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176 anos depois, um urso-pardo volta a deambular por Portugal (as abelhas que se cuidem)

Fotografias, pegadas, dejectos e 50 quilos de mel consumidos. Eis as provas que confirmam a presença de um urso-pardo em Portugal, uma espécie que não se via no território nacional há 176 anos. O animal que pode atingir 1,50 metros de altura e pesar até 600 quilos estará só de passagem e não deverá representar perigo para as populações – só para as abelhas.

O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICFN) confirmou já oficialmente o avistamento do urso-pardo no Parque Natural do Montesinho, em Bragança, junto da fronteira com Espanha.

Acredita-se que este urso pardo será um jovem adulto macho que integrará uma população de animais das Astúrias ou da Cantábria, no território espanhol. Ele estará de passagem por Portugal, como acredita o director do Departamento Norte do ICNF, Armando Loureiro, salientando que se trata de uma espécie errante e que é impossível prever o que vai acontecer.

“Este exemplar pode ficar cá durante um ou dois meses (naquela zona ou próxima); pode fazer 70 ou 50 quilómetros numa noite ou num dia; pode amanhã regressar para norte e fazer um movimento de regresso em direcção à Cordilheira Cantábrica e nos próximos um ano ou dois não voltarmos a ter cá nada”, explica Armando Loureiro no Público.

Também o investigador Francisco Álvares do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto considera que o animal estará só de visita. “Não me parece que os ursos-pardos se fixem em Portugal porque não temos habitats de reprodução”, salienta em declarações à Sábado.

“É muito provável que, nos próximos cinco anos, outros ursos-pardos visitem o País pontualmente”, acrescenta Francisco Álvares.

Todavia, apesar de provavelmente passageira, a presença do urso-pardo é “especial”, entende o investigador do CIBIO, sublinhando que “ter uma espécie tão icónica em território nacional é de celebrar“.

Armando Loureiro também releva que é um “muito bom” sinal depois de o último urso-pardo que viveu em Portugal ter sido morto em 1843, no Gerês, conforme os dados existentes.

“É um retorno de um grande predador” de uma espécie que “está extinta desde o século XIX”, constata Armando Loureiro. “Durante o século XX, por muitas razões, quase desapareceu da Península Ibérica e manteve-se na Cordilheira Cantábrica, aqui nos nossos vizinhos espanhóis”, afiança, notando que a população tem “subido”, nos últimos anos, e que haverá, actualmente, “cerca de 300 ursos”.

Este aumento na população de ursos-pardos resulta “dos esforços de conservação do governo espanhol e da Fundación Oso Pardo” que “têm realizado um esforço na recuperação do habitat” e que “têm brigadas especiais que procuram minimizar a mortalidade dos ursos, provocadas sobretudo por armadilhas de laços e veneno usadas pelos caçadores para matar javalis e lobos”, explica na Sábado Francisco Álvares.

O investigador do CIBIO espera que o Governo português se preocupe agora em “gerir o habitat“, em “minimizar conflitos e prejuízos que possam surgir” e em “informar e sensibilizar a população”.

“Em Espanha, as populações têm valorizado o urso, ao contrário do que acontece com o lobo”, destaca Francisco Álvares, relevando que “há produção de queijo com a pegada do urso e a gastronomia e hotelaria têm beneficiado da sua presença”.

Armando Loureiro também realça o potencial “de atracção para turismo da natureza” de uma eventual fixação deste “grande carnívoro em Portugal”.

Perigo só para as abelhas

E quanto aos receios das populações, pelo facto de o animal poder atingir os 600 quilos e 1,50 metros de altura, Francisco Álvares evidencia que os ataques a humanos são pouco prováveis. “Os ataques são mais comuns com fêmeas quando caminhantes se coloquem entre elas e as crias”, refere o investigador.

Já no caso das abelhas, o urso-pardo pode representar um caso sério. “Os ursos adoram mel e um animal assustado e com fome pode atacar os colmeias“, explica Francisco Álvares.

O urso-pardo avistado em Montesinho terá consumido cerca de 50 quilos de mel, conforme garantiu à TVI24 um dono de colmeias na zona, Luís Correia. Os apicultores podem tentar minimizar o problema com cercas eléctricas.

Entretanto, o ICNF vai continuar a monitorizar a presença do urso-pardo em território português, em parceria com as autoridades espanholas, com recurso a “armadilhas fotográficas” e com a análise de “vários indícios de presença: pegadas, dejectos e pêlo”, como constata no Público Armando Loureiro.

SV, ZAP //

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