O Bloco de Esquerda entregou um pacote de 12 propostas de alteração ao OE2021, que inclui medidas já negociadas. A convicção geral é a de que se o Governo quisesse mesmo chegar a acordo já teria olhado para este pacote.
Há, no seio do Governo, quem considere “impossível” o acordo idílico entre o Executivo de António Costa e o partido de Catarina Martins. Os bloquistas apresentaram um pacote para as alterações na especialidade, mas no Governo só se dá por certo a existência de margem para satisfazer as exigências relativas à nova prestação social.
Segundo o Expresso, questões relativas às carreiras no Serviço Nacional de Saúde (SNS) são deixadas de fora pelo Governo, que garante ser “impensável” o documento chumbar, sobretudo nas atuais circunstâncias. Se o PCP substituir a sua abstenção pelo voto contra, a única possibilidade é o PSD salvar o OE2021 à última hora.
O Governo está nas mãos do PCP, já que o Bloco de Esquerda insiste em bater o pé nas linhas vermelhas já traçadas antes do voto na generalidade. O Executivo mostra-se irredutível em relação ao fim da caducidade coletiva e do período experimental defendidos pelo BE, e o mesmo acontece na solução do Novo Banco.
No sábado passado, Francisco Louçã propôs uma alternativa que passaria por deixar o banco fora dos mapas orçamentais e injetar dinheiro apenas depois dos resultados de uma nova auditoria, recorrendo a um orçamento retificativo, mas o Governo olha para esta ideia de lado. Diferentes fontes caracterizam-na como “rebuscada” e “bizarra”.
Mas o Executivo de António Costa não é o único a ficar desagradado. O Bloco não gostou da entrevista do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, ao Público, na qual o governante cola o partido à direita.
O partido considera que a entrevista repetiu o tom “agressivo” com que a líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, fechou o debate do Orçamento. Os bloquistas defendem que a atitude só é explicável se o Governo já contar com um acordo com o PCP para viabilizar o documento – e por isso puder dispensar os votos do Bloco.
O Governo e o PS acreditam que há ainda um caminho a fazer com o PCP na especialidade, uma vez que as propostas comunistas são diferentes das do Bloco. “O PCP sempre foi capaz de distinguir avanços das soluções [iniciais] que defende“, disse um governante em declarações ao Expresso.
Ainda não há certezas sobre a posição dos comunistas, mas na ala mais à esquerda do PS há quem não tenha gostado do tom com que alguns dirigentes pareceram colocar o Bloco de Esquerda fora de jogo. “Não devem ser os dirigentes a cavar um fosso quando um entendimento à esquerda é do interesse do eleitorado”, afirmou um deputado ao semanário.
O líder da anuição, muito provavelmente, irá dar liberdade de voto. Assim limpa a cara e o documento passa com os votos de “detractores”, que obviamente serão admoestados pelo “tribunal” interno do principal partido da anuição. Claro que será tudo para bem de “todos”.