Popular nos últimos tempos, o desafio de partilhar uma fotografia a preto e branco nas redes sociais pretende, na verdade, chamar a atenção para a violência contra as mulheres na Turquia.
De acordo com o jornal The Guardian, o desafio de partilhar uma fotografia a preto e branco nas redes sociais começou, originalmente, em 2016 para aumentar a consciencialização sobre o cancro.
Mas, nos últimos tempos, o desafio voltou aos feeds das redes sociais porque a ideia foi reaproveitada por ativistas turcas para chamar a atenção do mundo para as altas taxas de violência de género no país.
A ideia é que as utilizadoras partilhem uma fotografia a preto e branco, colocando hashtags como #challengeaccepted e #İstanbulSözleşmesiYaşatır, (“Vamos fazer cumprir a Convenção de Istambul”), referindo-se ao tratado europeu para prevenção e combate à violência contra as mulheres.
Porém, conta o jornal britânico, à medida que o desafio foi começando a chegar a vários pontos do globo e as hashtags foram traduzidas para outras línguas (sendo até feito por várias celebridades), o objetivo original perdeu-se e transformou-se apenas numa espécie de “demonstração de solidariedade feminina”.
“O desafio não começou na Turquia, mas as mulheres turcas reavivaram-no porque estão preocupadas com a possibilidade de sair da Convenção de Istambul. Todos os dias, e depois da morte de uma das nossas irmãs, partilhamos fotografias a preto e branco para manter a sua memória viva”, explicou Fidan Ataselim, secretária-geral do grupo We Will Stop Femicide, citada pelo diário inglês.
A responsável referia-se a Pınar Gültekin, uma estudante turca, de 27 anos, que foi alegadamente assassinada pelo ex-namorado, na semana passada, que a terá estrangulado e que depois tentou queimar o seu corpo.
As mulheres turcas também estão preocupadas com os recentes esforços do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), ao qual pertence o Presidente Recep Tayyip Erdoğan, para revogar a Convenção de Istambul.
“A Convenção de Istambul mantém as mulheres turcas vivas. Apelamos às mulheres de todo o mundo para que espalhem esta mensagem e fiquem do nosso lado contra a desigualdade”, diz ainda Ataselim.
Segundo o The Guardian, Gültekin é uma das 120 mulheres que já morreram na Turquia este ano. Em 2019, o país registou um total de 474 vítimas, o número mais alto numa década.
Para além da Turquia, recorde-se que a Polónia também já mostrou intenções de abandonar a Convenção de Istambul. A decisão foi anunciada pelo ministro da Justiça mas, face à pressão das instituições europeias, o partido no poder, Partido Lei e Justiça (PiS), recuou e garantiu que ainda não foi tomada nenhuma decisão.