Uma investigação do Guardian revelou que centenas de jovens em idade escolar estão a produzir os aparelhos Alexa da Amazon, na fábrica chinesa Foxconn. Entrevistas com trabalhadores e documentos divulgados pelo fornecedor da Amazon mostram que muitas crianças foram obrigadas a trabalhar à noite e horas extras para atingir as metas de produção, violando das leis laborais na China.
De acordo com estes documentos, os adolescentes – recrutados em escolas na cidade de Hengyang – são designados como “estagiários” e os professores são pagos pela fábrica para os acompanhar e os persuadir a aceitar fazer horas extraordinárias, noticiou a Visão no domingo, citando o Guardian.
Mais de mil alunos estão empregados, com idades entre 16 e 18 anos, e podem representar até 15% da força de trabalho. As fábricas chinesas estão autorizadas a empregar estudantes com idade igual ou superior a 16 anos, mas estas crianças em idade escolar não estão autorizadas a trabalhar à noite ou horas extraordinárias.
Um porta-voz da Amazon informou que a empresa não toleraria violações do código do conduta para os fornecedores, que são regularmente fiscalizados, muitas vezes através de auditores independentes.
A Foxconn, que também produz iPhones para a Apple, admitiu que os estudantes tinham sido empregados ilegalmente e disse que está a implementar medidas imediatas para corrigir a situação.
“Nós reforçámos a regulamentação e o controlo dos nossos programas de estágio, com as escolas parceiras, para garantir que, independentemente das circunstâncias, estas crianças não trabalham durante a noite ou horas extraordinárias. Houve casos, no passado, em que a supervisão negligente da nossa equipa a gerir os funcionários permitiram que isto acontecesse e, apesar de os estagiários afetados receberem os salários suplementares relativos a estes turnos, isto não é aceitável e tomámos medidas imediatas para garantir que não se repetirá”, informaram os responsáveis através de um comunicado.
Segundo a fábrica, os alunos a trabalhar recebem “a oportunidade de ganhar experiência prática de trabalho e formação prática num vasto número de áreas”, algo que os irá ajudar a “encontrar emprego” no futuro. Contudo, os adolescentes dizem que o trabalho que realizam na fábrica não tem qualquer relevância para os seus cursos e que têm sido pressionados para aceitar trabalhar horas extras.
Uma “estagiária” com 17 anos, na fábrica desde o mês passado, contou que está a estudar informática, mas que a sua única tarefa é aplicar uma película protetora a cerca de três mil Echo Dots diariamente. Segundo a mesma, inicialmente, foi informada pelo professor que trabalharia oito horas por dia, cinco dias por semana. Mas, desde então, trabalha 10 horas (incluindo duas horas extras) durante seis dias, por semana.
“As luzes na fábrica são muito brilhantes, então fica muito quente”. “No início, eu não estava muito acostumada a trabalhar na fábrica, e agora, depois de trabalhar durante um mês, tenho-me adaptado relutantemente ao trabalho. Mas trabalhar 10 horas por dia, todos os dias, é muito cansativo. Tentei dizer ao responsável pela minha linha [de produção] que não queria fazer horas extraordinárias. Mas o gerente disse ao meu professor e ele disse-me que se eu não fizesse horas extras, eu não poderia estagiar na Foxconn e isso afetaria a minha graduação e as bolsas de estudo na escola”, explicou.
De acordo com os documentos, os estudantes “precisam de fazer horas extras” e de ficar a dormir nos dormitórios da fábrica para que a empresa cumpra as metas de produção. Os que recusam são despedidos. “Para colmatar a falta de mão-de-obra e reduzir o custo do recrutamento de mão-de-obra, gostaríamos de cooperar com as escolas locais para recrutar estagiários”, pode ler-se.
A fábrica paga às escolas 500 yuan (63 euros) por mês, por cada aluno que a instituição fornece. Os estagiários recebem 16,54 yuan (dois euros) por hora, enquanto um trabalhador normal teria direito a 20,18 yuan (2,55 euros) por hora.