A Câmara Municipal de Edimburgo e a Universidade de Dundee, na Escócia, uniram-se para reconstruir os rostos de pessoas cujos restos mortais foram descobertos sob a famosa Catedral de Santo Egídio nas décadas de 1980 e 1990.
A Catedral de Santo Egídio, um dos marcos históricos mais famosos de Edimburgo, fica no coração da pitoresca cidade velha da cidade. Foi erguido no século XII, antes de grande parte da cidade velha ser construída. Sob ele e dentro dos seus muros, foram enterrados centenas de escoceses foram enterrados ao longo dos séculos.
Agora, graças à tecnologia de reconstrução facial, estamos a conseguir ter um vislumbre de quem eram estas pessoas e como eram os seus rostos. O trabalho mais recente identificou uma mulher de meia-idade que sofria de lepra e morreu em meados do século XV a XVI e um homem com entre 35 e 45 anos enterrado no século XII.
De acordo com o IFLScience, a mulher terá tido um alto estatuto quando foi enterrada dentro da catedral ao lado do altar de Santa Ana. A mulher pode ter pertencido à Guilda dos Alfaiates, segundo explicou Karen Fleming, uma artista forense que trabalhou na reconstrução da mulher.
“Esta reconstrução em particular interessou-se, uma vez que havia sinais óbvios de lepra que contribuíram para estudos interessantes”, disse. “Ela terá contraído a doença na idade adulta e os sinais de lesões sob o olho direito podem ter levado à perda de visão naquele olho”.
A lepra é uma doença contagiosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, que leva a sintomas crónicos como lesões na pele, danos nos nervos, problemas de visão e até deformidades físicas. Durante a Idade Média, a doença atormentou os europeus, mas declinou em 1600, graças a uma mistura de mudanças sociais e a resistência das pessoas ao micróbio. Hoje, a lepra ainda afeta várias nações do mundo, incluindo a Índia, o Brasil e a Indonésia.
Já o homem reconstruido pela equipa viveu 400 anos antes da mulher e não tinha um estatuto tão alto. Enterrado no mesmo século em que a catedral foi erguida, é considerado um dos primeiros residentes oficiais de Edimburgo.
O homem teria tido 1,67 metros de altura e faltava-lhe uma mandíbula, o que foi um desafio para os investigadores que tentavam reconstruir as suas características faciais. A solução foi enfeitar a mandíbula com uma barba espessa.
“Consegui prever com precisão todas as outras características faciais, já que o crânio estava em boas condições, o que é bastante incomum, considerando a idade deste crânio”, disse a artista forense Lucrezia Rodella ao IFLScience.
Para a reconstrução dos rostos de pessoas antigas, bastam os ossos. Ao examinar atentamente a estrutura do crânio de uma pessoa, os cientistas conseguem determinar a quantidade de tecido que havia em diferentes partes da face, avaliar o quão simétrico era e determinar o tamanho das diferentes características faciais.
“Quando temos uma ideia do formato do rosto, usamos um banco de dados de imagens faciais, usado para selecionar recursos que podem ser alterados para se ajustarem ao crânio. A cor dos cabelos e dos olhos não pode ser prevista, a menos que os restos tenham sido testados em ADN, por isso consideramos o que poderia ter sido uma coloração comum das pessoas daquele período”, explicou Fleming.
Não é a primeira vez que os cientistas reconstroem os rostos dos antigos habitantes da Escócia. Em 2017, investigadores da Universidade de Dundee reconstruiram a fisionomia de Lilias Adie, a mulher escocesa que foi acusada de bruxaria e de ter feito sexo com o diabo.