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Não é o tamanho das cidades que define a bondade das pessoas (é o dinheiro que têm)

A sabedoria convencional diz que as pessoas de cidades grandes têm menos probabilidade de ajudar estranhos, do que pessoas que moram em cidades mais pequenas. Especialistas em comportamento de Londres consideram que os fatores socioeconómicos são, afinal, a resposta para esta diferença.

Um novo estudo publicado esta semana sugere que a oferta de assistência está associada a fatores socioeconómicos, tendo pouco a ver com o anonimato ou com o ritmo acelerado da vida urbana.

Investigadoras da University College London fizeram uma experiência em 37 vizinhanças diferentes de 12 vilas e 12 cidades no Reino Unido – o objetivo era observar se as pessoas levavam uma carta perdida aos correios para ser enviada, se devolviam um objeto caído no chão e se paravam o carro para permitir que alguém atravessasse a rua.

A autora principal, Elena Zwirner, decidiu realizar pessoalmente as experiências com objetos caídos e travessias rodoviárias, e deixou cartas endereçadas a ela própria nos para-brisas dos carros ou caídas na calçada. As cartas iam acompanhadas de uma nota que dizia: “Pode enviar isto por mim, por favor? Obrigada.”

No total, existiram 1.367 situações em que um estranho teve a oportunidade de ajudar a investigadora e, em 47% das ocasiões, a ajuda foi dada. Os dados mostraram que 55,1% cartas foram entregues, 32,7% pessoas devolveram objetos caídos e 31,1% dos carros pararam para deixar alguém atravessar a estrada.

De acordo com o The Guardian, ao contrário de muitos estudos mais antigos, esta pesquisa analisou o comportamento no mundo real, ao invés de inquéritos online – e os investigadores descobriram que a principal variável foi o nível de riqueza do local e não a densidade populacional.

Nichola Raihani, outra autora do estudo, disse que o conhecimento popular de que as pessoas são mais amigáveis ​​em cidades pequenas é apoiado por estudos mais antigos, que tendiam a comparar uma zona central de uma cidade a uma terra rural.

Mas a abordagem das duas especialistas, que mediu comportamentos de ajuda em zonas mais ricas e noutras mais pobres, encontrou um resultado diferente.

“A diferença entre o facto de a ajuda ser, ou não, oferecida foi explicada pela riqueza do local, com a ajuda a ser mais esperada em sítios de maior riqueza”, revelaram as autoras no artigo publicado no Proceedings of The Royal Society B.

Segundo Raihani, o estudo não revelou se foi a privação experimentada pelas pessoas menos ricas que afetou a sua probabilidade de ajudar um estranho, ou se foi o facto de estar num ambiente mais pobre que mudou a sua disposição de ajudar.

Outro aspeto que o estudo não investigou – já que foi conduzido em grande parte por Zwirner, uma mulher branca – foi o papel do sexo, etnia e sotaque na solicitação de ajuda a estranhos.

As descobertas do estudo não indicam que as pessoas que moram em bairros pobres não ajudam. Mas quando as pessoas não têm segurança material tendem a investir numa rede social mais pequena – sendo que a ajuda e cooperação dentro dessa rede são muito altas, mas não necessariamente fora delas.

“Ajudar outra pessoa é inerente a um risco, há um custo quando se ajuda alguém e pode, ou não, obter-se um retorno sobre o investimento”, disse Raihani.

“Então, se quisermos que estas normas imparciais da chamada ‘pró-sociabilidade’ sejam elevadas, no sentido em que os estranhos são sempre ajudados e em que as pessoas ajudam sempre quem precisa – a melhor maneira de o conseguir poderá ser aumentando o padrão de vida das pessoas“, explicou.

ZAP //

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