Sindicalista da PSP forçado a demitir-se recebeu ameaças de apoiantes do PNR e do Basta

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Manuel Morais / Facebook

Agente da PSP Manuel Morais, ex-vice-presidente da Associação Sindical de Profissionais de Polícia.

O ex-vice-presidente da Associação Profissional de Polícias (ASPP), Manuel Morais, que se demitiu do cargo depois de ter denunciado que há racismo no seio da PSP, revela que saiu para proteger a entidade e lamenta que recebeu “ameaças de morte” de pessoas ligadas ao PNR (Partido Nacional Renovador) e ao Basta de André Ventura.

Manuel Morais deixou a ASPP ao cabo de 30 anos associado ao maior Sindicato da PSP, no seguimento do tumulto causado pela sua participação numa reportagem da SIC sobre violência policial em bairros sociais. Tudo porque referiu que há um “preconceito étnico na nossa sociedade e, claro, também nas forças de segurança”, como repete agora numa entrevista à SIC Notícias que é divulgada pelo Expresso.

O agente do Corpo de Intervenção da PSP não se retrata do que disse e repete que “não se deve olhar para o lado” e que, pelo contrário, “é dever dos Sindicatos, um dever cívico, de nós todos, desconstruir” esse “preconceito étnico”.

Manuel Morais assume que foi obrigado a demitir-se face à “pressão terrível” que diz ter sofrido, com “ofensas à família, ofensas pessoais, ameaças de morte até” vindas de “indivíduos que estavam ligados ao PNR e ao Chega ou Basta“. O ex-sindicalista nota que não sabe “se eram polícias ou não”.

Frisando que se demitiu “pensando na ASPP”, “uma organização que tem que se sobrepor às convicções pessoais”, como sublinha, Manuel Morais apresenta a tese de que as suas declarações foram aproveitadas por grupos ligados à extrema-direita.

O agente do Corpo de Intervenção fala em “indivíduos que sabiam o que estavam a fazer, que estavam apoiados”, notando que “maquinaram esta cabala contra a ASPP servindo-se da [sua] pessoa”.

Deixando algumas críticas à própria direcção da ASPP por não ter gerido bem a situação “desde o primeiro momento”, Manuel Morais diz na SIC Notícias que a “onda de indignação” foi “provocada, na maioria das vezes, por forças exteriores ao Sindicalismo, exteriores à ASPP, ou dentro do Sindicalismo mais rasca que existe”.

“Quando os sindicalistas, que têm que defender os direitos dos polícias, se ligam a partidos, enfim, eu não queria fazer juízos de valor, mas está à vista, percebem todos o que eu quero dizer – um indivíduo que não é racista, mas que depois diz que o Hitler é como Deus e o Salazar como um anjo da guarda, que me diga o que é”, aponta Manuel Morais.

O agente acredita que tem condições para continuar a trabalhar por “uma sociedade melhor e por uma polícia melhor” e espera que o “rolar da [sua] cabeça” sirva para “discutir isto de uma outra forma, mais séria”.

Manuel Morais também esclarece que apesar de a reportagem ter sido transmitida três dias depois da sentença histórica que condenou oito polícias da esquadra de Alfragide por agressões a jovens negros do bairro social da Cova da Moura, ele já tinha prestado as declarações à jornalista da SIC há “pelo menos, três semanas”.

O agente ainda acrescenta que toda esta polémica lhe permitiu rejuvenescer, tendo recebido o apoio de “colegas de infância” que não via há 40 anos. “Recebi centenas de telefonemas de colegas a apoiar-me, até os Comandos, onde passei alguns anos, se queriam organizar para me ajudar”, constata.

SV, ZAP //

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