A eventual saída do Reino Unido da União Europeia (UE) sem um acordo entre as partes pode ser “catastrófico” para os músicos britânicos, especialmente para aqueles que estão ainda a marcar a sua presença no panorama musical mundial.
A indústria musical britânica, que está já a sofrer com a pandemia de covid-19, que obrigou ao cancelamento de centenas de concertos e pode gerar mais de 170.000 novos desempregados, enfrenta agora uma nova ameaça: um Brexit sem acordo.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já admitiu que o país pode deixar a UE sem um acordo com Bruxelas, mas uma rutura nestes termos pode ser fatal para a indústria da música, segundo escreve a revista norte-americana Vice.
Uma saída sem acordo implicaria muito mais burocracia para artistas britânicos em turné pela Europa, incluindo uma série de procedimentos com vistos, autorizações de trabalho, seguros de saúde, bem como questões relacionadas como impostos.
Até viajar num veículo próprio passaria a precisar de um “cartão verde”, que pode demorar meses a ser conseguido. Para bandas mais pequenas e com menos poder económico, todos estes procedimentos tornariam extremamente caro – e quase financeiramente impossível – atuar ao vivo fora do Reino Unido.
“O teto de vidro está a ficar cada vez mais alto, ainda mais com a aproximação da perspetiva de um Brexit sem acordo”, começou por dizer à Vice Jeremy Pritchard, baixista da banda Everything Everything e membro da Featured Artists Coalition, uma entidade comercial que representa os direitos dos músicos do Reino Unido.
“Há uma grande quantidade de artistas do nível inferior ao intermédio, que inclui talentos em ascensão, a minha própria banda e muitas outras mais bem sucedidas do que nós, para os quais fazer uma turné pela Europa deixará de ser uma opção viável“, continuou.
No ano passado, Michael Dugher, à época líder da UK Music, uma organização britânica que representa os interesses coletivos do lado da produção da indústria musical, já se mostrava preocupado com a situação em declarações ao jornal britânico The Guardian.
“As super-estrelas que ganham milhões e reservam as suas tours com meses, se não anos, de antecedência são a exceção. A maioria dos artistas opera com margens mínimas e a perspetiva de custos e burocracias extra acabaria com a sua capacidade de fazer tours, desenvolver os seus talentos e construir a sua base de fãs”, disse.
Mesmo antes da pandemia de covid-19 e do cenário de um Brexit, estes artistas enfrentavam já dificuldades devido à diminuição drástica das vendas físicas face ao crescimento plataformas de streaming, como é o caso do Spotify.