Após a publicação de uma lei sobre a migração no país, o poema “The New Colossus”, escrito em 1883 por Emma Lazarus, está agora a provocar um debate sobre o seu verdadeiro significado.
Ao longo do tempo, a Estátua da Liberdade tem assumido um crescente simbolismo nos debates sobre a imigração do país norte-americano.
Agora, com a publicação de uma lei sobre migração, Ken Cuccinelli, diretor interino dos Serviços de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos, revelou a sua interpretação do poema escrito há 136 anos por Emma Lazarus, na base da estátua.
Cuccinelli começou a responder questões sobre o poema na segunda-feira, quando deu uma conferência de imprensa na Casa Branca.
“Estão a implementar uma regra de encargo público pela primeira vez“, disse Steven Portnoy, jornalista da CBS News Radio. “Esse sentimento — ‘dai-me os teus cansados, os teus pobres’ — ainda opera nos Estados Unidos? Ou essas palavras devem sair?, perguntou Portnoy.
Cuccinelli respondeu que “certamente não estava preparado para derrubar nada da Estátua da Liberdade” e, acrescentou que os EUA tinham uma longa história de boas-vindas aos migrantes.
O poema voltou a surgir na manhã de terça-feira, durante uma entrevista com Rachel Martin na National Public Radio. “‘Dai-me os teus cansados, os teus pobres’, os que se conseguem apoiar nos seus pés e que não se vão tornar num fardo público” explicou o oficial do governo à NPR.
O comentário voltou a ser repetido pelo funcionário da Casa Branca, na terça-feira, durante uma entrevista com Erin Burnett na CNN.
“Bem, é claro que o poema se referia a pessoas vindas da Europa, onde tinham sociedades baseadas em classes e onde as pessoas eram consideradas infelizes se não estivessem na classe certa”, disse Cuccinelli na entrevista.
No que diz respeito à interpretação do poema, Annie Polland, diretora executiva da American Jewish Society, tem uma opinião diferente de Cuccinelli. “No poema, (Lazarus) refere-se à estátua e à América como mãe dos exilados; não disse uma mãe dos exilados europeus, disse uma mãe dos exilados“, elucida.
“O que Lazarus ambicionava, era uma ideia expansiva e inclusiva dos imigrantes e a maneira pela qual os próprios Estados Unidos se definiriam ao fornecer essa segurança e oportunidade para os mesmos”, conclui Polland.
De acordo com Polland, Lazarus dedicou-se em 1881 e 1882 a ajudar imigrantes judeus da Europa Oriental. Na altura, ensinava-lhes inglês e defendia-os legalmente. “Escrevia sobre o anti-semitismo na Rússia que provocou grande parte dessa migração”, explica Polland.
A poeta e escritora era judia americana de quinta geração, de ascendência sefardita — ou seja, descendente de judeus originários de Portugal e Espanha. Os seus ancestrais foram expulsos destes países, viajaram e, em 1700, encontraram um lugar seguro para viver: os Estados Unidos.
Lazarus escreveu “The New Colossus“, em 1883, como parte de uma campanha de arrecadação de fundos para pagar o pedestal da estátua, feito nos Estados Unidos, diz o The New York Times.
A estátua ia servir de farol no Canal Suez, no Egito. Mas quando o projeto caiu, o escultor decidiu colocar a Lady Liberty no porto de Nova Iorque. O monumento foi concebido como uma celebração da liberdade, o fim da escravidão e a confraternização entre França e Estados Unidos.