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“O golpe do século”. EUA e Alemanha espiaram 120 países através de empresa de encriptação

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Os serviços secretos norte-americanos e alemães espiaram, durante várias décadas, mais de 120 países através de uma empresa suíça especializada na encriptação de dados.

Depois da II Guerra Mundial, a empresa suíça Crypto AG tornou-se líder de mercado na área dos equipamentos de encriptação (conversão ou transmissão de dados em código), concretizando contratos de fornecimento no valor de “milhões de dólares” com mais de 120 países em todo o mundo, noticiou o Washington Post, com base numa investigação jornalística conduzida conjuntamente com a televisão alemã ZDF e a estação suíça SRF.

“Por mais de meio século, Governos de todo o mundo confiaram numa única empresa para manter em segredo as comunicações dos seus espiões, militares e diplomatas”, escreve o jornal norte-americano, referindo que esta situação esteve em vigor até há pouco tempo, ou seja, já em pleno século XXI.

Entre os clientes da suíça Crypto AG constavam “o Irão, juntas militares na América Latina, os rivais nucleares Índia e Paquistão e até o Vaticano”, refere o diário norte-americano.

Mas, segundo avançaram os três media, a Crypto AG foi comprada secretamente em 1970 pela Central Intelligence Agency (CIA), os serviços secretos norte-americanos, no âmbito de uma “parceria altamente confidencial” com a sua congénere alemã BND.

As duas agências “manipulavam os equipamentos da empresa para que pudessem facilmente decifrar os códigos que os países usavam para enviar mensagens encriptadas”, relatam os três órgãos de comunicação social.

Através da Crypto AG, a CIA e o BND conseguiram, por exemplo, monitorizar a crise de reféns na Embaixada dos EUA em Teerão, no Irão, em 1979; fornecer informações sobre o exército argentino ao Reino Unido durante a Guerra das Malvinas, em 1982; acompanhar as campanhas de assassínio de ditadores sul-americanos e intercetar as mensagens de regozijo de responsáveis líbios após um atentado numa discoteca em Berlim Ocidental, em 1986, que matou dois soldados norte-americanos, especifica o artigo publicado pelo Washington Post.

“O golpe do século”

A CIA chegou a congratular-se, num relatório com data de 2004, com esta operação, denominada como “Thesaurus” e, mais tarde, “Rubicon”. Foi “o golpe do século” em matéria de serviços de informações, referiram os serviços secretos norte-americanos.

“Governos estrangeiros estavam a pagar bom dinheiro aos EUA e à Alemanha Ocidental pelo privilégio de ter as suas comunicações mais secretas lidas por pelo menos dois (e possivelmente até cinco ou seis) países estrangeiros”.

Segundo o Expresso, que cita o jornal norte-americano, apesar da operação montada, havia algumas limitações como, por exemplo, o facto de os principais adversários dos EUA, como a União Soviética e a China, nunca terem sido clientes desta empresa suíça.

Ainda assim, de acordo com a documentação da CIA consultada pelos órgãos de comunicação, os norte-americanos conseguiram reunir bastante informação sobre os seus adversários ao monitorizar as interações de outras nações com Moscovo e Pequim.

No início da década de 1990, o serviço alemão concluiu que os riscos associados à operação eram elevados e decidiu desativá-la. A CIA comprou a participação dos alemães e continuou a espiar até 2018, ano em que vendeu os ativos da Crypto AG.

Nem a CIA e nem o BND quiseram comentar o conteúdo da investigação jornalística, sem negar, no entanto, a autenticidade dos documentos consultados, diz o Washington Post.

Já o antigo coordenador dos serviços de informações alemães, Bernd Schmidbauer, confirmou, por sua vez, em declarações à ZDF, a existência desta operação, afirmando acreditar que a “Rubicon” permitiu “tornar o mundo um pouco mais seguro”.

A empresa sueca Crypto International, que comprou a Crypto AG, admitiu que esta investigação jornalística era “muito alarmante”, assegurando, no entanto, que a atual empresa “não tem qualquer ligação com a CIA ou com o BND”.

“Se o que estão a dizer é verdade, sinto-me completamente traído, a minha família sente-se traída e sinto que haverá muitos funcionários que se sentirão traídos, para além dos clientes”, lamenta Andreas Linde, chairman da Crypto International.

Contactadas pela agência France Presse (AFP), as autoridades suíças afirmaram que abriram uma “investigação” sobre este dossiê a 15 de janeiro. No entanto, o jornal norte-americano alega que estas saberiam há décadas dos laços da empresa com os serviços secretos norte-americanos e alemães.

ZAP // Lusa

8 Comments

  1. mas mas somos todos tão amigos e da NATO e o raio que os parta.

    aguarda-se o que o mr SELFIE e camaradas têm a dizer sobre o assunto!

    P.S. esperemos que os meninos da esquerda mais extrema nem tenham o desplante de abrir a boca!

      • não creio ter escrito nada em contrário, pois não?

        chamei foi à atenção para a hipocrisia e cinismo que o leitor abaixo de forma tão simples demonstrou….ao ter mencionado o caso Huawei!

        o problema é que o nosso país na mão dos cromos que o vão desgovernando, do PS ao PSD e CDS (os outros pior ainda seriam) não se dão ao respeito nestes e noutros caso que colocam a nossa Soberania em causa.

        [Europa, a “colónia digital” dos EUA | Investigação | PÚBLICO](https://www.publico.pt/2017/04/09/politica/investigacao/europa-a-colonia-digital-dos-eua-1767844)

        mas percebe-se, afinal nunca deram aos portugueses sequer a decisão final de aceitarmos ou não a nova URSS, perdão, UE.

        nem nunca levam a sério a afirmação, não há países amigos mas sim interesses e o nosso/deles interesse é por e simplesmente serem lambe-botas.

  2. Há 2 tipos de países: 1) os que espiam; 2) os que não têm capacidade para espiar. É tão simples quanto isto. Quem não espia, é porque não tem capacidade para o fazer. De entre os que espiam, há 2 tipos: 1) os que escondem tudo e não se sabe de nada (imprensa não é livre, etc.) – ex: Rússia, China; 2) os que têm imprensa livre e as coisas vão-se sabendo – ex: EUA.

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