Os povos indígenas do Equador estão sob ameaça dos interesses do território em que habitam. Quase metade das reservas equatorianas de petróleo estão debaixo do Parque Nacional Yasuní.
Os interesses dos políticos e dos grandes magnatas é uma força sobrenatural, capaz de derrubar qualquer boa intenção que por vezes possa surgir. Esse é o caso do Parque Nacional Yasuní, no Equador, que tinha como intenção inicial proteger o ambiente e os direitos dos povos indígenas.
Com mais de 10 mil quilómetros quadrados de área, o parque é rico em biodiversidade, mas é também casa para duas tribo indígenas: Tagaeri e Taromenane. Estes dois povos resistiram a todas as tentativas de os integrar na sociedade moderna, mas atravessam agora um desafio como outro nunca antes enfrentado.
O Parque Nacional Yasuní fica por cima de grandes depósitos de petróleo, que segundo o OZY, constituem cerca de 40% das reservas do Equador. Texaco, Petroamazonas, Repsol, Agip e Sinopec são as empresas que constituem o oligopólio que faz a exploração petrolífera em (e ao redor) de Yasuní.
Em 2007, o Governo equatoriano mostrou-se disposto a não avançar com a exploração do petróleo na zona leste do parque. Em troca, pedia 3,6 mil milhões de dólares à comunidade internacional para compensar pelas perdas.
Todos pareciam contentes com a proposta, mas os países que iam doar o dinheiro queriam saber em que é que ele ia ser usado. O então presidente equatoriano, Rafael Correa, recusou-se a responder, alegando que não lhes dizia respeito. Seis anos depois, o plano falhou e os países desistiram da ideia de “indemnizar” o Equador.
Em teoria, o plano tinha tudo para resultar, mas os interesses económicos acabaram por prevalecer. Como consequência, Correa deu luz verde às petrolíferas para começarem a exploração em Yasuní.
Em fevereiro do ano passado, já com o atual presidente Lenín Moreno no cargo, os equatorianos foram convidados a votar num referendo. Este dava-lhes a hipótese de escolher se queriam aumentar a área de Yasuní que ficaria fora dos limites das petrolíferas, impedindo-as de continuar a explorar esse espaço. Dois terços votaram a favor.
No entanto, paralelamente, o Governo aprovou novos planos para aumentar a exploração em outras zonas de Yasuní. “Isto é uma farsa”, acusou Belén Paez, diretor da organização ambiental Fundação Pachamama.
Mas nem tudo é um pesadelo e as comunidades indígenas equatorianas conseguiram algumas vitórias contra a indústria petrolífera.
Os Waorani venceram um processo apresentado contra o Estado do Equador por não terem sido consultados antes de perfurarem as suas terras ancestrais. Esta foi uma decisão histórica, já que pode abrir precedentes para outros casos. “O petróleo é um mineral e sustenta o equilíbrio da Terra. Abaixo dele, os espíritos vivem. A terra tem vida”, disse Manari Ushigua, líder dos Sápara.