A Comissão Eleitoral da Turquia decidiu anular os resultados das eleições locais em Istambul, ganhas pela oposição ao presidente Recep Erdogan no passado dia 31 de março, e deverá agora escolher uma nova data para a sua realização.
O partido de Erdogan conseguiu anular as eleições alegando que haviam participado pessoas que tinham sido banidas de o fazer e que milhares de nomes haviam sido retirados ilegalmente das listas eleitorais.
Ao New York Times, alguns analistas políticos, sob anonimato, disseram que Erdogan ficou “furioso” e que esta decisão da Comissão Eleitoral não tem uma grande sustentação documental e apoia-se, sim, “em teorias da conspiração” defendidas pelos homens próximos do presidente.
Na noite eleitoral, Erdogan fez um discurso um tom de aproximação, praticamente concedendo a derrota mas, segundo os analistas, terá sido pressionado pelo seu núcleo duro para fazer tudo o possível para não perder Istambul, centro da influência económica do país.
O parecer do organismo foi denunciado pelo Partido Republicano do Povo, que venceu o escrutínio na maior cidade turca, como uma tentativa de Erdogan em “desfazer a vontade do povo”.
Ekrem Imamoglu venceu por uma curta margem (13 mil votos) mas foi suficiente para levar o partido de Erdogan a ponderar o que significaria perder para a oposição a principal cidade do país. O Justiça e Desenvolvimento perdeu Ancara, a capital do país, e algumas importantes cidades industriais no sul da Turquia.
Mahmut Tanal, deputado da assembleia local pela oposição, descreveu a decisão no Twitter como “um assassinato da lei” e “uma mancha negra” na reputação democrática do país.
Erdogan domina a política turca há mais de 16 anos, mas com a economia a contrair depois da crise económica de 2018 (que fez a lira perder 30% do seu valor) muitos eleitores votaram pela mudança.
Nas últimas semanas, o Presidente turco tem atribuído a culpa pela crise económica aos “ataques” do Ocidente. “O objetivo destes ataques cada vez mais frequentes é bloquear o caminho que nos leva a uma Turquia maior e mais forte”, disse Erdogan num comício em Istambul.
Estas eleições locais e municipais foram as primeiras desde que Erdogan assumiu poderes extraordinários como Presidente, com a nova Constituição, no ano passado – desapareceu a figura do primeiro-ministro e todo o poder é agora do chefe de Estado.
Por esse motivo, estas eleições são consideradas como um barómetro sobre o apoio ao Governo. Cerca de 57 milhões de eleitores turcos foram chamados a votar em mil presidentes de câmara e 30 presidentes de outras tantas áreas metropolitanas.