Casos de abuso infantil ligados a bruxaria e magia negra dispararam na Inglaterra

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Novos dados oficiais do Departamento de Educação mostram que as práticas religiosas não-ortodoxas – como magia negra e bruxaria – estão a contribuir para um aumento no abuso infantil na Inglaterra.

Segundo noticiou o Guardian, citado pelo All That’s interesting (ati), esses dados revelam que os casos de proteção à criança com base na fé ou crença aumentaram um terço no ano passado na Inglaterra, atingindo quase dois mil casos. Isso equivale a, aproximadamente, 38 casos de abuso infantil vinculados à fé ou crença por semana.

Os dados também apontam que o número de crianças em risco de mutilação genital feminina atingiu os mil casos no ano passado.

Nos casos de abuso infantil vinculados à fé extrema são geralmente encontrados danos realizados sob o disfarce de tais crenças, como exorcizar um espírito maligno que se acredita estar escondido dentro da criança.

Vários casos de abuso infantil envolvendo essas práticas surgiram nas últimas duas décadas. Talvez o mais conhecido seja o de Victoria Climbié, de oito anos. Em 2000, foi assassinada por sua tia-avó, que alegou que a menina estava possuída pelo diabo.

As circunstâncias em torno da sua morte levaram a uma investigação sobre os serviços de proteção infantil do país, constatando-se que os mesmos tiveram oportunidade de intervir no caso de abuso. Quanto à tia-avó da menina, Marie-Therese Kouao, mostrou pouco ou nenhum remorso pelo crime.

“Sou uma pessoa pura e inocente, na prisão. Ninguém quer saber a verdade. Não sou horrível. Deus é testemunha disso. É por isso que parei de acreditar em Deus”, disse, durante uma comparência no tribunal após a sua condenação por assassinato.

Em 2008, Khyra Ishaq, com sete anos, morreu de fome devido às crenças em espíritos da sua mãe e do parceiro desta. Já em 2010, a adolescente Kristy Bamu foi morta pela irmã e o parceiro, numa tentativa de exorcismo.

Contudo, referiu o ati, os dados mais recentes mostram também um aumento do número de casos relatados, o que pode ser um sinal de que os responsáveis ​têm conseguido identificar com mais rapidez abusos relacionados à magia negra ou às práticas de bruxaria.

“Os casos crescentes de mutilação genital feminina e abuso infantil vinculados à fé ou crença são extremamente preocupantes e estão a destruir a vida de crianças e jovens em comunidades em todo o país”, disse Anita Lower, da Associação de Governo Local contra a Mutilação Genital Feminina, em comunicado.

E acrescentou: “Os assistentes sociais já conseguem identificar melhor os sinais e o abuso relacionado a crenças, mas a verdadeira taxa de incidência é provavelmente maior”.

Assistentes sociais em toda a Inglaterra registaram um número crescente de casos de abuso infantil, com o maior número em Lancashire, Bradford e Leeds. Porém, a polícia metropolitana do Reino Unido enfatizou que apenas uma minoria de pessoas que abrigam crenças relacionadas a bruxaria ou possessão espiritual continua abusando de crianças.

Segundo as estatísticas do governo do Reino Unido, existiam cerca de 400 mil “crianças carentes” na região em março deste ano – quase metade dessas crianças teria sofrido abuso ou negligência.

É por isso que organizações como a Fundação Victoria Climbié, criada pelos pais após a sua morte, há 20 anos, estão a tornar-se cada vez mais cruciais.

“É encorajador ver profissionais a identificr práticas prejudiciais que podem levar a ferimentos graves ou à morte de crianças”, disse Mor Dioum, diretor da Fundação Victoria Climbié, que visa melhorar as políticas de proteção à criança no Reino Unido.

“No entanto, precisamos de um exame mais aprofundado dos dados para entender a prevalência desses abusos e nos envolvermos efetivamente com as comunidades, se quisermos evitar o abuso infantil vinculado à fé ou crença, incluindo a eventual erradicação da mutilação genital feminina”, frisou.

ZAP //

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