Norte-americano detido no Egito morre após uma prolongada greve de fome

Moustafa Kassem, com nacionalidade egípcia e americana, foi condenado a 15 anos de prisão e iniciou a primeira de várias greves de fome, em protesto contra uma “prisão injusta”.

Moustafa Kassem foi detido no Cairo, no Egito, em agosto de 2013 durante a repressão sangrenta que se seguiu ao golpe militar que levou ao poder Abdel Fattah al-Sisi, general do Exército e agora Presidente do Egito. Com nacionalidade egípcia e americana, Kassem morreu esta segunda-feira depois de uma longa greve de fome.

Segundo o The New York Times, Kassem insistiu que não tinha quaisquer vínculos com a oposição e que tinha sido detido injustamente por soldados que agarraram no seu passaporte dos Estados Unidos e o pisaram.

Depois de vários anos detido, num estabelecimento de alta segurança mas com más condições, onde disse que a sua diabetes e uma doença cardíaca não foram tratadas, Kassem foi condenado a 15 anos de prisão em setembro de 2018. A partir daí, decidiu iniciar a primeira de várias greves de fome, recusando ingerir alimentos sólidos durante meses em protesto.

De acordo com o Expresso, na última sexta-feira, Kassem foi transferido para um hospital no centro da capital egípcia depois de se recusar também a ingerir líquidos, e morreu na tarde de segunda-feira.

Em junho de 2019, o Working Group on Egypt, especialistas em relações externas, abordou o caso de Moustafa Kassem numa carta endereçada ao Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo.

Na missiva, o grupo alertava para o risco iminente de morte de Kassem, ao qual Pompeo respondeu que o bem-estar dos cidadãos americanos detidos era para ele “uma prioridade“.

Justiça egípcia ordena investigação sobre a morte

O Procurador-Geral do Egito ordenou, esta terça-feira, a realização de uma autópsia no corpo de Moustafa Kassem, que morreu na segunda-feira numa prisão egípcia em greve de fome e após quase sete anos preso.  “O Procurador-Geral ordenou hoje a realização de uma autópsia ao condenado Moustafa Kassem para conhecer as causas da morte (…)”, anunciou o Ministério Público num comunicado que a agência de notícias EFE teve acesso.

Segundo a nota, Kassem, de 54 anos, morreu na noite de segunda-feira depois de ter sido transferido do hospital da prisão de Tora, nos arredores do Cairo, para o centro médico de Qasr al-Aini para tratamento. O Procurador-Geral, Hamada al Sawy, também solicitou o registo médico do falecido e pediu que o pessoal de saúde de ambos os centros hospitalares fossem interrogados.

David Schenker, assistente do secretário de Estado dos Estados Unidos para o Médio Oriente, confirmou aos jornalistas na segunda-feira a morte de Kassem. “A sua morte sob custódia foi desnecessária, trágica e evitável. Continuarei a levantar as nossas sérias preocupações sobre os direitos humanos e os norte-americanos detidos no Egito a cada oportunidade”, disse.

Em 2018, Kasem iniciou uma greve de fome parcial para protestar contra a sua prisão, mas na quinta-feira decidiu parar de ingerir líquidos, tendo sido então transferido para o hospital de Qasr al-Aini, na capital egípcia, onde morreu quatro dias depois, disseram duas organizações não-governamentais numa declaração conjunta.

Segundo a Pretrial Rights International e a The Freedom Initiative, a causa da morte terá sido uma paragem cardíaca, já que o norte-americano era diabético e sofria de problemas cardíacos. As autoridades “limitam o acesso aos medicamentos e tratamentos necessários durante toda a prisão”, denunciam as ONG num comunicado.

Kasem imigrou para os Estados Unidos, onde obteve nacionalidade, e trabalhava como vendedor de peças automóveis. Em 2013, viajou ao Egito para visitar a sua família e foi preso na praça de Rabaa, no Cairo, a 14 de agosto, quando milhares de pessoas se reuniram por mais de um mês para protestar contra a queda do Presidente Mohamed Morsi num golpe em 3 de julho de 2013.

Segundo as ONG, Kassem foi preso quando saía de um centro comercial e, ao ser interpelado pela polícia, mostrou o seu passaporte norte-americano.

A 8 de setembro de 2018, Kassem foi condenado pelo massacre da praça de Rabaa juntamente com outras 700 pessoas e condenado a 15 anos de prisão, de acordo com uma lei anti-protesto que “viola todos os padrões de um processo justo”, denunciaram as organizações de direitos humanos na declaração.

ZAP // Lusa

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