Os grãos de café atingiram o menor preço da última década (e isso não é uma boa notícia)

O consumo de café nos Estados Unidos (EUA) está a bater recordes – assim como o custo por chávena – mas o valor dos grãos está em queda. Um quilo de café custa atualmente menos de um dólar na Bolsa Intercontinental de Nova Iorque, o menor preço em mais de uma década.

Segundo informou o Wall Street Journal, citado pelo Vox, uma queda nos preços do café não alterará os hábitos dos consumidores, mas é uma notícia terrível para os produtores de café, especialmente para as pequenas empresas. Para algumas, a queda acentuada do preço tornou a indústria insustentável, muitas vezes com sérios custos humanos.

O artigo apontou dois fatores-chave por trás da queda nos preços: o aumento da produção global – principalmente no Brasil – e a desvalorização da moeda brasileira.

O café, especialmente a variedade arábica, é uma planta delicada que só prospera em ambientes específicos. Praticamente todo o café do mundo é cultivado em países relativamente próximos do equador, uma região conhecida como “Cinturão do Feijão”.

O Brasil é o líder mundial na produção de café, seguido pelo Vietname, pela Colômbia e pela Indonésia. Em 2018, produziu mais de 3 mil milhões de quilos, segundo dados da Organização Internacional do Café. O Vietname produziu apenas 1,7 mil milhões.

Apesar do seu domínio nessa indústria, a moeda brasileira está em queda livre desde 2016, devido a uma combinação de recessão económica e instabilidade política. Em junho de 2011, um dólar equivalia a aproximadamente 1,6 reais. Hoje, um dólar equivale a aproximadamente 3,8 reais.

Devido ao facto de o Brasil dominar a produção de café, o valor do real afeta os preços globais desse produto, o que significa que a desvalorização da moeda está a atingir os produtores a nível mundial, cujos grãos estão a ser vendidos a um preço mais baixo, explicou o Vox.

Se há cinco anos o preço do café estava em ascensão – devido à escassez provocada por uma seca no Brasil e por uma epidemia na América Central – atualmente a produção já se recuperou (em parte porque outros países aumentaram a criação deste produto, numa tentativa de combater o domínio do setor no Brasil), havendo agora um excesso de oferta.

O governo colombiano, por exemplo, criou iniciativas para incentivar os agricultores a cultivar mais café. Mas, ao invés de melhorar a sorte dos agricultores, esse esforço contribuiu para uma saturação do mercado.

Alguns agricultores são forçados a lidar com a queda dos preços cortando os gastos com fertilizantes, pesticidas e outras substâncias que protegem as plantações, deixando-as vulneráveis ​​a insetos e doenças e comprometendo as futuras safras.

Os pequenos agricultores com menos recursos são os que têm mais a perder, explicou David Brooks, diretor da Percol, uma empresa britânica de torrefação de café. Agora que os preços estão tão baixos, os produtores gastam mais dinheiro na colheita e na produção do que na Bolsa Intercontinental.

Den late ku / Flickr

“Se um bom ano para um produtor de café significa uma safra saudável que é vendida por uma ninharia, e um ano ruim significa que uma parte substancial da sua colheita é afetada por secas provocadas por mudança climática e doenças nas plantas, que hipóteses têm os pequenos agricultores?”, questionou o artigo do Vox.

Para as empresas pequenas, que têm menos capital do que os seus concorrentes maiores, esses dois fatores são basicamente uma sentença de morte, referiu.

Os produtores de café cujos meios de subsistência estão a ser destruídos por uma combinação de mudanças climáticas e uma queda acentuada no preço dos grãos estão a desistir das suas propriedades e, em muitos casos, a deixar os seus países.

“Os centro-americanos estão a imigrar para os EUA e os africanos estão a ir para a Europa porque os preços do café estão muito baixos”, disse Roberto Vélez, presidente da Federação Nacional dos Cultivadores de Café da Colômbia.

Os preços do café praticamente não se alteraram para o consumidor, especialmente nas pastelarias e padarias, onde outros fatores – leite, açúcar, custos da mão-de-obra e o aluguer – são levados em conta no preço por chávena.

Porém, caso esta tendência continue, é provável que alguns agricultores desistam completamente da indústria, concluiu o Vox.

TP, ZAP //

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