulher totalmente diferente”, explicou Taylor.
Em 1901, Ranavalona conseguiu ir para França, onde gastou uma fortuna em vestidos e onde era seguida em todos os lugares onde ia. “As pessoas estavam fascinadas… Ela é linda, está vestida com a melhor moda francesa e é uma rainha. O que há para não gostar?”.
Após a morte de Ranavalona em 1917, a sua tia recebeu permissão para se mudar para o sul da França, acompanhada pela leal Herbert. Ramisindrazana morreu por volta de 1923 e é o seu elaborado vestido de veludo roxo escuro, provavelmente feito em Madagáscar, que acabou no sótão de Guildford, juntamente com a caixa de lembranças.
Herbert procurou trabalho brevemente em Nice antes de regressar ao Reino Unido, onde morou em Reading. A sua sede de viagens voltou e foi para a China como missionária metodista.
Segundo Kerry Taylor, é raro encontrar alta moda do século XIX de mulheres negras – “e ainda mais raro encontrar uma riqueza de documentos, fotografias e coisas efémeras para aumentar a nossa compreensão sobre eles”.
Ainda só li o título mas reparei logo no “Algéria” em vez de “Argélia”. Agora vou ler o resto na esperança de que seja corrigido. 🙂
Caro leitor,
Efetivamente, foi só no título
Uma história bonita!
Caros membros do ZAP
Não deveria ser Argélia em vez de Algéria?
Caro leitor,
Obrigado pelo reparo, está corrigido.
Até que enfim…!
Apanharam trânsito??
Esclarecendo: o termo “Algeria” provém do francês “Algerie”, que se tornou em “Argélia” no nosso idionma português.
Idioma. (*)