A Assembleia Legislativa dos Açores passará a ter representantes de sete forças políticas, com o Chega, a Iniciativa Liberal e o PAN a chegar pela primeira vez ao parlamento regional onde o PS já não terá maioria absoluta.
Nas eleições regionais de domingo, o PS venceu com 39,13%, elegendo 25 deputados, menos cinco do que há quatro anos, o que levou a que perdesse a maioria absoluta com que governava desde 2000. Para renovar a maioria absoluta, os socialistas necessitavam de conquistar pelo menos 29 dos 57 lugares do parlamento regional.
De acordo com resultados provisórios divulgados pela Direção Regional de Organização e Administração Pública (DROAP), o PSD foi a segunda força política mais votada, com 33,74% dos votos e 21 parlamentares, mais dois do que nas últimas eleições regionais.
O CDS-PP continua a ser o terceiro partido com maior representação no parlamento regional, mas perdeu um dos quatro mandatos conquistados há quatro anos. Com 5,5%, os democratas-cristãos terão agora três parlamentares, embora a coligação que juntou o CDS-PP e o PPM no círculo do Corvo tenha conseguido eleger um deputado que, porém, integrará o grupo parlamentar dos monárquicos.
Na ‘estreia’ em eleições para a Assembleia Legislativa Regional dos Açores, o Chega foi a quarta força política mais votada, com 5.06% dos votos, e elegeu dois deputados.
O BE, que em 2016 foi o quarto partido mais votado, manteve os dois mandatos conquistados há quatro anos, com 3,6% dos votos. O PPM, com 2,34% dos votos, manteve o lugar conquistado há quatro anos e conseguiu eleger mais um deputado com a coligação que fez com o CDS-PP no círculo do Corvo.
A Iniciativa Liberal, que também concorreu pela primeira vez às eleições regionais dos Açores, teve 1,93% dos votos e elegeu um deputado. Com uma percentagem idêntica e apenas menos oito votos, o PAN chegou também pela primeira vez ao parlamento regional dos Açores, com um parlamentar.
A coligação PCP/PEV, que em 2016 tinha garantido um mandato e obtido o quinto lugar nas eleições, perdeu quase 700 votos e deixou de ter representação no parlamento regional. Nas eleições de domingo ficou em nono lugar, com 1,68% dos votos.
A Aliança, que concorreu pela primeira vez ao parlamento açoriano, obteve 0,41%, o Livre 0,35%, o MPT 0,15% e o PCTP/MRPP 0,14%. A CDU perdeu representação parlamentar.
Nas eleições de domingo, registaram-se 2,52% de votos brancos (2.618) e 1,20% de votos nulos (1.251). A abstenção foi de 54,58%, a segunda maior de sempre, mas inferior à verificada há quatro anos (59,16%).
De acordo com a DROAP, até ao encerramento das urnas na Região Autónoma, às 19:00 de domingo (20:00 em Lisboa), votaram 124.993 eleitores. Nestas eleições regionais dos Açores estão inscritos 228.999 eleitores, mas nos resultados completos disponibilizados pelas 23:00 de domingo pela DROAP estavam 229.002 inscritos (mais três).
Direita com mais mandatos do que a esquerda
Além de perder a maioria absoluta depois de 24 anos, o PS viu a direita a reunir, no total, mais mandatos do que toda a esquerda. Contas feitas, a esquerda – PS (25), BE (2) e PAN (1) – conseguiram 28 lugares no parlamento, menos um do que toda a a direita – PSD (21), CDS (3), Chega (2), PPM (1) e Iniciativa Liberal (1).
Na prática, o PS venceu as eleições, tendo mais votos do que todos os outros partidos, mas a governação pode não ser fácil, uma vez que toda a direita tem mais parlamentares.
Depois de escrutinados os resultados, o presidente do PSD/Açores disse que o partido tem “total disponibilidade para o diálogo” e para a “concertação”, após os resultados das eleições regionais, frisando, contudo, que não se comove por “posições extremistas”.
“Do ponto vista do quadro parlamentar que hoje existe, posso garantir-vos humildemente a minha total disponibilidade para o diálogo, para a concertação, e não haverá nenhuma declaração unilateral sem antes interpretarmos a vontade do povo”, declarou Bolieiro.
O Chega, por sua vez, já fez saber que não se “não governa com partidos do sistema“, recordando que foi o PSD que se afastou do partido. “Amanhã ao almoço, quando estiverem todos sentados a definir um acordo de coligação, eu sei que partido não vai lá estar. Esse partido é o Chega”, afirmou André Ventura, em reação aos resultados finais das eleições legislativas regionais, num hotel de Ponta Delgada.
“Nós temos valores e convicções. Ou aceitam ceder e juntar-se a nós nestas convicções ou nós não aceitamos vender-nos por lugares, nem por governabilidades, nem por chantagens, que é isso que os outros partidos estão a fazer”, acrescentou.
A hipótese de uma “geringonça” à direita parece não ser exequível face às palavras de André Ventura. Ainda assim, não se sabe como será a governação dos Açores.
Bloco admite acordos pontuais com o PS
O Bloco de Esquerda (BE) saudou no domingo o “resultado extraordinário” do partido nas eleições regionais nos Açores, ganhas pelo PS, e disse estar disposto para acordos pontuais e ajudar a “construir pontes” para uma maioria no parlamento.
Em declarações aos jornalistas, Pedro Filipe Soares, líder parlamentar e membro da direção do partido, afirmou que os bloquistas não vão apresentar uma moção de rejeição de um programa do Governo do PS, que perdeu a maioria absoluta no domingo, nem votarão ao lado da direita para chumbar uma moção desse tipo.
