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As religiões podem antecipar a ciência e trazer “múltiplos ensinamentos” sobre o sono

A religião, encarada como “uma emanação de hábitos e culturas dos povos e da sua adaptação ao ambiente onde vivem”, pode trazer “múltiplos ensinamentos” sobre o sono, “antecipando por milhares de anos a ciência moderna”, considera o presidente da Associação Portuguesa do Sono, Joaquim Moita.

Nos livros das religiões proféticas – Cristianismo, Judaísmo e Islamismo -, “a importância do sono está profusamente representada”, referiu, num comunicado sobre o encontro “Dormir bem, envelhecer melhor”, promovido pela Associação Portuguesa do Sono (APS) e o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC).

O evento, que decorre na sexta-feira, no Auditório do Conservatório de Música de Coimbra, visa sinalizar o Dia Mundial do Sono, engloba um diálogo entre cientistas e representantes das três religiões acima identificadas, no qual será debatida a forma como a Tora, a Bíblia e o Alcorão sublinham a importância de dormir.

“A medicina do sono é uma área do conhecimento com cerca de 50 anos. Hoje, é uma especialidade médica com desenvolvimentos brilhantes, que se estendem da identificação dos mecanismos celulares que regulam os ritmos biológicos – como a alternância entre noite e o dia – até à aplicação de novas técnicas diagnósticas e terapêutica, que permitem controlar a generalidades das doenças do sono que são extremamente frequentes”, referiu.

Segundo o presidente, embora o sono seja “um pilar estruturante de uma vida saudável” e terem sido “estabelecidas regras da vida quotidiana para atingir um sono repousante e eficaz”, ainda “não há um reconhecimento social suficientemente lato da sua importância”, apesar da “curiosidade e interesse terem aumentado nos últimos anos”.

A necessidade de dormir em condições de segurança para assegurar um dia ativo, continuou, “emerge como preceito nas três religiões”, com todas a darem “importância ao ritmo do sono e vigília, à obscuridade e à luz, à harmonia com a natureza e os outros seres vivos. O conceito de que a noite precede o dia é claro”.

De acordo com Joaquim Moita, antes da neurofisiologia atual, foram identificadas diferentes fases do sono – o adormecimento, o sono profundo e o sono dos sonhos – e estabelecidas normas ao longo dos séculos, como o decúbito lateral (dormir em posição lateral), que, sabe-se hoje, diminui os sintomas das perturbações respiratórias e cardíacas.

“A sesta está patente em textos sagrados. Não apenas a sesta curta de 20-30 minutos como forma de melhorar as capacidades cognitivas, mas também períodos mais prolongados de sono diurno. Sabemos que o sono está associado ao arrefecimento corporal, o que pode constituir uma estratégia da adaptação às temperaturas elevadas das regiões de onde as religiões são provenientes”, indicou ainda o presidente da instituição.

Estas são algumas das ideias que serão exploradas durante o debate, onde estarão, além de Joaquim Moita, o líder da comunidade muçulmana, Sheik David Munir, um crente e estudioso de teologia católica, Isaías Hipólito, um crente hebraico e antigo presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide, Carolino Tapadejo e a cientista Cláudia Cavadas.

O Sheik David Munir

No encontro será também debatida a importância de um sono com qualidade, em múltiplas dimensões: a higiene do sono das crianças e adolescentes – que originou um concurso de desenho nacional -, a síndrome da apneia do sono, a importância de um bom sono para um bom envelhecimento e as recomendações para todas as idades para um sono saudável.

Através da sinalização do Dia Mundial do Sono – organizado pela World Sleep Society -, as instituições portuguesas pretendem mostrar que “o bem estar físico, mental e social é melhor se dormir bem, não importa a idade”, sendo este um dos “pilares da saúde”, a que se juntam “a estabilidade emocional, alimentação adequada e a prática de exercício físico”.

Com entrada livre, o evento tem início às 14:30 e contará com diversas atividades. Na sessão de abertura vão ser entregues os prémios do concurso “Dormir bem, envelhecer melhor”, que a Associação Portuguesa de Sono promoveu, numa parceria com o CNC, junto dos alunos das escolas de todo o país.

Às 15:00 e Às 16:30 ocorrem dois debates, sobre o sono ao longo da vida e sobre a religião e o sono. Entre uma e outra, às 16:00, a companhia Marionet / Laboratório do Desconhecimento apresenta a performance “A máquina dos sonhos”, inspirada na Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono.

TP, ZAP //

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