A produção do clorofluorocarboneto (CFC) 11 foi proibida em todo o mundo em 2010. Mas, em 2018, verificou-se que a taxa de declínio do CFC tinha abrandado cerca de 50% desde 2012, o que significava que esta substância estava a ser lançada na atmosfera. Essas emissões vinham da China.
Na quinta-feira, num artigo divulgado na revista Nature, uma equipa internacional de cientistas anunciou que as emissões de CFC-11 vêm sobretudo das províncias chinesas de Shandong e Hebei, segundo noticiou o Público.
Usados em aerossóis, refrigerantes ou na produção de espuma rígida de empacotamento, os químicos sintéticos CFC são os grandes culpados pela destruição do ozono estratosférico – e, portanto, pelo buraco camada de ozono sobre a Antártida descoberto em 1985. Devido a isso, em 1987, 150 países assinaram o Protocolo de Montreal, em que se comprometiam a eliminar a produção destes gases.
Investigações recentes já tinham demonstrado que esta camada essencial para os seres vivos estava a recuperar. Por exemplo, em 2017, a NASA anunciou que o buraco da camada de ozono diminuiu para o menor tamanho desde 1988.
As más notícias surgiram em Maio de 2018, quando uma equipa de cientistas revelou na Nature que emissões de CFC-11 estavam a contribuir para a destruição da camada de ozono. Mais tarde, um relatório da Agência de Investigação Ambiental, uma organização não-governamental com sede em Londres, divulgou que essas emissões vinham da China e que deveriam ser oriundas de fábricas de espuma para isolamento.
Conhecido como triclorofluorometano, o CFC-11 foi desenvolvido nos anos 30 para refrigerantes. Sabe-se que pode ficar 50 anos na atmosfera depois de ser libertado. Como a produção deste CFC foi proibida nos países desenvolvidos nos anos 90 e no resto do mundo em 2010, verificou-se que entre 2002 e 2012 as suas concentrações diminuíram.
Para perceber de onde vêm as recentes emissões de CFC-11, a equipa combinou observações atmosféricas de estações de monitorização em Gosan (Coreia do Sul) e em Hateruma (Japão) – mais próximas da China – com dados globais de monitorização e de transportes de químicos na atmosfera.
“Através de redes globais de monitorização, como a Experiência Avançada de Gases Atmosféricos Globais (AGAGE) e a Divisão de Monitorização Global da NOAA [agência dos oceanos e da atmosfera dos EUA], conseguimos medir os CFC na atmosfera ao longo de 40 anos”, disse Matt Rigby, autor principal do trabalho e da Universidade de Bristol (Reino Unido), num comunicado da sua instituição.
“Conseguimos assim delimitar a localização de uma fração substancial das emissões de CFC-11 até à escala das províncias. Essas emissões vêm sobretudo das ou à volta das províncias de Shandong e Hebei [no Leste da China]”, indicou ao Público Luke Western, também da Universidade de Bristol e autor do trabalho.
O cientista referiu que a determinação do local exato das emissões dentro de cada província chinesa vai agora requerer medições mais próximas da fonte. “Espero que o nosso trabalho possa informar outras [partes interessadas] para que se procure e localize melhor a fonte dessas emissões”, salientou.
Será da espuma para isolamento?
No estudo publicado na quarta-feira também se contabilizou a quantidade dos CFC-11 emitida. Para isso, fizeram-se igualmente simulações computacionais.
“A partir dos dados da Coreia do Sul e do Japão, usámos modelos para mostrar que as emissões de CFC-11 no Leste da China aumentaram cerca de sete mil toneladas por ano desde 2012, sobretudo nas províncias de Shandong e Hebei ou à volta delas”, frisou Luke Western. Também é possível que pequenos aumentos possam ter surgido noutros países e noutras partes da China.
Quanto à causa das emissões, os cientistas apenas lançam hipóteses. Luke Western notou que não se pode ter a certeza do processo que as gerou, mas que a explicação mais plausível será a produção de espuma para isolamento.
“Os CFC-11 foram usados sobretudo em espuma para isolamento. Por isso, olhámos para as estimativas das quantidades de CFC-11 que ficaram aprisionadas nessas espumas em edifícios e refrigeradores feitos antes de 2010 [quando o CFC-11 foi proibido em todo o mundo], mas as quantidades são demasiado pequenas para explicar a subida recente”, sublinhou Matt Rigby.
E acrescentou: “A explicação mais provável é que tenha havido uma nova produção, pelo menos antes do final de 2017, que é o [limite do] período de cobertura deste trabalho”.
Sobre o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (que administra o Protocolo de Montreal), Luke Western aconselhou: “Penso que a abordagem mais positiva será trabalhar com os países para assegurar que são capazes de adotar medidas contra indivíduos ou empresas que estão a produzir substâncias proibidas pelo Protocolo de Montreal”. Por agora, Matt Rigby considerou necessário encontrar os responsáveis pelas novas emissões.