“Sabemos que aos nossos votos têm de ser somados mais votos para garantir que esse caminho é feito, mas não nos compete a nós a construção desse caminho, compete ao PS como partido mais votado construir as pontes para esse caminho”, afirmou, numa referência implícita a acordos pontuais com os socialistas, “medida a medida, proposta a proposta, orçamento a orçamento”.
Já o líder do CDS-PP/Açores, Artur Lima, reiterou no domingo que o partido só viabiliza compromissos eleitorais, mas sublinhou que não deixará a região numa situação de “ingovernabilidade” na próxima legislatura.
“O CDS sempre disse que viabiliza os seus compromissos eleitorais e os compromissos com os açorianos. É isso que vamos viabilizar. O CDS é um partido responsável e não deixará os Açores numa situação de ingovernabilidade”, afirmou.
Questionado sobre possíveis coligações com PS ou PSD para formação de governo, Artur Lima disse que iria “conversar, naturalmente”, mas não revelou qual a solução que preferia. “O CDS é um partido responsável. Com certeza que vamos ponderar as opções, com responsabilidade, pondo em primeiro lugar o interesse dos açorianos. É isso que vamos fazer, serenamente, sem precipitações, porque o nosso interesse era fazer vingar a democracia”, frisou o responsável.
A reação dos líder partidários
O secretário-geral do PS saudou a “sétima vitória consecutiva” alcançada pelo seu partido nas eleições regionais dos Açores e invocou a autonomia regional para remeter para os socialistas açorianos a “construção das soluções” de governo.
Perante os jornalistas, António Costa citou uma afirmação momentos antes proferida pelo presidente do PSD, Rui Rio: “Matematicamente o PS ganhou”.
Interrogado sobre o facto de existir uma maioria à direita do PS na nova Assembleia Legislativa Regional dos Açores, António Costa referiu que os socialistas dos Açores “gozam de total autonomia”. “Não cabe ao secretário-geral do PS pronunciar-se sobre a forma que o PS/Açores encontrará para, a partir da vitória que os açorianos lhe deram, construir as soluções governativas. Tenho a certeza de que Vasco Cordeiro saberá encontrar as melhores vias para responder à situação e cumprir o mandato que lhe foi conferido”.
Já presidente do PSD, Rui Rio, rejeitou intrometer-se nas decisões da estrutura regional dos Açores, mas admitiu que, tendo em conta o fracionamento da direita, “não é fácil conseguir juntar todos os partidos” numa maioria.
“Em face destes resultados, a governabilidade dos Açores não é simples, porque a esquerda não consegue maioria”, afirmou.
Sendo “verdade que a direita tem mais do que a esquerda” e que “a direita toda, efetivamente, consegue” atingir uma maioria, Rui Rio apontou que “a direita toda é muito fracionada, tem muitos partidos e, portanto, é algo que não será fácil”.
“Não me quero intrometer naquilo que é uma decisão que cabe à comissão política regional dos Açores, e sabem que isto é sempre melindroso. As autonomias são sempre muito ciosas da sua autonomia”, justificou, perante a insistência dos jornalistas para uma abertura do PSD em juntar-se aos partidos de direita que conseguiram eleger deputados.
CDS canta vitória, PCP lamenta resultado
O presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, defendeu que os resultados das eleições regionais dos Açores mostram que as notícias sobre a morte do partido foram “manifestamente exageradas” e representaram uma vitória da “direita moderada”.
Numa reação aos resultados do partido nos Açores – onde conseguiu três deputados em listas próprias (menos um do que há quatro anos) e outro em coligação com o PPM) – o líder do CDS salientou que o partido se manteve como a terceira força política nos Açores.
“Estão bem recordados que disse no Congresso de janeiro que à direita lidera o CDS e, no primeiro teste eleitoral, que muitos quiseram dizer que era o teste desta direção, o CDS provou que à direita lidera o CDS-PP”, afirmou, na sede nacional do partido, onde foi recebido em clima de festa, com muitas palmas.
“Mais uma vez, as notícias sobre a morte do CDS-PP foram manifestamente exageradas e desmentidas em urnas”, acrescentou.
Por sua vez, o secretário-geral do PCP lamentou o resultado “particularmente negativo” do partido nos Açores, onde ficou sem representação, apontando que a perda de maioria absoluta do PS traduz “descontentamento crescente”.
“A perda de representação parlamentar pela CDU constitui um resultado particularmente negativo na vida política regional, um significativo empobrecimento democrático e sobretudo uma fragilização da intervenção em defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo açoriano, como aliás já foi comprovado entre 2004 e 2008, período em que a CDU não teve representação parlamentar”, apontou o líder comunista.
Para o PCP, os resultados das eleições regionais de domingo “ficam marcados pela perda da maioria absoluta do PS”. “A perda da maioria absoluta é em si um sinal que, sem poder ser absolutizado, traduz o descontentamento crescente face a uma governação que tem avolumado problemas, agravado os problema sociais, o desemprego e a pobreza, condicionado o desenvolvimento da região”, sustentou.
ZAP // Lusa
Não fosse a posição do Chega o centro/direita estariam na situação de arrebatar o poder ao PS nos Açores tendo em linha de conta o mesmo que o PS nacional fez ao apoderar-se do poder no continente, as lições são para aprender!
Será que os Açores foi o início da queda do PS e dos comunistas no continente?seria óptimo.