Depois da quarentena, compradores de artigos de luxo emergem novamente na China

Com a retirada gradual das medidas de quarentena, os chineses estão a retornar lentamente aos ‘shoppings’ e lojas, impulsionando o crescimento da indústria global de luxo, que caiu 80% no pico do coronavírus.

O fluxo de clientes nas lojas chinesas está a aumentar – depois de ter caído até 80% no pico do surto de vírus no início deste inverno -, impulsionando as vendas de marcas como a Burberry e a Gucci. A recuperação pode acelerar nas próximas semanas, alimentada pelos chamados “gastos de vingança”, noticiou a Bloomberg.

Amrita Banta, diretora administrativa da Agility Research, usou o termo – utilizado anteriormente para descrever a demanda reprimida do consumidor chinês desencadeada na década de 1980, após a Revolução Cultural – para descrever a compra de artigos de luxo por parte dos clientes, após semanas de planos cancelados.

“A China parece ter virado a esquina e as cidades estão a demonstrar um otimismo cauteloso”, disse Amrita Banta. “Vemos uma recuperação lenta, mas definitiva”.

Os compradores chineses representam mais de um terço das vendas da indústria de luxo e cerca de dois terços do seu crescimento nos últimos anos. No final de janeiro, quando Pequim impôs bloqueios para conter a disseminação do coronavírus, as vendas pararam no momento em que começava o principal período de férias do Ano Novo Lunar.

Contudo, notou a Bloomberg, o que antes parecia um primeiro trimestre desastroso para a indústria está prestes a tornar-se num primeiro semestre igual, à medida que os centros comerciais de luxo, como a Itália, aumentam as suas próprias medidas de quarentena e o vírus se espalha nos grandes mercados, como os Estados Unidos (EUA).

Apesar de o vírus se estar a espalhar a nível global, há sinais de que na China o surto está sob controle. O país tem registado números baixos de novos casos da doença, contrariamente às centenas e milhares registadas por dia há algumas semanas. E as marcas de luxo, como a Hermes, estão a reabrir as suas lojas.

“Vemos uma lenta melhoria nos negócios na China”, disse Micaela Le Divelec Lemmi, diretora executiva da Salvatore Ferragamo. “Além do tráfego, o humor dos clientes chineses também será relevante. Depois de um mês e meio de encerramentos e restrições, existe uma vontade de voltar e ter uma vida real”.

Andy Li, uma jovem de 29 anos, citada pela Bloomberg, já foi três vezes ao ‘shopping’ Maoye, na província de Shanxi, desde que as medidas de quarentena diminuíram, há duas semanas. O ‘shopping’, que abriga marcas como Gucci e Bottega Veneta, verifica a temperatura dos clientes – que devem usar máscaras – antes de permitir que entrem.

A Hermes indicou que reabriu todas as lojas na China continental, exceto duas, depois de fechar 11 das suas superfícies comerciais no auge das medidas de quarentena. O Chow Tai Fook Jewellery Group, o maior joalheiro do mundo em vendas, disse que cerca de 85% das suas mais de 3.600 lojas chinesas retomaram as operações esta semana.

O cancelamento de voos e as restrições às vendas de pacotes turísticos tornaram mais difícil para os turistas chineses viajar internacionalmente, o que pode acelerar a mudança para compras no país. Essa tendência já se estava a formar devido aos impostos e às taxas de importação, que tornavam as compras locais mais atraentes.

É improvável que os “gastos de vingança” compensem todas as vendas perdidas. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Boston Consulting Group e Sanford C. Bernstein, o surto deve reduzir as vendas da indústria em até 40 mil milhões de euros em 2020.

“Tudo se resume à confiança dos consumidores”, disse Jason Yu, diretor da Kantar Worldpanel Greater China. Muitas pessoas que trabalham no setor de serviços ou administram pequenas empresas tiveram as suas receitas afetadas pela epidemia, podendo ter que eliminar gastos não essenciais dos seus orçamentos, considerou.

Embora o número de novos casos na China tenha diminuído acentuadamente, existe o risco de que as infeções aumentem novamente agora que mais pessoas estão a retomar as atividades, salientou a Bloomberg.

Apesar do sombrio primeiro trimestre – com as receitas a cair entre 25% e 33% em todo o mundo – a Ferragamo espera um crescimento nas vendas na China ainda este ano, caso o impacto do coronavírus continue a diminuir. A marca italiana disse estar a cortar a produção e a suspender todos os investimentos “considerados não essenciais”.

ZAP //

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