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A maior cimeira do clima da história ficou muito aquém das expectativas

ZIPI / EPA

A Cimeira do Clima das Nações Unidas (COP25), que decorreu em Madrid, concluiu este domingo o documento final sobre a ambição climática em 2020 e do Acordo de Paris, mas o acordo alcançado ficou muito aquém das expectativas.

O acordo alcançado, sob o título “Chile-Madrid, Hora de Agir”, foi concluído 48 horas depois de previsto e fechado com reservas, não convencendo responsáveis políticos nem organizações ambientais que esperavam mais da cimeira que reuniu 200 países.

A presidente da cimeira, Carolina Schmidt, mostrou-se insatisfeita com os resultados alcançados, considerando “triste” não conseguir chegar a um acordo quando se esteve “tão perto”. Schmidt, que é também ministra do Meio Ambiente chileno, apelou à necessidade de “uma resposta mais sólida, urgente e ambiciosa” para enfrentar a crise climática.

“Não estamos satisfeitos”, queixou-se Schmidt, lembrando que havia a esperança de conseguir encerrar o artigo 6.º do Acordo de Paris “para implementar um mercado de carbono robusto com integridade ambiental, focado em gerar recursos para transitar para um desenvolvimento sustentável, baseado em baixas emissões e resiliente ao clima”.

“É triste não conseguir chegar a um acordo final, quando estivemos tão perto”, lamentou, reconhecendo no entanto que existe um avanço “concreto” que faz “olhar com esperança” para o futuro, considerando que o documento este domingo assinado é um legado “ambicioso e ambientalmente sólido”.

Em declarações à SIC Notícias, Christoph Bals, da organização não governamental Germanwatch, explicou que, na prática, a cimeira serviu essencialmente para mostrar os pontos fortes e os pontos fracos do Acordo de Paris.

Guterres fala em deceção

Por sua vez, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, mostrou-se “dececionado com os resultados” da cimeira sobre o clima, mas apelou aos países que continuem a lutar contra a crise climática sem se “renderem”.

“A comunidade internacional perdeu uma oportunidade importante para mostrar uma maior ambição na mitigação e adaptação para enfrentar a crise climática”, lamentou António Guterres, no final da cimeira da ONU, a maior de toda a história.

No encontro, os países conseguiram chegar a acordo quanto à urgência para conter as alterações climáticas, mas não houve consenso quanto aos pontos essenciais. Por exemplo, as regras dos mercados internacionais de carbono foi um dos assuntos adiado para o próximo ano. “Não devemos render-nos”, apelou o secretário-geral da ONU, numa declaração escrita citada pela agência de notícias espanhola EFE.

As organizações ambientalistas Oikos e Zero consideram “pouco positivo” o resultado da cimeira, acusando os EUA, a Austrália e o Brasil de proteger interesses económicos.

“Atolados por negociações de má-fé que colocam a política e os interesses dos combustíveis fósseis acima das pessoas e do planeta, muitos países – liderados pelos Estados Unidos, Austrália e Brasil – mais uma vez expuseram a sua apatia ao sofrimento de milhões e uma rejeição voluntária da ciência”, denunciam em comunicado conjunto hoje divulgado, horas depois de anunciado o acordo na cimeira.

Bolsonaro critica “jogo favorável” à Europa

Também o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, deixou críticas ao desfecho da cimeira de Madrid, denunciando um “jogo comercial” favorável à Europa. “Eu não sei como as pessoas não entendem que se trata apenas de um jogo comercial”, afirmou o chefe de Estado num encontro com a imprensa à saída da sua residência oficial, no Palácio da Alvorada.

E acrescentou: “Eu gostaria de saber se existe uma resolução para a Europa ser reflorestada ou se vão continuar a perturbar apenas o Brasil?”.

O Brasil deveria ter acolhido a COP25, mas desistiu logo após a eleição do Presidente Jair Bolsonaro que, questionado sobre esta decisão respondeu: “Fui eu que decidi. Eles teriam feito o seu carnaval no Brasil”.

O Presidente português considerou também que os resultados ficaram aquém do esperado porque ainda “há países que negam evidência” das alterações climáticas, e resistem.

“Portugal tem em curso para irmos também muito mais longe em matéria de alterações climáticas, mas há países que resistem, e como é preciso um acordo mundial há países que negam evidência ou que, aceitando a evidência, resistem”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

Pontos essenciais da COP25

Após duas semanas de negociações, não foi possível chegar a um acordo sobre as regras dos mercados internacionais de carbono.

Aumentar a ambição dos países na ação para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e assim combater as alterações climáticas foi um dos temas chave da cimeira. Um primeiro esboço de acordo foi considerado insuficiente e criticado por vários países e entidades não governamentais por não ser claro.

Reformulado, o acordo pede um aumento da ambição dos compromissos de luta contra as alterações climáticas, seguindo o calendário marcado pelo Acordo de Paris. Cria as bases para que em 2020 os países apresentem compromissos de redução de emissões de gases com efeito de estufa mais ambiciosos.

O acordo alcançado reconhece que as políticas climáticas devem ser permanentemente atualizadas com base nas informações da ciência. Também reconhece o papel do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), referindo os dois relatórios publicados este ano sobre o uso do solo e os oceanos.

A cimeira confirmou que a luta contra as alterações climáticas é uma questão transversal que envolve matérias que vão das finanças à ciência, da indústria à energia, dos transportes às florestas ou agricultura.

Reconheceu a importância dos oceanos no sistema climático e como resposta aos relatórios do IPCC ficaram acordadas duas iniciativas para 2020, uma sobre oceanos e outra sobre o uso da terra.

ZAP // Lusa

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